Os Líricos, Os Realistas, Duas Cervejas, Dois Cafés e Uma Cidra da Moda : Debates Não Televisivivos




Então nós, que vivemos num país onde não é preciso um banco alimentar contra a fome, que não há bairros da lata, que nas nossas ruas não se vêem pessoas a passar a noite ao relento a terem como colchão uns papelões e de dia  a deambular sem destino. Sim, aqui neste país onde a educação e a saúde estão no topo das prioridades governamentais, onde os miúdos não desistem da faculdade por questões económicas. Não temos corrupção e um governo justo. Nós que temos casas condignas para os nossos idosos que passaram uma vida toda a trabalhar, que recebem uma reforma digna e humana...e acabam de dar na TV o quão bem estamos no rank no tratamento dos idosos...

...vamos receber refugiados que nem os países do Médio Oriente (ok, o Líbano vai receber alguns , mas precisam de gente para reconstruir o país e mão de obra barata é bem vinda) querem receber.

Da parte dos meus líricos amigos, diziam eles, que temos que ver o lado humano da situação (e eu vejo, mas dos dois lados) que eles vem de um país em guerra, com bombas e gente a morrer. Que eles em vindo para cá... é apenas por um período provisório, pois eles querem é voltar para lá. (posso rir?)

Diziam eles, que reconhecem que, se fosse ao contrário, não nos receberiam, não nos dariam o benefício de sermos como somos, mas sim a ter que levar a vida de merda que eles (e principalmente as mulheres) levam.

Eu gosto dos líricos, acho-lhes gente com imensa piada, embora sem um pingo visão realista, mas são divertidos. Tem um mundo particularmente colorido, cheio de My Little Ponny a vagar pelos céus, Ursinhos Carinhosos a darem abracinhos apertados e arco íris em cada manhã ensolarada.

E esta cena toda, pelo que parece, começou com uma foto do corpo de um menino numa praia em desembarque de quem foge da guerra. Eu que sou uma besta, uma realista de coração peludo e negro, uma pedra que não chora por dá cá aquela palha, me pergunto a razão pela qual isto só agora acontece. É que depois do genocídio do Sudão, daquela matança na Somália, das indignidades de vivência de muitos países africanos... houve muita gente a fugir, a nascer nos barcos a deriva, a morrer nas praias, houve muita pena e o assunto caiu no esquecimento.

À mim, que sou contra a vinda de refugiados, me apontam o dedo  como racista, embora tenha dificuldade de relembrar à estes líricos, que outras tantas crianças morreram nas águas do Mediterrâneo, tentando alcançar a costa italiana. espanhola ou grega...mas nunca apareceram em fotos, pois eram pretinhas.  Ou sou só eu que enxergo isso?

Vindo em barda como pardais a solta, entre estes refugiados coitadinhos hão-de vir em mistura gente que gosta de armar confusão, talento pra bomba e que vai se regalar com os nossos brandos costumes. Entre as crises (ohhh espera, não temos crises cá no país, é tudo flores, pérolas e miúdas giras) do SIS e SIED, feita na forma de poucos recursos materiais e humanos, faz-me pensar na forma como vai ser feita a triagem deste povo todo que chega cá a exigir um respeito que ainda não provou a ser merecedor... e dá-me medo.

Na Alemanha, acabadinhos de chegar neste último fim de semana, já começou a merda de exigirem que as mulheres (as alemãs, as que lá nasceram) andem com os braços e pernas tapadas para não provocar os refugiados, pois não sei se sabem, mas esse povo é frouxo e não é capaz de segurar os instintos, uns fracotes do catano... Nem vou falar sequer do barraco que este refugiados fizeram e dos estragos que deixaram por onde passaram. Isso é o de menos.

O que é absurdo é um padre de uma diocese aqui do país dizer que vai abrir as portas de casa que fazem parte do património desta mesma diocese aos refugiados. Que hajam uns tipos deslumbrados, que gostam de sair nas capas de revistas e andam com pouca visibilidade a darem a promessa de abrir a casa aos que chegam da guerra. Que um cretino ex-director da Cáritas, venha dizer que seria uma boa ideia os bancos oferecerem as casas que tiraram dos que ficaram sem emprego e sem forma de as pagar aos refugiados. E os que perderam as casas? Ficam bem? Ninguém oferece a casa ou um pedacinho na diocese?

Que eu, e mais o resto da população fodida deste país, que nem sabe bem como, mas ganhou uma dívida para com a UE e agora tem que a pagar sabe-se lá como... fica a saber que a mesma UE vai oferecer à CADA REFUGIADO SÍRIO 6 MIL EUROS. Mas que caralho, então que raio de balança anda a justiça a usar?

Mas os meus queridos amigos líricos, que acham que tudo há-de ser pacífico e que eles, os refugiados, vão adaptar-se cá às minis, as sandes de coiratos e ao Benfica, que se lembrem de umas coisinhas giras...

...enquanto a comunidade islâmica residente cá no país tem sido bastante integrada, vivendo pacificamente respeitando o país que os acolheu, não me parece que os que chegarão por cá venham com a mesma abertura mental e nem com o mesmo reconhecimento de estatuto de refugiado. Me parece, que, tal como na Suíça, hão de marrar em teimosias e exigir que as cinco chagas de Cristo saiam da nossa bandeira, como exigem que seja retirada a cruz da bandeira da Suíça.

Me parece que vão armar barraco nas escolas a exigir que se retire as aulas de religião e moral, (que a bem dizer é um catecismo light, pois a única religião que se dá a conhecer é a católica) pois agride as sensibilidades desta gente aberta ao conhecimento e nada nada bitolada.

E o que mais me deixa preocupada ainda... é como depois pessoas que se dizem pacíficas, que reconhecem o valor da vida, e tudo e tudo, muito espiritualizadas, acabem por defender a liberalização do porte e uso de armas. Do tipo... vamos fazer disto um filme de cowboys e andar com duas Colt no cinto.

Como em todo debate de mesa de esplanada, numa noite fria de Setembro já com chuva miudinha e chatinha a cair, saiu cada qual para seu lado, convictos das suas teorias e das suas sapiências. Uns com os óculos de sol de lente cor de rosa, outros sem grandes artifícios e mais  preocupados; cada qual levando consigo a ideia de um país que ainda nem sabe bem tratar dos cá moram, mas que hão de fazer uma bela figura lá fora a receber refugiados. Não temos condições boas para nós, mas há-de oferecer-se o melhor para quem há-de sempre exigir mais e mais e nunca satisfeitos.

E lamento profundamente à quem se deu ao trabalho de perder tempo a ver o debate televisivo dos dois candidatos ao próximo desGorverno. Aquilo é cada vez mais do mesmo...

Apareçam

Rakel.

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