In The Dark



Título de uma música de Nina Simone, o lado negro da força, o oposto da luz. Lá vamos nós outra vez no carrossel das alarvidades que vão ter rédea larga na Internet só por causa do próximo eclipse solar.

Não sei se lembram, mas no ano de 1999 houve um eclipse total do sol e foi mote das maiores cavalices possíveis: houve alunos que não foram à escola, pois os pais temiam as "radiações perigosas do eclipse", assim como os animais ficaram resguardados nas capoeiras, currais e afins, não fosse os ovos cozerem ou o leite coalhar. Houve até um apardalado na Áustria, que fez um barquinho ao estilo arca de Noé, pois segundo ele, o eclipse traria um dilúvio associado ao fim do milénio e todo Apocalipse atrelado com as pragas, maldições e catástrofes.

Por mais engenhocas que se possam comprar, por mais informatizado seja, não se pode tirar o lado cavernícola do ser humano. Parafraseando um outro bloguista, na verdade somos todos uns macacos de tanga, com um osso na mão como arma, temendo os astros e os ventos.

Houve o 2012, que segundo pensavam, seria o fim do mundo, com todas as hecatombes e flagelos possíveis, uma tempestade solar que iria colocar de pantanas as comunicações, os meios aéreos e tudo e tudo. E veio-se a ver que não foi muito diferente dos outros anos. Por outro lado, enquanto meio mundo clama que estamos em aquecimento global, que vamos ficar a viver como camelos no deserto, na verdade estamos naquilo que chamam de tempo intermédio de uma outra idade do gelo, mas sem Scratch e a sua bolota.

Nostradamus e os sinais do fim dos tempos, os fervorosos testemunhadores de um deus separatista e pouco pai, os dos cultos alienígenas com actores como cartão de visita, todos aproveitam este normal movimento dos astros e as cagadas das acções que resultam em reacções, para colocarem  o medo ancestral das massas em modo de alerta. Oportunismo que vive da ignorância do homem moderno, do peso de consciência de quem a tem e o aproveitamento do lado mórbido que toda gente tem. Veremos quantas mais predições as revistas das teorias das conspirações hão-de jogar cá pra fora.

Falando sério... somos uns bichos cheios de medos, com os mesmos temores que os nossos antepassados das cavernas e pedra lascada, temendo os movimentos dos astros e os humores do clima. Mas enquanto os demais apavoram-se, deixam-se embrenhar nos ditos catastróficos das profecias, continuo a apreciar cada tempestade relampejante, cada fúria do mar ou mesmo o espetáculo oferecido por chuva de meteoros e os eclipses. Olhar para o céu, aperceber-me de cada mudança, de cada novidade de cada cor, será talvez a melhor maneira de perceber que, apesar de sempre o mesmo céu, nunca é igual... e tal como todos nós, aberto às descobertas e, ainda assim, guardando mistérios.

Apareçam

Rakel.

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