Daqui Até ao Verão...



...supondo que há Verão, serão uns quatro mal medidos meses. Quem abusou no final de ano, enfardou feito uma lontra com a desculpa do frio e da precisão das calorias, quem deu em tentar receitas novas, sente agora um grande apelo em começar a emagrecer. Sim, já que isso de ter chicha a mais é considerado out, fora de moda. Não estou a falar de obesidade, de trinta quilos a mais... são aqueles tais cinco quilitos alojados em sítios estratégicos e pouco funcionais. Há que ficar em esplendor de capa de revista, nem que seja na praia fluvial, torrando a pele com carradas de U.V, e comendo talinhos de cenoura...

Dietas, dietas... já ouvi falar de todas e mais algumas. A das proteínas, do Abecedário, do abacaxi, do gengibre, todas elas augurando uma perda de quilos em poucos dias e corpinho perfeito para o bikini ou calção de banho. Houve a época das bagas, uma vermelhuscas que andaram praí a ser vendidas como o mais absoluto sucesso. Agora nasceu a ideia luminosa de inventarem a Dieta do Paleolítico...

... e ponho-me aqui a pensar...

O homem do paleolítico era um colector-caçador, isso quer dizer que não cultivava nada mais do que pulgas e piolhos no corpo, que a bem ver, com a herança dos símios, catavam uns dos outros e comiam esses bichinhos, proteína a la carte por última análise. Mas pronto, não compravam nada, agarravam o que podiam, quando havia para agarrar, diga-se de passagem. A caça não ficava ali a espera deles, tinham que andar quilómetros e mais quilómetros... a pé. Tirando esse facto indiscutível, quem não trabucava, não comia, atirando por terra qualquer tipo de um trabalha e todos comem. A esperança de vida nessa época maravilhosa e saudável era de trinta anos.

Bagas, que eu saiba, não nasciam o ano todo, assim como os frutos secos; mel e frutas era a sorte grande disputada por outros animais maiores, mais rabugentos e com mau feitio. Tubérculos a mesma coisa, disputado por antepassados dos ursos, mais possantes e mais irritáveis. Nós, na base do olhando friamente, somos uns animais amaricados, sem garras nas mãos, sem pêlo grosso ou couraça, sem presas grandes e perfurantes. Com o humano era na mocada e porrada mesmo, saindo ligeiramente a perder se iam sem um grupo mais ou menos jeitoso e talentoso para a caça. Escalavam, trepavam árvores, quando saía a sorte grande, lá tinham que carregar a peça de caça até à caverna ou "aldeia" familiar.

Não eram obesos?? Como saberão os nossos ilustres paleontólogos? É que pela aquela estatueta da mulher venerada como a Vénus pré-histórica... a tipa era pro lado do cheinho. Fofucha, ou como diria uma amiga minha, o problema dela não era ser larga (leia-se gorda), mas sim ser baixa... No entanto, é credível que essa gente fartava-se de caminhar, passar frio, passar fome ou no mínimo, a tal dieta da pulga e do piolho. Tinham que migrar para territórios de caça de Verão, procurar abrigo mais consistente no inverno. Lutar pela protecção das fêmeas e crias, e pela sobrevivência do grupo.

No século XXI, um esperto então se lembra de resgatar a dieta dos antepassados neandertais... olha que lindo serviço...

Então a moçoila com mais três quilos, que acha-se uma pata de tão gorda, olha-se no espelho e decide fazer a dieta do paleolítico, comendo nozes, bagas de amoras, raizes (e ela vai-se agarrar ao pau de mandioca? com tanta caloria?), tubérculos (ahhh pois, beterraba, um óptimo combatente contra a anemia, mas é daí que fazem açúcar também), vai beber só água, de garrafa plástica é mais um bocadinho para degradar-se daqui uns mil e tal anos, ou a torneral que, ou há-de estar branca de cloro ou então tão dura que dá pedra nos rins. Vai duas vezes por semana ao ginásio fazer zumba, depois há de dar cabo da coluna com saltos quinze, betumar a cara com meio centímetro de base, mais o resto todo do make up. Tudo muiiiito natural e acertadinho. Certo?

Querem fazer a dieta do paleolítico? Cara lavada, sem pinga de pintura de guerra. Abandonem de vez o banho, peguem chuvadas (quando as há), deixem as chaves do carro em casa,  e vão para o trabalho a pé. É longe? Bicicleta, vá, tolero bicicleta, e daí acabam-se as noitadas, pois se moram no Montijo e trabalham na Baixa é melhor levantarem da cama às quatro da manhã. Cama? pra quê cama... esteira de yoga no chão chega perfeitamente, no paleolíco dormia-se no chão mesmo. Comecem a fazer as roupas em casa, mesmo que sejam tão aselhas como eu sou com uma agulha na mão. Mãos ociosas procuram a comida como distracção, enquanto tem as mãos ocupadas em moer o trigo ou o milho não vão ter vontade de comer. Comam ovos crus, que era como essa gente fazia quando apanhavam um ninho dando sopa. Se havia cria em gestação dentro do ovo, era como ganhar um brinde do ovo kinder e por isso, mais proteína. Pé no chão, massajar esses pontos de Do-In melhora uma data de coisas na saúde. Ok, há uma data de cavernícolas que cospem para o chão, que jogam pastilhas elásticas e todo o conteúdo de borga no chão. Mas pensem... pior eram os nossos antepassados mais distraídos a pisarem uma bosta de mamute.

Acho uma piada imensa essa mania de transportarem as dietas e modos de vida antigos, mas a parte aparentemente fácil e milagrosa. O resto é colocado na prateleira, até mesmo a pré-disposição genética. Admito que sinto um certo encantamento pela vida mais simples, mais bem aproveitada e menos comprada; acho mais piada que seja eu a fazer as luminárias cá de casa do que comprar feito, ou fazer os sabonetes ou outras coisas que sei o que levam e como são feitas. Mas outra é achar que pelo simples facto de comer bagas e roer umas nozes vai fazer perder aquele pneu que alojou-se sem licença na barriga. Ou que que as ancas vão encolher por obra e graça de raízes. E vão.. vão na conversa de que o 36 é o tamanho ideal para uma mulher e que todas as outras que tenham a desfaçatez de usar mais do que isso, são umas baleias que encalharam na praia.

Gostaria de saber ao certo, quem será essa sumidade que estabelece o melhor padrão de ser e estar na vida, pois certamente há de ser praí a coisa mais linda que já pisou na terra. Ou não.

Apareçam

Rakel.

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