Das Pesquisas... do Comer



Temos no nosso corpo 70% de água, o que nos coloca muito perto das alforrecas em questões líquidas. Nas questões ditas saudáveis, cá temos sempre a lenga-lenga costumeira do beber água para ser saudável... e levantam-se muitas questões, muitas delas debatidas anteriormente neste blog.

Um dos meus superiores costuma atirar sem dó nem piedade, neste alvo ambulante que sou, de cada vez que me vê com uma latinha vermelha e branca na mão. Disseca horrores e desgraças sem fim deste meu hábito antigo, aproveita o ensejo para cantar odes e louvores à água, a torneral, pois segundo ele a mineral engarrafada também é funesta, já que leu um assunto na net (e por isso carregado de credibilidade). Faz aquela cara de desgosto e sorriso paternalista de alguém que percebe o mal que ando a fazer à mim mesma, que já devia ter idade para ter juízo, e assim foi, até ao dia que ficou de gatas, no meio da sala dos técnicos, diante de uma crise renal agudíssima. Veredicto do médico: culpa da água torneral, e há que beber uma certa água engarrafada (das tais funestas segundo a net) para descalcificar as tubagens. Antes dele, um colega que já foi nadador de competição, e depois dar-se conta de uma certa curvatura abdominal, resolveu diminuir a pancinha a toco de água... um verdadeiro camelo a beber litradas. E lá está, teve uma crise renal cavalar e ficou engraçadito com aquele tom esverdeado que só uma dor aguda nos dá.

Malta de desporto, que bebe água, farta-se de suar as estopinhas, e com as mesmas, ou piores maleitas do que eu. Será por isso que diverte-me, quiçá será das coisas que mais gosto, estas viragens que andam por aí do trocar de cena entre os vilões e bonzinhos da área das pesquisas. O ovo, esse pacato alimento rico em proteína e colagénio, já foi enaltecido e mandado para o cantinho do castigo, claro está, conforme a época e as pesquisas.

Chocolate, o mais próximo do pecado original, tão culpado pela acne como foram os... digamos, trabalhos manuais solitários, tão culpado pela obesidade como as sandes de couratos, é agora visto como o protector do coração e demais benesses, elevando-se perto da panaceia Universal. Para dizer a verdade, até acho que sim, o chocolate é um remédio que, desmerecidamente foi também colocado no cantinho dos mal comportados.

O azeite começou por ser a melhor gordura vegetal, e digam todos os povos mediterrâneos sobre isso, para passar a levar um sinal de cuidado que coincidiu com as novas culturas da soja e afins. E eis que a soja, esse feijão redondo e de gosto peculiar (chamo assim para definir entre o esquisito e horroroso) passou a ser a gordura melhor, a melhor fibra e o melhor leite a ser bebido. E graças às leis Comunitárias, foi um rega bofe de jovens agricultores a plantar soja (quando plantavam alguma coisa) pagos para arrancar oliveiras e uma indústria totalmente virada para o feijão saudável. Ora viva uma gaita.

Por outro lado, vejo cada vez mais gente colocando calções, sapatilhas, uma camisola confortável para correr ou caminhar pela cidade. Numa inteligência que não alcanço, preferem fazer ao longo de estradas ou ruas bem movimentadas. Penso eu que com tanto fumo de escape, acabem com um pulmão carregadinho de fumaça e pouco oxigénio na mistura. Deve ser por isso, que na Capital de Distrito, há um jardim com aparelhos para exercício mesmo na beira da avenida mais movimentada e em frente do terminal de autocarros. Isto realmente é muito à frente para minha acanhada inteligência...

Uma instrutora de Zumba, que num movimento nada arrojado dá volteio que lhe custa uma lombalgia, baixa, dias de estaleiro e uma data de injecções no rabiosque. A outra dos retiros de yoga, que coloca o pé atrás da orelha, que rigorosamente controla cada caloria que mete na boca, pega nuns sacos de compras e fica travada a meio caminho e no dia seguinte faz uma visita ao hospital... e uma lombalgia aguda atira-lhe ao colorido mundo dos injectáveis drunfos.

Descubro, vejam lá estas modernices, que afinal, esta que vos escreve é uma adepta do flexitarianismo, que trocando por miúdos, é aquela pessoa que apesar de gostar e comer muitos vegetais, inclui na sua dieta a... oh meus deuses, essa maldita carne. As coisas que vou aprendendo são inimagináveis. Confesso que vez por outra sinto um certo apelo pela isenção de carne e do peixe, não me dou bem com leite, mas desde que seja condensado a coisa vai, para mal dos meus pecadilhos de boca. Redescubro sabores interessantes de partos tradicionais de outros países, que de acordo com os tempos menos abonados, que foram capazes de fazerem pratos diferentes, bons e apelativos tanto no sabor, como na apresentação.

Pesos na consciência pelas coisas que como? Vou debulhar-me em lágrimas por causa duns jaquinzinhos fritos com arroz de feijão e salada? Passam-me logo. Bebo da latinha vermelha e branca, como também uma cerveja fresquinha ou um Lambrusco borbulhante. Será por isso, que hoje em conversa com uma colega que fez umas broinhas de café de comer e chorar por mais, que descobri uma gourmet de sofá como eu. Que graça há de ter numa tarde de chuva, livro, chá e sofá, sem nada para roer ou entreter a boca? Então, passou-me uma receita que leva chocolate derretido e flocos de arroz estufado (na falta dele aquela farinha para fazer papa que acaba em "tum com mel") que quando começa, pelas palavras dela  "a ficar assim um betume grosso", está no ponto para ser comido às colheradas.

Vendo pelo prisma das pesquisas, chocolate e cereais será então uma forma saudável de entreter a boca enquanto cultiva-se o cérebro na leitura de um bom livro. O melhor de dois mundos, intelecto e saúde, abafados na mantinha e no sofá em fim de semana chuvoso.

Das pesquisas que falam dos dedos do pé, do tamanho das orelhas, da ínfima parte do átomo até a última descoberta feita em Marte. Dos anéis de Saturno, dos sucos verdes depurantes, da baga que emagrece ao composto de fibras naturais que faz crescer as mamas... as mais avançadas e espectaculares inovações tecnológicas e... nada resolve mal de amores. E isso vai voltar a ser um novo post aqui no bolg.

Apareçam

Rakel.

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