Há sempre a tentação de debruçarmos-nos sobre a nossa existência e perguntar, afinal, qual o sentido da vida? Será que somos apenas uma bolinha nas mãos do destino, esse sem vergonha com uma tendência de mandar bolas na trave, ou seremos apenas o resultado das nossas acções e vontades?
Em caso de momento etílico, há quem se deite a pensar "de onde viemos, para aonde vamos, quem somos afinal?" Prefiro o lado no sense dos Monty Python e o filme O Sentido da Vida, que mais não é que um percurso mais ou menos longo em que acabamos todos, no fim das contas, nas mãos da dona morte, e tudo por causa de uma mousse de salmão cheia de salmonelas. Pode ser isso ou não. Quem sabe?
Somos uns insatisfeitos, pedimos uma data de linhas de conduta, fazemos de nós mesmos aqueles que sabem melhor do que ninguém aquilo que queremos e precisamos. E vai daí que sempre nos calha nesta vida, de nos aparecer certinho e direitinho, exactamente aquilo que queríamos. E porra, não nos sentimos satisfeitos. Ok, ok, naquele momento, naquela hora, aceitamos e concordámos que isso era o melhor para nós, na justa medida das nossas necessidades. A gaita, é quando se chega nesse ponto, nessa concretização tida como necessária... e não chega, não serve. E agora tudo mudou.
Logo de caras, destino é algo muito fácil de apontar como resultado nos nossos infortúnios, um cabide velhinho, mas que dá imenso jeito de aproveitar. Quer dizer, nós traçamos um caminho que consideramos o melhor e mais próprio da nossa natureza. Depois, colocamos um pé a frente do outro em busca da meta desse caminho. E chega-se no final, lerpado, injuriado, desgraçadamente revoltado, quando o caminho escolhido e o percurso foi de inteira responsabilidade de quem o traçou e escolheu. Mas não, tudo o que aconteceu foi obra do destino, esse irremediável propósito divino que fica escudado entre dogmas e num fatalismo beirando a tragédia. Nos escolhemos o caminho, nós traçamos o objectivo, a meta é da nossa inteira responsabilidade. Foi para isso que trabalhou, evitou ou até mesmo resguardou, foi tudo com um determinado fim.
Mas esse fim não é determinante, muito pelo contrário. Foi apenas o chegar num determinado ponto de uma longa recta. Depois disso, é começar a traçar outros rumos e outros caminhos, mas com a devida atenção naquilo que pede, deseja ou pensa que precisa. Entenda que... sim, mudamos, sim queremos coisas diferentes e sim, precisamos de outros desafios para não começar a criar mofo. Não é sinal de fraqueza, não é sinal de inconstância, mas sim, um sinal de que é capaz de mudar, de recusar e começar de novo. Tantas as vezes que sejam precisas. Sempre um começo novo. Não, não pense que isso cansa, o que realmente cansa é esse tédio mascarado de normalidade.
Vamos aprendendo com o tempo que coisas são mesmo só isso: objectos inanimados, ferramentas dos nossos dias e que não precisamos ser escravos delas, nem viver a vida apenas para te-las. O que faz um lar é o que sentimos dentro de um lugar, e não a casa em si. Que os pequenos detalhes são surpreendentemente muito mais significativos. Entendemos que as palavras ditas hoje perdem a sua consistência com o passar do tempo, que longe dos olhos, do coração, as palavras morrem aos poucos, perdem o significado e a sua importância. E isso só acontece quando elas nunca passaram apenas de palavras, ideias verbalizadas mas pouco vividas. Ou de uma teimosia cega. Por isso é que as pequenas acções são mais marcantes, o saber de ser a constante na equação, e que mesmo no não, continua a ser um sim a existir. E as incertezas acontecem sem pedir licença. Essa é que é essa...
Poucos chegam-se à frente e assumem que mudaram, que precisam de novos rumos, teimam que tudo continua igual como antes, embora NADA seja como antes. E deitamos a pensar em que raios se passou, qual o motivo de o dito por não dito ficar entalado na covardia. E lá está, pensamos nas nossas culpas, que tudo aconteceu por causa de uma tomada de posição nossa, que ao fim e ao cabo, não é culpa de ninguém, nem do malfadado destino. Tomar o provisório como definitivo é o maior dos nossos problemas. Se o nosso querer de antes já não igual ao de hoje, como vamos perfilar o querer dos outros numa linha recta?
E eu que já este filme a rodar em tantas outras pessoas, que passou pela minha tela também, e por isso, não me admira nada que continue a passar em reprise em outras vidas...
Se a vida nos parece a viajar em sentido proibido, é por que aquela meta que determinamos ainda não é aquela que nos cabe realmente. Pois se chegou e não sente aquela satisfação esperada, quer dizer que o caminho ainda não acabou e que apenas estamos a aprender a lá chegar.
O sentido da vida, não sei ao certo se será isto, mas acredito que seja o acumular de experiências e saber os limites das nossas capacidades. Nada acontece por acaso... mesmo nada.
Apareçam
Rakel.
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