Disto das facilidades:
GPS
Outro dia, por questões de trabalho, fui com um colega meu até Pombal e Sertã, colega este munido de GPS, não fossemos nós nos perder pelas intrincadas estradas nacionais (a firma recusa-se a pagar via verde ou então portagem) e não cumprirmos a escala. Eu, meu colega e duas estagiárias... num dia de chuva torrencial, visibilidade até dois metros.. e na continuação da sovinice da direcção, com as escovas do limpa para-brisas já sem borracha. Enfim, em começando o caminho entreguei a alma ao criador, redigi mentalmente um testamento e lá fomos nós. A meio do caminho já eu andava a xingar-me e odiar o facto de ter deixado na firma o meu maço de mapas.
Perdidos no meio de nenhures.
Com GPS.
A culpa em si não é do aparelhómetro, mas sim do meu aselha colega que esqueceu que de vez em quando é preciso actualizar o programa, pois neste país no que não investiu em educação, investiu em asfalto e rotundas. Meus mapas, de papel, daqueles que nunca se dobram na forma inicial e original, são actuais e nunca, mas nunca me deixaram na mão. O que salvou a situação neste caso, foi uma das estagiárias ter um telelé todo Iqualquer coisa, e que conseguiu um GPS actualizado. Meu doce Krishna... que dia do cão...
Livros
Ela faz Jump, Cross, Pump e Zumba... zumba está para a moda de hoje como esteve a Dança Jazz nos anos 80. Se houver um open day de zumba em Curral de Moinas ela vai, de qualquer jeito, faz trocas de horários com os colegas, organiza boleias e mais um par de botas. E sim, ela é uma das muitas que pegou aquela tendinite de dedo indicador de tanto puxar ecrã touchscreen para ver o que se passa... no FaceBook. E é certo e sabido que, enquanto converso com outra pessoa, levo com aquele cotovelo pontudo e ossudo (graças a Zumba) nas minhas costelas. A razão é que nunca sabe o que há de responder num qualquer pedido de amizade, ou responder ao piropo de engate facebookiano. No máximo dos máximos, ela larga um LOL. O coiso, é geralmente algum objecto ou pessoa do sexo masculino que a cachola não alcança o nome. Coisinha, geralmente é uma rapariga ou amiga. Coisou, foi algo que alguém fez e ela já nem sabe bem o quê. E sim, ela já usou na mesma frase Ele coisou a coisa.
Misericórdia...
Mas sim, ela queixa-se que não encontra ninguém interessante, e que eu, que conheço tanta gente, tantos homens interessantes (tantos não, alguns e interessante está sujeito a discussão sobre o assunto), que eu bem lhe poderia apresentar um destes da raça acima da média, bem falante, culto, educado para fins de amizade ou algo mais...
Não tenho coragem. Francamente amarfanha-me o cérebro pensar apresentar alguém à esta colega que consegue fazer da coisa o substantivo, adjectivo e verbo. Nem à ela quero fazer passar a humilhação de ver no rosto do outro a decepção de tanto ar cerebral. Expliquei, com jeitinho (muito, mas muito mesmo para não ferir sentimentos) que ela precisava primeiro adquirir alguma bagagem cultural e verbal. Que lol não é resposta que se dê, que livro... bem viajamos, aprendemos lugares novos e algumas respostas que nunca pensamos nelas. incentivei o uso da biblioteca, que a bem dizer, fica há uma dúzia de passos onde trabalhamos. Até revistas, qualquer coisa, menos aquelas frases motivacionais pindéricas do face. Em finais de Junho ela aparece-me com um livro que iria começar a ler: Uma Ponte Para a Eternidade de Richard Bach. Ok, linda menina.
Estamos em meio de Setembro, certo?
Nem o abriu. Mas não falhou um único evento de zumba da região e espera encontrar nesses locais a sua alma gémea que também goste de zumba. No meu ver, assim só estragaria uma casa, embora a felicidade do casal fosse plena. E com uma corrente de ar do catano...
Mas acho que, acima de tudo, o erro foi meu. Eu deveria ter mostrado à ela o filme que há cá em baixo. No entanto teria que explicar-lhe que o sistema adapta-se à qualquer tipo de livro... mas eu já ficaria contente que pelo menos ela lesse um livrito, nem que fosse o Harry Potter. Mas não, o maior desespero desta mulher é ficar sem bateria... e longe de toda gente que já está longe em todos os aspectos.
Não sou contra a tecnologia, mas contra a dependência dela. Num país como o nosso, onde editoras fecham que a venda de livros caem a pique, não me admira nada que daqui uns tempos, tenha que ser necessário ensinar como manusear um livro.
Apareçam
Rakel
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