No Mundo da Lua



Dentro do normal, seja lá isso o que for, posso afirmar sem qualquer tipo de dúvida que sou uma despistada. Cabeça no ar, apardalada, distraída, venha o adjectivo que vier, é mais ou menos por aí. Consolo-me a pensar que esta característica encaixa no perfil dos génios, no qual, parece que faço parte.

Esqueço do chapéu de chuva nos carros que me dão boleia, esqueço de tirar o perfil de silêncio do telemóvel quando as reuniões acabam e depois esqueço aonde foi que larguei o desgraçado. Esqueço os anéis na casa da Stela, assim como óculos de sol (e por isso mesmo compro dos baratuchos, já que já tive um pequeno problema com um par de Bollé, esquecido num balcão de papelaria) largados a granel por aí. As chaves? Costumo esquecer dentro de casa, o que torna o retorno sempre numa animação sem fim. Pois assim que acabo de bater a porta a caminho do trabalho, descidos  degraus da escada, eis que vejo que esqueci do cartão de identificação/ponto, tenho que bater na porta, mesmo que seja feriado, cedo e tentar que um dos filhos abram a porta. Meio sem graça, lá entro e vou buscar o cartão e ouço o mesmo discurso:

Levas as chaves?

Tens a carteira?

Já levas o telemóvel?

Confirma lá se tens tudo contigo...

.... a frustração de ser lembrada pelo filho destas coisas todas que fazem parte do meu ritual de sair de casa é enorme. Por outro lado, fica patente a minha falta de apego às coisas, ao material e supérfluo, da mesma forma que, o que realmente importa e não esqueço são as que mais falta fazem. Digamos então que compensa um lado pela falha de outro.

O ser desligada e com a cabeça a rondar mil pensamentos faz com que as coisas que guardo muito bem, acabe por dar por perdidas; guardo-as tão bem, mas tão bem, que nem eu mesma sou capaz de encontrar. A não ser que procure alhos e acabe por encontrar bugalhos, já aconteceu de procurar um livro e encontrar os pavios para fazer velas... Já não é inédito entrar no carro de trabalho e ao trançar as pernas, dar-me conta que vesti uma peúga preta e noutro pé uma vermelha (e não, não sou do Flamengo). Entre teorias, cartas de amor da companhia do gás e uma data de coisas por fazer, não é de estranhar que a minha pré-disposição para o despiste suba em flecha. Mas isso sou eu, assumidamente despistada, cabeça no mundo da Lua.

Então, dou por mim a pensar como raios aviões desaparecem assim do nada dum aeroporto, não um, mas onze...ONZE aviões de rota comercial. Não são propriamente um molho de chaves, ou um telemóvel da era mesozóica, nem um chapéu de chuva. Um avião não é propriamente algo que caia do bolso, que fique no meio da taça de tranqueira logo no hall de entrada da casa. Não fica em cima do frigorífico na casa da amiga aonde se vai fazer uma jantarada. Nop, avião é algo grande, nada portátil e bastante ruidoso. Um já faz estragos que cheguem... imaginem onze deles.

Dizem as vozes de quem sabe, que estes onze aviões serão usados em atentados (jura? e eu pensando que seria um antecipado 1º de Abril), já que o 11 de Setembro aproxima-se rapidamente e parece que querem lembrar do caso em grande. Talvez por isso, uma das minhas mais disparatadas teorias, segundo consta, tudo que penso é disparate, se prende ao aparecimento daquele avião que desapareceu e nem uma mala a boiar deu o ar da sua graça. Pensem bem, quando o furacão Katrina arrasou com a vida de muita gente... meses mais tarde, alguns despojos apareceram nas praias do Japão, Brasil.

Por outro lado, depois do incidente Fukushima, terramoto de magnitude 8,9 e um tsunami logo a seguir, alguns objectos do nipónicos perdidos no meio da tragédia alcançaram as praias americanas. Bolas de futebol, telemóveis... mas daquele avião, mesmo com ajuda da marinha australiana e de meios sofisticados, nada apareceu. Nicles. O que me fez logo na altura suspeitar que o avião não caiu, mas sim tenha sido subtraído e em voo de baixa altitude, desviado fora do controlo dos radares. Estará, quem sabe, escondido numa ilhota qualquer, a espera de ser um chamariz ou isco de diversão para uma coisa maior.

Embora isso seja uma daquelas coisas parvas que vou pensando, enquanto esqueço as chaves dentro de casa,  que visto o casaco ao contrário e fico chateada em pensar aonde raios estão os bolsos, que enquanto penso numa solução para um caso bicudo meto os guardanapos dentro do frigorífico... ainda não consegui o talento de perder algo assim deste tamanho, ou desta responsabilidade. Como é que onze aviões desaparecem? Voando pelo ar?

Apareçam

Rakel.


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