Os indígenas andam alvoraçados...
Depois de um assinalável sucesso do post sobre tribos urbanas (um dos posts mais procurados aqui neste humilde blog), resolvi fazer uma actualização das novas tendências sociais e culturais deste nosso mundinho velho e sem porteira.
Digamos que a inspiração nasceu depois de ter andado um Verão inteiro a ver as mulheres com sapatos iguais ao do Frankenstein, com a única diferença da sola branca, debruço-me com jeitinho sobre o assunto moda e cultura.
Com jeitinho, pois peguei mal nuns caixotes e agora tenho aqui um dorzita nas costelas.Desengane-se, isto não é para separar uma coisa da outra, cultura e moda é tudo a mesma coisa. Os tempos mudam com as mentes (ou a falta de recheio nas mentes) e reflecte-se no que se veste, ouve ou até o que come.
Comecemos então pela "cultura" SWAG. Montes de miudagem que se põe a discutir o que é swag ou não, quem é mais ou menos nesse intrincado mundo. De caras, o termo swag começou ainda na década de 40 do século passado, destinado a encriptar um determinado grupo que poderia ficar discriminado perante a sociedade. Swag significava Secret We Are Gays, portanto, entre murmúrios e bilhetes inocentes, ficava rabiscado nas agendas um qualquer evento swag que os senhores bem casados poderiam deixar a vista sem qualquer prejuízo.
Nos dias de hoje, swag pegou outros significados que, me perdoem os seguidores, não encaixam bem. Isto de ser Silver, Wine, Art and Gold...como encaixa nesta cachopada toda com gorros ao estilo dos 7 anões, blusões desportivos, óculos de sol a tapar mais de 2/3 da cara ou então, os bonés na cabeça e fotos a fazer beicinho? O famoso cu de pata. Com o vocabulário onde bué e lol é praticamente a virgula das frases e que a arte maior é a forma como pintam as unhas ou empinam os topetes? Determinante de uma faixa etária susceptível de ficar magoada se não tiver o título de swag, e que afincadamente torram a paciência dos pais com trezentas fotos em qualquer lado com beicinho e dois dedinhos no V de vitória. Bonés, sempre de bonés, de biquini, pelados, mas de boné e fazendo beicinho cu de pata.
Agora, na faixa quase adulta, temos esta nova tribo denominada Hipster, tribo esta que deambula entre o sem tecto chic ou o retrô desconchavado. Direi até que é uma das tribos que mais me deixa intrigada e que mais me faz observar e tentar chegar numa conclusão aceitável. Senão, vejamos...
O Hipster usa daquelas barbas que deve meter uma certa impressão quando o dono dessa pilosidade abusiva toma sopa de feijão com couves, ou até uma canja com massinha de letras. Bigodes e barbas farfalhudos ao estilo vitoriano, ou então bigode estilo actor porno dos anos 70, enquanto o cabelo balança entre um estilo militar ou então o grunge nervoso, ou que meteu os dedos na ficha eléctrica depois de tomar banho. Óculos de ler estilo nerd mas com cores, mesmo que não precise de óculos usa-os para compor o estilo hipster. Tirando este facto, os homens usam calças agarradinhas ao corpo, o chamado slim., barras subidas como se fosse passar a enchente e sem meias, pois meias são coisa de burguês e muito quadrada. Ou então é mesmo tara por enchentes...
Gravata borboleta é uma opção masculina, mas os casacos não são vestidos mas metidos nos ombros, não há regra de cores e padrões: se as calças tem flores pode muito bem usar a camisa aos quadrados que ficará sempre bem no estilo hipster. Culturalmente falando, eles assumem-se como independentistas: cinema independente, bandas alternativas, resgatam a macrobiótica e todas as coisas saudáveis e tidas como naturais, Mesmo que a chuva seja carregadinha de metais pesados e regue a sua horta sem agroquímicos. Nas raparigas a coisa fica mais ecléctica e varia entre uma Madonna em começo de carreira e a nerd marrona.
O estilo é tão, mas tão de vanguarda que vai buscar então lá atrás, dois séculos para ser mais precisa, estilos de maneirismos de vida. Dentro deste movimento moderno, vamos então ter que ir ao sótão da vovó remexer nos baús para recuperar algumas coisas que serão um must hipster. Aqui a vanguarda é ser retro, algo que não bate bem, certo?
Dentro dos saudosistas, temos então o estilo Steampunk e o Dieselpunk. Duas épocas distintas, portanto merecem duas explicações.
Steampunk será então um grupo que baseia-se num conceito de que o progresso ou futuro será feito na pós extinção dos combustíveis fósseis e uma certa nostalgia dos romances de Júlio Verne. Um resgatar de um certo romantismo que já houve na década de 80 com os New Romantics, mas que desta vez, são mais ousados. Corsets, Casacos com montes de fivelas, cabelos e vestidos naquela beirada de fim do século XIX e das máquinas a vapor. Plena revolução industrial, dos espartilhos e anquinhas, dos bigodes revirados, cabelos curtos e riscas ao meio, ou então longos e ao estilo Óscar Wilde.
Os Dieselpunks são já uma tribo virada para o começo do século XX, lá pelos idos das décadas de 30 e 40. Buscam o estilo militar, brilhantina no cabelo, casacos estilo aviador e para as mulheres, aquele estilo de boca vermelha, cabelo apanhado em coque trabalhado de diva de cinema da época. Há uma insinuação do velho estilo militar da Segunda Grande Guerra, quando não passa directo para a aceitação do estilo.
Tanto um grupo como outro tem literatura e música feita na medida destes gostos. Algumas bandas começam a ter alguma projecção, a banda desenhada e os filmes começam a surgir.
No apanhado geral, e olhando bem com olhos de ver e desapaixonadamente, apenas dão, novamente, uma nova versão do que foi ou existiu. Não há uma verdadeira criação.
Mas acho que agora, merecidamente, temos que dar algum tempo de antena à uma figura que tem as suas várias versões, dependem do clima, do país, da área geográfica, mas o PINTAS é uma personagem que merece que se discorra um bocado sobre ele.
O Pintas é aquele tipo que parou há pelo menos duas décadas atrás no tempo e espaço no estilo, na línguagem e no duvidoso gosto musical; não preciso sequer colocar foto para saber: estão por aí, por toda parte.
O Pintas de climas tropicais usa camisas com lapelas largas e abertas até perto do umbigo e uma corrente de ouro com um medalhão tipo pires de chávena de café. Não há problema nenhum conjugar uma camisa cor de rosa com umas calças verdes escuras e sapato branco (lá vai Mangueiraaaa de Verde e Rosaaaa...), e a porra do sapato branco é o que me mata. Cabelo tem duas opções: carregado de gel até pingar ou então a trunfa estilo Roberto Carlos, o bigode pode ser uma linha por cima da beiça ou então um farfalhudo, o cabelo estilo Wando da década de 70 ainda se vê por aí. Patilhas, os pintas adoram patilhas... Palito de dentes dançando na boca, óculos de sol degradê. Quando em estilo casual, afinfam aquelas T-Shirts sem mangas, as de cavas, para mostrar o corpão e umas bermudas quase sempre de quadrados. Há quem faça uma conjugação de estilo samurai e ande de meias com havaianas... O pintas é um gajo de tomates e não se importa nada de coça-los ostensivamente e em público.
Nos climas mais frios, o pintas usa aquele fato e gravata que foi do casamento em 1981 do primo da vizinha ou comprado em loja de segunda mão. A gravata, quase sempre prima pela largura, estilo língua de vaca e em tons marcantes (laranja, roxo, verde pirili). Sim, até este pintas usa sapato branco, uma coisa que realmente dá-me nos nervos. Usa chapéu e tenta falar como se soubesse o que diz, normalmente diz que toda a mulher é uma rosa a espera de ser colhida, e tem o mau hábito de dizer "mulher minha não faz isso". Bebe bagaceira como se fosse o melhor whisky de 12 anos e fuma uns charutos dignos de despacho em sexta feira 13.
Os dois, sem escapar, tem sempre aquela unhaca horríbilis no dedo mindinho, enooorme e de meter nojo, mas tipo canivete suíço: dá para cutucar nariz, substituir a tampa da caneta bic para escarafunchar os ouvidos e abrir os maços de tabaco.
Culturalmente falando, é dos que não perde um bailarico em lugar nenhum, que com dor de corno afoga as mágoas em qualquer boteco ou tasca, que diz que mata à ela e depois se mata, e entretanto espicha o olhar para outra dama que passa... o pintas é a figura mais intemporal que conheço e vai passando através dos séculos com a discrição que todo género cult tem.
No resumo: sejam felizes da forma que preferirem ser: hipster, swag, neo punk, enfim, divirtam-se como bem entenderem. Nós mudamos conforme vamos vivendo e aprendendo e sempre que, o que acham que hoje é fashion, amanhã será a vergonha da vossa cara. Daquelas fotos que se esconde e rezamos para que ninguém as encontre, mais ou menos parecido com isto:
... e isto minha gente... era podre de chic há uns anos atrás...
Actualização: ou eu tenho uma antena do catano para antecipações intelectuais... ou será muita coincidência. Embora eu não acredite em coincidências... Mas no dia a seguir a publicação deste post, saiu este assunto aqui
Apareçam
Rakel.
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