Disse em conversa na hora de almoço, que me faz espécie gente que consegue ser uma Pollyanna saltitante. Primeiro problema, ninguém sabia quem era Pollyanna, um filme da Disney de 1960, totalmente fora da memória colectiva deste lado do mundo. Se a Minha Cama Voasse e outras coisas do género passam ao lado de tudo o resto.
Pollyanna é uma menina que está sempre feliz, tudo é motivo para ver o lado bom das coisas e tal e couves. Sempre a rir, aquele ar de anjinho benfazejo que conseguia arrancar sorrisos de uma pedra. Temos um caso de Síndroma de Pollyanna lá no nosso cafofo, e entre o intrigante e irritante, vi-me perante uma felicidade por hábito e não por consciência. A miúda é mesmo apardalada, confunde-se então o sorriso dela com felicidade quando o problema maior é uma certa infantilidade.
Dirão então, que estou a me desfazer do meu Peter Pan interior... nada disso, continua cá dentro, acarinhado, mas bem educadinho. No caso dela, é uma Pollyanna destravada mental em rédea solta.
Felicidade por assim dizer, não é uma questão orquestrada, arranjada e ensaiada. Ser feliz por ser ou pensar ser não chega. Nem a propósito, uma colega dizia-me que muitas vezes vai trabalhar com um sorriso na cara mesmo quando por dentro as coisas vão mal. Concordo, não se levam de casa coisas para o trabalho, nem vice versa. A gaita é quando uma pessoa sofre de uma total incapacidade de disfarçar os desarrumos interiores e fica chapado na cara.
Pensamos então que felicidade é a forma como alguém aparece sorridente diante de nós, com uma boa vida, um certo prestígio... enfim tudo aquilo que toda gente procura alcançar.
E foi justamente um tipo que gritava Goooood Mooorning Vietnam!!! Que foi uma excelente Miss Doubtfire, num Despertar, Oh Capitain, My Capitain... que se vê infeliz ao ponto de matar-se... e dá que pensar. Robin Willians foi e será sempre uma figura lembrada pelo carisma, pela facilidade de fazer rir os outros, e que agora perdeu-se na depressão, e por assim dizer, foi feito o seu último acto dramático na forma mais extrema de solução.
O sorriso e a capacidade de fazer rir, não vem acompanhado do selo de garantia de que, quem é assim, realmente sente a felicidade. Na maior parte das vezes, ser feliz é um momento demasiado pequeno e volátil, tem que ser assim para realmente ser valorizado e conotado como tal.
Dá-me pena o desperdício de uma vida assim deitada fora, nem quero sequer imaginar o que poderia ser tão grave ao ponto de ver como última solução uma retirada tão abrupta de cena. Não sei se suicídio será uma covardia, ou a última prova de coragem ou de escolha pessoal, do estilo my body, my life, my choice.
Só sei que conheço mais pessoas com razões muito mais fortes para desistir... e que continuam em frente.
E fico ainda com a mesma pergunta na cabeça: quem sabe o que é realmente felicidade?
Apareçam
Rakel.
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