Um Remake do Pior




Imaginem o cenário: anos 70, guerra do Vietnam em final de percurso, a Palestina e Israel a batata, os jovens protestando contra a guerra e pregando o amor. Martin Luther King já tinha morrido, deixando como legado um sonho, simples mas tão complicado ao mesmo tempo. Janis Joplin morreria nessa década, logo a seguir Jim Morrison. Joan Baez e Bob Dylan entoavam canções misturadas de amor e protesto. A França assim como outros países do mundo tinham herdado uma revolução estudantil de 1968 que  arrastou para bem mais de uma simples passeada ou ano.

O mundo abanava entre o consumo desenfreado, os vencidos da guerra, as mulheres a pedirem a igualdade de direitos juntamente com o pivete de sutiãs queimados. Este simples símbolo de queimar sutiãs além de poluente foi pouco satisfatório em termos reais. O mundo andava num reboliço só.

Os que pregavam o amor livre, o fim da guerra, paz, muita fumaça alegre e vida em "comunidade" desaguou depois nos anos 80 montados em fato e gravata e absolutamente moralistas. As pessoas mudam, crescem e tornam as vontades e ideais em velhas lembranças ou algo para esquecer.

Eis que entramos no novo milénio, e temos...

... Israel e Palestina a batatada, não temos Vietnam, mas temos Iraque, felizmente já por sua conta e risco (mais ou menos...). Não temos um idealista carismático com um sonho para dividir, temos oportunistas em directo a sair com uma reforma pós trabalho pela pátria e um lugarzinho qualquer de gestor numa empresa de renome. Ou então dono de uma Fundação a qual ninguém sabe que raios faz, mas recebe milhões para ser mantida. Na música, tivemos que ir lá bem atrás buscar do Zeca Afonso o que cantar nos protestos, porque se fosse pela cabeça do povo (que anda de mal a pior) iam buscar os Homens da Luta e aquele tema rasca que levaram à Eurovisão...ou então a Rosinha do Acordeão e o tal de Ela Leva No Pacote. Os estudantes... ainda temos disso? Escolas fechadas, mega agrupamentos, putos enlatados em salas de aula com professores contra vontade e agredidos sem dó nem piedade.

No meio disto tudo, num arrebatamento súbito de revivalismo... algumas mulheres decidiram combater o estereotipo de beleza recusando-se a depilarem-se. Dizem que os padrões actuais exigem pele macia e sem pêlos. Mentira. As Egípcias já faziam depilação, assim como grande parte da Ásia. Agora é um desfile dantesco de pernas cabeludas, buço farfalhudo, sovaco selvagem... e sabe-se lá a paisagem arbustiva como anda... Isto como uma bandeira ao estilo do refrão de uma música antiga, Natural Woman. No despique, temos os homens depilados e usando um fato de banho que, sem exagero, exige depilação até entre os hemisférios glúteos. Esse novo fato de banho segura-se apenas de um lado da anca expondo tudo e deixando muito pouco à imaginação, exigindo  um corpo perfeito e sem vista de pêlo.

As meninas de penugem verdejante, não se escusam de usar batom com uma bela bigodaça, mini saia com saltos altos e pernas cabeludas ao estilo de fazer tranças, poses sexys  em lingerie num estilo Pin-Up de peluche, onde conta tudo isso, mais os sovacos peludos e virilhas farfalhudas...

Peço um minuto.

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Aceito modos de vida alternativos. Aceito o facto de que cada um escolha o seu próprio ideal de vida, beleza, ética e moral. Tudo bem.

Mas se vamos embalar no estilo anti-Barbie e vamos entrar com cara e coragem no estilo Natural Woman, se fazem favor, sejam integrais. Nada de batom, cabelo e unhas pintadas, nada de sapato de salto alto. Usem vestidos de chita rasca, chinela de dedo, banho tomado com sabão azul e branco. Nada de nada... tudo 100% natural.

AONDE FOI PARAR O MEIO TERMO, MEUS DEUSES...

As mulheres de antes queimavam sutiãs e pediam igualdade, hoje, as mulheres já começam a pensar aonde se escondem os homens, aqueles seres diferentes delas, que até tinham as pernas cabeludas e penteavam os cabelos com os dedos em três sapatadas. Que de manhã tinham a barba a despontar e arranhavam as partes mais suaves, que eram nossas. Nós éramos as suaves, lembram?

Hoje o cenário muda por completo. Imaginem um quarto modernamente mobilado, um casal acorda ao som do despertador. Ela enrosca-se nele para dar os bons dias e uma rapidinha antes de pular da cama.

Ele reclama do queixo dela arranhar o pescoço, ela diz que faz tempo que não "há festa" e uma rapidinha sabe bem logo de manhã. Ele se queixa que ela só pensa nisso e não liga aos sentimentos dele.
Ele salta da cama e mete-se na casa de banho e fica em frente do espelho a ver se saiu uma nova ruga, se o corpo está bem torneado e se há sombra que precise de cera e esteticista.
Ela mete-se no chuveiro, toma banho em 3 minutos e veste-se em 4, enquanto ele acaba de tirar um dos 4 conjuntos que há dúvida para vestir nesse dia... ela ainda se atira num beijo de despedida e ele grita que ela precisa aparar o bigode, já que quando ela passou batom os pêlos ficaram coloridos de cor de rosa...

Será exagero meu?

Ando perplexa com isto tudo. Os ícones de beleza mudaram, a contínua busca de uma igualdade que perverte o complemento do que é suave e o áspero... mudar de papéis resolve alguma coisa? Só a estética muda tudo? E livros minha gente, alguém já pediu uma revolução cultural onde entre mesmo livros e arte? E... Não, não me falem daquela artista que pinta telas de maneira peculiar... a dos ovos na vagina. 

Minha alma anda parva...

Apareçam

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