O Planeta do Macaco Nu



Estamos aqui no topo, olhando de cima o tudo o que vive, o que nos pertence e não pertence, com a arrogancia plena de um cérebro privilegiado e um polegar. Verdade seja dita, não ficamos contentes com o que temos e lombrigamos outros planetas para assentar arraiais, montar o estaminé e fazer de nova colónia dos parasitas terrestres. Mas nos sentimos no topo da evolução (ou da criação divina, se assim desejar pensar) soberano e invencível. Certo? Mais ou menos...

Desde que Desmond Morris nos colocou como Macaco Nu no seu livro de 1967, as comparações são inevitáveis e o nosso pilar de superioridade ficou um bocadinho rachado perante estas estranhas (ou não) semelhanças comportamentais. Antes dele, Pierre Boulle, um escritor francês que escreveu o livro que deu origem ao célebre A Ponte do rio Kwai, escreveu um outro livro chamado La Planète des Singes, que conhecemos tão bem como O Planeta dos Macacos.

Vendo bem, pegando na visão crua de Desmond Morris e do seu macaco pelado, na maior parte das vezes o comportamento humano fica muito próximo de qualquer símio florestal. Olhem o comportamento das claques, os bate-bocas de qualquer comício, olhem para as entradas das boates e discotecas... e estamos par a par com a macacada.

Por outro lado, a visão de Pierre Boulle, meio apocalíptica de uma sociedade macacal e que os humanos não passam de uma linha lá no fim da evolução das espécies... pode não ser assim um disparate tão grande. Jogando um olhar pelos estudos dos grandes símios é  apardalante (uma mistura de perplexidade e alarme) como estão, no meio das florestas e de uma boa distância humana... a tomarem-se de humanidades...

Nem vou tocar no assunto da Koko, a gorila que comunica através da linguagem gestual dos surdos-mudos. Nesta experiência apaixonante, descobriu-se que formular conceitos, exprimir estados de espírito, desejos e comunicação não é do foro único humano.

Mas os estudos feitos há alguns anos com os primatas, as observações mais recentes apontam que, embora os humanos possam ter evoluído mais depressa (alguns, pois...) que o resto dos viventes, os símios estão a entrar a pouco e pouco naquilo que chamaríamos de Idade da Pedra Macacal.  O uso de técnicas e instrumentos, levam a pensar que o uso da massa cinzenta está a mudar nessas cabecinhas. O passar os ensinamentos de como fazer para apanhar térmitas com um pauzito ou as técnicas de emboscada e luta, são provavelmente a prova que a evolução acontece, só quem em velocidades diferentes e perante as necessidades dos lugares e situações. Ainda mais apardalante é o facto de que agora, lá no meio das florestas, a macacada esteja a começar no mundo da moda. Pois... MODA, bastou um deles meter um pauzito na orelha e desfilar para que alguns sentissem-se seduzidos pela beleza do pinduricalho e imitar, enquanto outros não ligavam ponta de corno. Folhas na cabeça também valem como experiência fashion, e mete medo pensar que não tarda nada, deixem de comer as folhas para ficarem mais magras e para tapar as nalgas e mamocas...

A sexualidade no reino animal foi sempre vista como exclusivamente procriativa, o prazer por prazer era visto apenas como uma preferência hedonista humana... até ter chegado o estudo dos macacos Bonobo. Nesse grupo específico de macacos, estudaram o comportamento abertamente parecido ao humano: a sexualidade por prazer, como troca de favores, para descontrair, como forma de ter estatuto. Nessa sociedade liberal e bastante relaxada, a homossexualidade não é ostracizada e o grupo vai vivendo bem sem grandes problemas.

 Este post esteve alinhavado e deixado de lado há um bom tempo... pela falta de tempo. A ideia veio e apenas deixei a base por desenvolver. Mas perante as actuais atitudes humanas, bombardeamentos, crescimento da violência, as atitudes irracionais e brutais, levam-me a pensar que o declínio da civilização humana galopa e, embora lentamente, os primatas estão a subir a escada evolutiva. Isso e o novo filme do Planeta dos Macacos a sair...



Enquanto grande parte das pessoas passa a vida em modo virtual, esquecendo o mundo, odiando por osmose, amando e desamando num clique, os macacos começam a comunicar, a usar ferramentas, a ensinar técnicas uns aos outros, a criar moda e a explorar o prazer pelo prazer. Há macacos bonobo com mais vida sexual do que muito engatatão das redes sociais, em selfie de tronco nu em cenas voyeristas de meninas das fotos sugestivas.

Abram a pestana... se as coisas continuarem nesse passo, embora devagar e aos poucos, não tarda nada os humanos passam a ser os engaiolados em um laboratório qualquer, estudados por uma Drª Zira, depois de algum maluquinho auto-proclamado senhor da guerra ter decidido apertar o botão vermelho nuclear. Já faltou mais, o que não faltam são maluquinhos que além de proibirem determinados cortes de cabelo, tem um dedo nervoso no botão nuclear. Esses e os que decidem que aquele avião onde iam mais de 100 dos renomados cientistas do vírus da SIDA, deveria virar churrasco. Enquanto a humanidade diverte-se em likes, em apedrejamentos em nome de deus, discussões sobre véus, atrofiam o cérebro e esquecem-se do que é um livro e ter ideias próprias... os macacos vão lentamente fazendo a sua marcha em ascensão. Que espero bem, se realmente acontecer, seja melhor aproveitada que a nossa.

Enquanto as calotas polares estão a degelar (há milhões de anos eram florestas) as marés estão a tomar terreno (a Suíça estava debaixo de água há uns míseros milhões de anos), enquanto a Índia está aos poucos a entrar por baixo dos Himalaias, em cada abalo sísmico acima dos 7 pontos muda a posição de ilhas e terrenos... voltaremos à uma nova Pangeia? Voltar ao começo, uma possibilidade não tão remota, nem tão absurda.

...por muito louca que seja esta teoria, nunca me pareceu tão plausível...

Boas férias para quem as tem, leiam, divirtam-se. Se puderem, vejam os primeiros filmes do Planeta dos Macacos, dos idos de 1968, foi na procura destes filmes, dos actuais acontecimentos e pesquisas é que me deu a escrever isto tudo. Ficam também os ebooks.

Apareçam

Rakel


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