Viver pela bitola social, será o mesmo que dizer que é uma tarefa bicuda e complicada; dentro desse stencil cortado a preceito, onde só cabem naqueles espaços o correcto (seja lá o que isso seja), o que fica fora da borda são os chamados desestruturados.
Dentro desse conceito meio calhorda e separatista, há a classe docente, a mesma que prega que é preciso trazer de volta para a escola as crianças que fogem dela, que acabam por fomentar que tudo que saia da fábula, é desestruturado.
Um contra senso sem dúvida nenhuma, pensar que filhos de pais separados são crianças desestruturadas, assim na chapa e no âmbito da generalização. Segundo parece, o conceito da Família Urso continua, com as tigelas de papa e cadeiras feitas ao molde do maior ao menor. Não interessa o facto de que o papá urso arreie forte e feio na mamã urso na frente do ursinho. Não interessa mesmo até, que o ursinho vá para a cama a ouvir o papá urso e a mamã urso aos berros um com o outro e até a comentarem o erro de terem feito um ursinho. Nop, para o caso o que conta é a o papá urso e a mamã urso irem juntos à reunião de encarregados de educação, de estarem na mesma casa, mesmo que o clima do lar doce lar seja parecido ao da Faixa de Gaza.
Então pegam nos ursinhos que vivem só com a mamã urso ou só com o papá urso (que muitas vezes tem um melhor ambiente) e colocam em turmas específicas em que outros ursinhos com percursos bem mais complicados misturam-se. Estes são os desestruturados. Tudo maçã do mesmo caixote.
Então, desde pequeninos, as crianças são bitoladas dentro ou fora da marca stencil definida pelos "normais e bons". É o miúdo de 6 anos que fica de castigo no OTL porque disse que gostava de mamas (o apego mamário e Freud, tão próprio dos rapazes), é a miúda que dá conversa à dois miúdos diferentes e fica com a alcunha de vaca... enquanto muitas mamãs ursas, de famílias bué de estruturadas, dormem com os papás ursos na mesma cama onde comeram um coiote qualquer.
A família dentro do conceito formatado... já não encaixa com a realidade actual. As famílias monoparentais estão aí, vivas e de saúde. Da mesma forma, as famílias de casais do mesmo sexo estão aí, quer queiram, entendam ou não. Mas ainda teimam no conto da família urso, com as tigelas de papas e as oportunistas loiras que comem a papa, sentam-se nas cadeiras e dormem nas camas alheias. O mundo então, por esta óptica míope e não permite estrábicos, pois são... desestruturados.
O mesmo mundo que prega uma vida sã e deitam cá para fora mais um número reduzido de tamanho : o XXXL, que seria um 26 anorético. Estamos diante de uma data de mulheres a fazer das tripas coração para caberem em roupas de crianças. O que vai mexer na auto-estima de muita gaja, não há registo na história, nem quando se espartilhavam de tal maneira que o desmaio era a única opção do sangue chegar ao cérebro.
Dizem que o ser humano passou pelos processos evolutivos para melhorar e competir num mundo em mudanças. Primeiro que tudo, o mundo mudou por intervenção humana, segundo os sentidos foram embotados nas várias muletas. Terceiro, do jeito que isto vai, ler será o ultimate upgrade cerebral, já que o que está a dar é clicar em likes e copiar e colar uns dos outros. Tarda nada, os electroencefalogramas serão uma linha contínua com um altinho lá pelo meio (respirar deverá ser a única actividade) numa gaja esfaimada, vestindo um XXXL com um papá urso que não liga ponta de corno ao bem estar familiar.
Eu gosto dos desestruturados, dos que comem quando lhes apetece e não quando o relógio manda, que trabalham no que gostam e não no que dá muito dinheiro e prestígio, dos que se enamoram das gordinhas, das que se enamoram pelos carecas, dos que vestem fatos às riscas como os gangsters, da hippie transcendental viciada em Sugus, das mulheres e homens que criam os filhos sozinhos, seja por separação ou viuvez (aliás as viúvas e viúvos são pais de famílias desestruturadas??), gosto de quem trata bem os animais, de quem lê e tem ideias próprias. Dos que gostam de filmes que ninguém se lembra, dos que cantam desafinadamente, mas com gosto, dos que saem de casa sem planos para aonde ir... dos que não se vão abaixo com as recusas e os que riem, de si, do mundo, da vida. Dos que xingam em alto e bom som e com razão. Dos que observam e descodificam, dos que questionam e não engolem ideologias. Dos que não usam pijama no verão (há quem conjugue o pijama com os lençóis), dos que se lambuzam com um gelado e que sabem ficar calados na hora certa. Dos que usam tatuagens não para os outros, mas para si mesmos, dos que aceitam desafios.
... já disse alguma vez que detesto regras pré-estabelecidas e preconceituosas? Não? Ahhhh... bom, então ficam a saber.
Apareçam
Rakel.
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