A Prova de Bala



Outro dia, saiu em notícia que o primeiro selfie foi no emblemático filme Thelma & Louise, fizeram até uma foto do antes e depois, configurando a moda que pegou de estaca.

Não foi isso que me fez rodar as engrenagens cerebrais que me coloquei a pensar no assunto, nem pelo facto desse fenómeno do selfie, ou desta praga de fotografar o que se come, ou os sapatos. É mais lembrar destas amizades a prova de bala, das diferenças que conseguem-se conciliar, dos feitios lixados que se atenuam ou agravam. Amizade no geral.

Um conhecido a gente cumprimenta, tem a conversa de circunstância normal, sorrimos, nada de profundo, tudo muito leve e descomprometido. Um amigo é outra loiça, não há limite de assunto, as palavras não sofrem censura e há a liberdade e respeito em doses equilibradas. Com os conhecidos, as lágrimas e queixas ganham a nosso paternalismo, com os amigos,a mesma situação ganha o nosso apoio e a nossa solidariedade.

Muitas coisas mudaram, até mesmo no cinema vemos esse reflexo: não há Bucha e Estica, Abbott e Costello, ou um Bud Spencer e Terence Hill... ou Thelma e Louise. Há homens que tem peluches com maus hábitos, o confidente e com mania de engatatão. Teddy foi talvez o rasgo mais interessante do aspecto freudiano do crescimento masculino e do deslargar o puto que há dentro de cada homem. Uns levam o Teddy até ao fim da vida em jeito de alter-ego. Elas no máximo falam do sexo e da cidade...

Já houve uma data de estudos, discussões filosóficas e mais um par de botas a tentar deslindar o assunto entre amizade e amor entre homens e mulheres. Muitos afirmam que uma amizade entre um homem e uma mulher não se fica apenas pela amizade, que no fundo no fundo há uma atracção que os une mais do que a amizade em si. Se calhar por isso, tendo uma amizade como base que se desenvolve numa coisa mais profunda, se explica que ainda existam casais que perduram. Mesmo com o envelhecer, mesmo com o apagar dos fogareiros sensuais, ainda fica o que sempre foi o melhor: a amizade.

Amigos que mandam fotos de lugares que gostamos, que trazem de Paris uma gárgula em miniatura (porque será, né?), que nos puxam as orelhas nas horas que merecemos, que se perdem no meio do nada connosco e não se passam dos carretos, que não acham mal nos descalçarmos e deixam-nos estar a vontade. Os que dizem que cantamos mal e não levamos a mal, os que quando não tem tempo, não se escondem em na surdez encapuçada... os que escutam as tuas argoladas e mesmo assim não te julgam. Esses são os meus, poucos, mas bons.

Daí que não acho nada relevante que alguém tenha mil e tais "amigos" no LivrodaTromba, e seja tão sozinho na vida real. Os poucos, os da alma, os que te fazem rir na pior altura ou que conseguem ainda te pregar partidas... aos que se tornam mais do que amigos, os que são irmãos de coração, os amantes porque sim, esses... são para o resto da vida.

Esses... são preciosos. Tratem-os bem...

e tu, tem atenção : é pro bom, pro mau e pro pior. Não te esqueças.

Apareçam

Rakel.

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