Quando Dizem Que É Para o Meu Bem...



... eu nunca acredito.

O meu actual chefe, um tipo simpático e bem intencionado, vez por outra encaminha-me assuntos importantes ao nível da saúde e desporto. Acho muito bem que fomente o corpo são, mas dava muito mais jeito se as coisas ditas saudáveis fossem mais acessíveis. Aliás, lembrando bem as conversas com os médicos, nunca nenhum me proibiu fosse o que fosse. Eles apenas pediam para não abusar e isso eu entendo.

O que eu não entendo é esta agora de uma nova lei e uma nova taxa para produtos que não sejam saudáveis. Isso quer dizer que vão taxar tudo? É que vendo bem a coisa....


Arroz cozido é saudável, certo? Então expliquem-me lá os corpos nada sarados dos lutadores de Sumô, aqueles que andam com um fio dental enorme e uma pança ainda maior. Então? Aquilo tudo é feito de arroz cozido e peixe grelhado.

Vegetais e os grandes paquidermes... náááá...

Se não sabem, ficam a saber que TODA fruta tem uma pequena quantidade de cianeto, uma das razões que nunca se deve dar fruta aos gatos e cães, pois ambos não tem capacidade de metabolizar e deitar fora isso. E razão pela qual o notável Steve Jobs, que em dada altura da vida só comia frutas, ficou com o pâncreas detonado e acabou como acabou.

Mas a sério, taxar tudo que faça mal à saúde vai ser complicado. Lá se vão as roulotes das sandes de couratos e bifanas de cebolada para o encerramento forçado. Acaba-se o algodão doce da feira de Março lá da parvónia, e taxem lá o vinho, uma das promessas de melhores exportações. E não tarda nada, sai mais barato fumar uma ganza que um cigarro, e dava mais alegria e bem estar, se calhar.

Mas estas taxas, pelo bem da nossa saúde e longevidade, não me parece ser a melhor opção. É que por este andar, com hospitais sem urgências de especialidades, com falta de médicos, com roturas em medicamentos oncológicos e para outras doenças crónicas ( pois, agora cancro é doença crónica), sem vislumbre de reforma quando nos tocar a vez, mais vale deixar a malta desforrar-se na tralheira, do que ter um corpo são e mente sã a ver que não tem reforma, médicos ou qualidade de vida.

É que tudo o que pretendem taxar é o que e mais barato e que as bolsas vão alcançando. As sopas em pó, que vai sendo o sustento em muitas casas em que só um recebe subsídio de desemprego, tem uma quantidade astronómica de sal. Os sumos de 0,36€ é feito de corantes e conservantes, mas é sempre mais barato do que a água da torneira em algumas autarquias. Portanto, se comiam mal, daqui pra frente além de comerem menos, comem mais caro.

Quando a minha madrinha dizia que eu tinha que tomar óleo de fígado de bacalhau para o meu bem, para ficar forte e gordinha (e como a minha mãe odiava este atestado de incompetência, pois eu era delgadita) só entendeu que eu tão cedo não seria roliça e panhonha, quando vomitei tudo nos chinelos dela. De lá para cá, quando dizem que isto ou aquilo veio para o meu bem...não sei por que, mas lembro-me sempre dela, da minha madrinha e dessa suspeição de que sabem melhor do que eu o que é melhor para mim...

... e chegando nesta avançada idade, ainda não conseguiram convencer-me de que quem não me conhece de lado nenhum, acha que sabe o que é melhor para mim.

Ao menos, poderiam ter dado uma desculpa melhor para taxar-nos mais uma vez, falta tanto em criatividade como em oportunidade.

Apareçam

Rakel.

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