Aprendi da pior maneira a não jogar muitas coisas ao alto, não vão estas coisas caírem na tola. Aprendi que o Karma é aquela situação em que rejeitamos o que não queremos e que, mais cedo ou mais tarde, temos que confrontar. Talvez seja por isso que de uns tempos para cá comecei a ter mais atenção no que digo e peço, pois fatalmente o jogo vira-se contra mim. O confronto directo com as coisas que não gostamos que nos aconteça ou com os nossos defeitos, deveria ser mais usado. Paninhos quentes apenas adiam o inevitável.
Logo de partida: eu detesto tudo que tenha cálculo, seja nos rins, na vesícula ou nos raisparta dos mapas de fim de mês.Odeio, pronto. E como a vida dá as suas voltas de maneira muito particular e nos leva a dar de caras com o que não gostamos e nos fazem odiar ainda mais o que já por si é odioso, há que respirar fundo e seguir em frente. Há o mês para fechar, certo? Pois...
Toda gente pensa que os informáticos são um povinho nerd sem uma pinga de sentido de humor nas veias, mas cá para mim, são os que mais gozam com isto tudo: as nossas necessidades mais prementes.
Maravilha das maravilhas, resolveram actualizar o sistema... instalaram um programa para o povo da tesouraria que emperra com as sessões de quem não é da parte financeira da empresa. Melhor ainda, todos os CPUs foram reprogramados, o que quer dizer que eu, esta inocente que vos escreve, que tem um programa específico para poder trabalhar... ficou sem ele e sem uma única impressora associada. Isto é claro, na sede, porque no meu cafofo a coisa ainda corre bem. Mas há coisas que só mesmo na sede.
De certa maneira, acho que meu chefe, meio que na socapa, fez um arranjo lá com o povo todo poderoso Nerd: façam-na suar em bica. Já que a Rakel largou a matança do Cross, vamos faze-la treinar Cardiofitness numa correia insana.
Comecei de manhã a treinar a musculação trazendo do cafofo duas pastas arquivo tamanho XXL a braços e a pé, para eliminar a flacidez dos braços. Segue-se uma subida as escadas da sede para falar com o tesoureiro. Desço com as pastas mais o resto da tralha até ao rés-do-chão e a cata de um colega que tenha uma sessão com impressora associada. Um generoso colega faculta-me o aparelho e começo a registar cada puta de fatura. Uma por uma. Aí preciso de um Mapa de IVA... que só no meu PC do cafofo tem, então é dar corda às sapatilhas e toca de ir la buscar. Exporto e volto para a sede para imprimir, maravilha... falta papel. Tudo bem, sobe as escadas e vai buscar uma resma, certo?
Desço outra vez, começo a comparar os mapas, mas falta o raio do SAF-T... pois, volto ao cafofo já meio emputecida com o vai e vem. Na volta à sede,encontro uma das informáticas, fresca e airosa, e reclamo com justa causa o disparate que é as sessões de toda gente andar em pantanas. E ela me responde, ainda por cima, que os informáticos são assim, uns gozões. E eu ali, com a pasta XXL na mão e com uma vontade de lhe afinfar em cima... calma Rakel, respira... acções e pensamentos violentos só geram coisas menos boas. Ahhhhooooommmmmm... pensa em águas límpidas, pensa em dormir com as estrelas como tecto... passou.
Gaita, tanto vai e vem deixou-me seca, tudo bem, subo as escadas e vou pegar uma latinha gelada, desço e recomeço as contas e dou de caras... com um erro, daqueles cabeludos, falta uma fatura. Fujona, desgraçada, cabra de um raio... que de certeza ficou na mesa do cafofo. Toca de marchar de volta e procurar o raio da fatura. Reviro a mesa, tudo e nada dela. Exporto mais uma vez a desgraçada e quando volto descubro que um colega guardou a fatura na pasta de perdidos, pois não sabia de quem era... por isso é que eu detesto gente organizada e arrumadinha, estragam o meu sistema.
Finalmente, contas certas, mapas a bater uns com os outros. Hora do almoço e já perdi praí umas 500 calorias. Subo mais uma vez as escadas e no corredor para o refeitório encontro o colega do massacre, o que dá treino de Ginástica Até a Morte e me pergunta se está tudo bem, que pareço... cansada. Náááááááá... cansada? Eu? Olha agora...
Resumindo: ainda houve mais escadas, ainda houve mais guerras informáticas, até que o dia acabou e com a ladeira a minha espera para chegar a casa.
Só uma coisa... só mesmo uma. Desgraçado do que vier me dizer que é preciso fazer exercício, que isso dos trabalhos sedentários só agravam os problemas de saúde. Lá que me vejam sentada atrás de uma mesa, não significa que eu fique a aboborar e a fixar o meu olhar no Grande Nada. E que se o Pai Natal olhasse para mim e visse o meu esforço, dava-me de prenda por não atirar ficheiros tamanho XXL na cara de ninguém, nem arrancar a cabeça dos arrumadinhos a dentada... dáva-me então de prenda o Johnny Depp. Pronto, vá lá... umas botas New Rock.
Eu bem mereço.
Apareçam
Rakel.
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