Há coisas do caneco, realmente a raça humana é qualquer coisa de surpreendente. Não fosse o caso do travesti barbudo que ganha o Festival da Eurovisão ser, no menos dos casos, uma brutal pedrada no charco, temos outros que fazem pela vida de forma um tanto quanto sui generis.
Meio morta, depois de um loooongo dia de trabalho, entrei na pastelaria do costume para comprar tabaco antes de enfrentar a ladeira derradeira. Enquanto esperava que uma esganiçada contasse à dona do estaminé a discussão com o senhorio (e isto já nem eram horas de fofoquice) deitei os olhos nuns flyers em cima do balcão. Um sujeito auto proclamado reconhecidamente popular na área de "cursos motivacionais" chamava o grande público para um congresso relâmpago sobre o tema de motivação e positivismo...
Eu sou toda a favor do reconhecimento por parte das chefias do empenho de quem trabalha para eles e com eles (as chefias), sendo esse um motivador enorme. Admito que já tive um bate boca com um amigo que comentou a petulância da senhora que limpa a empresa dele, pois a senhora disse em tom de tristeza que ele nunca elogiava o trabalho dela. A resposta dele foi um genérico "a senhora não faz mais do que a sua obrigação, é paga para isso e portanto se ainda aqui trabalha é porque é competente, isso é um elogio". Conheço muita gente que cingi-se pelas 8 horas diárias, que cumpre escrupulosamente o trabalho que lhe dão e mal batem as 5 horas, já está a picar o ponto. Iniciativa é zero, trabalho de equipa é zero, empenho é zero. Mas cumpre o horário e o trabalho, portanto terá, na visão do meu amigo o cunho de competência.
Isto é a realidade, daí pergunto, qual a motivação interior terá uma pessoa que se vê no mesmo pé de igualdade do 3 vezes zero quando dá mais de si em tempo, empenho e trabalho? Só mesmo uma teimosia tão grande quanto é o próprio orgulho no que faz.
Mas tudo bem, supondo então que precisa-se desse treinador de auto-estima. Ele dirá aquilo que todos nós sabemos de antemão: que precisamos empenharmos-nos em ultrapassar os nossos limites, que uma empresa saudável precisa de gente com pensamentos positivos e empenho. Que é preciso deitar fora tudo aquilo que não nos acrescenta nada, que é preciso acreditar que somos capazes ... e toda a conversa calcada num osho e companhia. Sem dúvida nenhuma, estas pessoas que fazem estas conferência de motivação, de trabalho em equipe, de rentabilização e tal e couves tem que saber pegar o público onde dói mais, tem que saber ter discurso e uma linha de pensamento que faça o público pensar que as coisas evidentes são novidades inventadas pelo conferencista.
Estarão as pessoas tão emocionalmente frágeis que necessitem destas conferências de renomados não se sabem quem, auto-proclamados gurus do assunto? Pois parece que sim, estão mesmo na merda, e se não estão, há de algum chefe de grupo, um tinhoso qualquer, sedento de ser O chefe de grupo com mais rendimento/vendas a fomentar a ida do grupo às reuniões de motivação e de consciencialização do eu. Mas há pior, há quem saia destas conferências determinado não só a ultrapassar todos os outros grupos, seja de que forma for, como começam a endeusar os tais gurus. Chega-se ao absurdo de repetir frases (daquelas bem batidas e muito conhecidas) mas que juram a pés juntos que são da autoria e da visão única do guru.
A par das videntes e tarólogas fascinadas com as nossas nuvens negras, os gurus encontram defeitos e problemas aonde não há e encontram sempre o incauto crédulo que o vê como a salvação do mundo pessoal e profissional. E isso mete-me medo. Ao ponto que as pessoas são facilmente manipuladas, o ponto em que deixam de acreditar em si mesmas e que permitem ser levadas a crer que antes não sabiam viver.
E há praí tanto sacana filho da puta, que tem como única motivação nas conferências de fazer o mesmo que os salvadores de almas das religiões do dízimo: enriquecer com as fraquezas alheias, ajudando apenas a engordar a própria conta bancária.
Apareçam
Rakel.
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