Nó Cerebral



"Todo homem que se veste de mulher, no fundo quer ser mulher, acredita no que te digo."

Enquanto o meu colega afundava-se num hambúrguer e aspirava as batatas fritas, eu ouvi isso dito por uma mulher na mesa ao lado, que tentava convencer o interlocutor da sua afirmação. Verdade seja dita, ando confusa, mais que confusa, ando meio perdida. Nunca pensei, ou nunca entendi que as opções sexuais de quem quer que fosse, que o par que escolhe e a forma como escolhe ter, seja a sua definição única como pessoa. No meu entender, uma pessoa é mais do que isso, tem mais bagagem, muito mais do que uma malinha de mão.

Mas parece que actualmente, uma pessoa para ser feliz precisa afirmar-se ou colocar num contexto de definição de opção sexual. Por enquanto, e dada a forma quase que epidémica, meio mundo assume o seu lado gay. Tudo bem, aceito que hajam atracções de formas diferentes, e que amar pode ser de várias maneiras, mas ainda não vi ninguém aparecer nas capas das revistas ou dando entrevistas... porque tem inclinação BDS ou BDSM. Por enquanto, e enquanto não for visto como moda, não vão aparecer coleiras, marcas específicas sobre o assunto e nem fotos do casal em correias e chibatas.

Mais ou menos como os peixes palhaço costumam fazer (mudam de sexo conforme a população esteja desequilibrada) os pólos andam a mudar de uma forma que eu, admito, não consigo acompanhar.

Separatismos sexual é chamado de sexismo, portanto lá na terra do romântico Sena, decidiram pedir à alguns alunos para usar saias como forma de protesto contra de discriminação. Ponto 1- sexismo não está apenas e só virado como tema de vitimologia feminina. Os homens, eles sim, também são separados por outros parâmetros, mas também colocados sob modelos sexistas. Daí que, se usar saias é uma forma de chamar a atenção de que "somos todos iguais, de saias ou não" leva-me a dizer que os escoceses são um povo milenarmente furos acima em modernice anti-sexista. Mas alguns alunos, mesmo perante a polémica, usaram saias. O que me leva a perguntar se a afirmação da senhora no Mac tem raiz sociológica/psicológica.

Pelo andar desta sociedade evolutiva, ser homem era ter barba rija, peito cabeludo, guedelhudo e demais pilosidades em abundância. Até que os metrosexuais chegaram e deram em rapar, depilar e colocar em evidência o corpo moldado e bem feito.
Por outro lado há um manifesto/movimento de mulheres que decidiram parar de arrancar as pilosidades. Chegou então o advento da paisagem arbustiva selvagem, daquelas que há de ver-se as meias em 3 dimensões, com pelos a sair pelas malhas, axilas farfalhudas,  buço rijo e cuecas almofadadas. Numa clara escolha de deixar estar e poupar na cera e na gilete, as mulheres em continuação do "meu corpo, minha opção" decidiram andar ao natural, pois assim é que sempre foi. Foi vírgula.

Milénios atrás as egípcias já se depilavam totalmente, assim como algumas outras civilizações mais orientais. No lugar da cera, usavam o mel (uma receita antigaaaaa, que por acaso até tenho) e tiras de pano em jeito de bandas depilatórias.  Nos países asiáticos, e na Índia, havia o hábito de depilar com barbantes, a bem dizer, arrancavam tal e qual as actuais máquinas para o efeito. Nada contra as opções das actuais mulheres que decidiram deixar crescer o matagal, mas as coisas estão mesmo tomando rumos estranhos.

Eles decidem depilar, elas... é deixar verdejar o jardim corporal. Usar saias será a forma mais acertada de demarcar-se contra o sexismo? Mais uma vez os estilos estéticos vão mudar exigindo que, além de magra mas implantada, de beiçola turbinada, há de ter sovaco selvagem e buço digno de concurso do maior bigode? Eu comecei a tentar esboçar a mulher do futuro... e deu-me um certo nó no cérebro. O homem do futuro? Uma incógnita ou androgenia pegada...

... e quando um tipo de barba farfalhuda  me pede lume, olho para as mãos dele e tem joaninhas pintadas nas unhas... me faz pensar que o mundo muda numa velocidade tal, que não me admira nada que me sinta deslocada. E cada vez mais, ando a pensar que preciso tomar um real tempo de montanha e ficar um par de dias fora... para desfazer os nós cerebrais...

Apareçam

Rakel.

Comentários

  1. Gostei do texto, me fez rir com os fatos reais que a sociedade possui, apesar de saber que os grupos de pessoas que se consideram pensantes e evoluídos ao promover a conscientização e ampliação de horizontes relacionados ao sexismo, mal percebem que ao fazerem estão surtindo efeitos contraditórios na sociedade, que retornam ao ponto inicial de reflexão. Contudo talvez se esse não fosse a real prioridade, ou seja, a opção sexual não fosse o foco dos questionamentos humanos, pudéssemos avançar no sentido de identidade, respeito e realidade esclarecida do povo.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Leandra, começaram as feministas a pedir, lá pelos anos 60/70, igualdade entre os sexos (e nesse tempo só tínhamos dois para dar água pela barbar, passe a expressão) e andam nestes tempos já a surgir um certo sexismo contra os homens. Nesta história de supremacia, em que direitos e igualdades ficam penhorados por um activismo enraivecido, o direito de escolha e até mesmo de opinião começa a ser algo de alguma coragem. Por mim, podem ser aquilo que quiserem, mas desde que respeitem o direito dos demais nas suas escolhas. Sem dúvida, a escolha sexual não deveria ser um patamar ou status social; é uma escolha pessoal, privada, não envergonhada ou temida, mas sim algo que não pese, como agora acontece, em que um determinado lobby favorece ou exerce pressão num âmbito que escapa qualquer tipo de senso comum.

      No fim das contas, independentemente das escolhas que fazemos, da cor de pele, da fé e da cultura, somos todos humanos. Começamos e acabamos de igual modo; fica pelo meio a melhor maneira de viver. :)

      Eliminar

Enviar um comentário

Estamos ouvindo