Tudo Pelo Bem da Saúde




Montezuma II, o tipo aí de cima, o grande monarca dos Aztecas, era um assumido chocólatra, mas com uma visão muito pouco nítida do quem eram realmente os espanhóis... e danou-se.

Em todo o caso, o chocolate, essa maravilha feita das sementes do fruto do cacau, era moeda de troca com o mesmo valor do tão cobiçado ouro. Amado, odiado (a cabra da balança não permite uma escorregadela) o chocolate veio das Américas e adonou-se do Velho Mundo totalmente. Estudos e mais estudo fizeram do chocolate o vilão da acne, da obesidade e até do ataque de caspa agudo.

Mudam-se os tempos, as pesquisas (ok, tenho uma certa queda para ler estudos) e agora o chocolate é visto como o bom da fita. A pena que eu tenho de estes estudos não serem feitos cá em terras Lusas, que eu me ofereceria, pelo bem da ciência, como cobaia de testes do chocolate. Agora dizem que previne problemas cardíacos.

Segundo as pesquisas, não pode ser um chocolate qualquer, tem que ter pouco açúcar (apoiado, viva o chocolate amargo), nada de chocolates claros, juntar nozes e aveia (nisso... não vou muito a baila, sou das puristas) a coisa só fica mesmo triste na dose: um quadradinho por dia...

Uma pessoa olha ali para uma barra inteira de chocolate negro,  e só pode tirar um quadradinho. E é o que eu faço, mas um quadradinho de cada vez e todos de seguida. Vai-se a barra toda e fico dividida entre: ok, comi a barra toda e fico com uma prevenção do caraças contra os oxidantes e problemas aqui da máquina. Depois começo a pensar no disparate que fiz, afinal a barra foi-se e que quando me ponho a ver um filme ou a devorar um livro, devo trocar a barra de chocolates por... tudo menos aquelas bolachas que parecem esferovite e que sabem ao mesmo. As tais saudáveis, mas infelizmente as coisas saudáveis fazem-me alergia gustativa. E por falar em alergias, a última pesquisa diz que quem tem essa mania de usar tudo quanto é anti-bacteriano, fazendo da vida uma esterilização hospitalar, deixa o sistema imunitário de rastos e mais sensível às alergias. Para quem não sabe, alergia é a resposta ao corpo ao "eu não te conheço, nunca te vi de lado nenhum e por isso deves ser muito mau e reajo assim".

E esta desgraça começa logo em crianças: não podem chafurdar numa poça d'água depois da chuva, não podem brincar com cães e correr descalços, ao primeiro espirro ficam logo em casa e não vão à escola. Depois as mãezinhas começam logo a colocar uma data de limitações alimentares, já que querem que a criança cresça saudável e perfeita. Senhoras mães, quanto mais imposições alimentares, quanto mais restringem o que comem, mais vão procurar as porcarias todas para comerem e abusam. Uma miúda que conversava comigo, dizia que em casa NUNCA havia doces, pois a mãe não deixava e que era por isso que assim que se pegava com a mesada, ia comprar um pote daquele creme para barrar o pão de chocolate e avelãs e comia... a colherada. Todo de uma vez. Assim sim, é muito melhor, não é?

Não há melhor lembrança dos meus anos de inocência, do que os bombons Sonho de Valsa que ia comprar na padaria do Sr. Vieira (depois da visita do meu padrinho), dos dedos colados com os gelados, dos joelhos esfolados... de ficar ensopada numa chuva de Verão. Verdade seja dita, só tive duas doenças daquelas pegadiças. De resto, convivi uns anos com o NÂOPODE que ia do rir (podia provocar uma crise de asma) ao só vestir roupa de algodão. Aí depois descobriram que a asma não era alérgica...

A felicidade de saber que não eram os chocolates que faziam as minhas crises, levou-me a comemorar o facto até hoje, coisa de quem é merecedor de aplausos, já que sou uma pessoa bem educada e que sabe dar valor das homenagens e agradecimentos. A gaita é que essa coisa de regular os pedacinhos que se pode ou não comer é que irrita. E agora até fazem chocolate em sticks, chocolate negro por fora... e creme de café por dentro. Mas parece que o café também é um protector do fígado, certo? Então estou no bom caminho...


Apareçam


Rakel.


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