Sorte de Troiano



Chama-se "presente de grego" aquilo que acontece quando pensamos que somos agraciados  e na verdade encontraram uma forma de nos ludibriar.
Reza a lenda que, os gregos, sem conseguir ultrapassar as majestosas muralhas e defesas troianas, deram o tal do cavalo de madeira, o famoso Cavalo de Tróia como presente pela bravura e vitória dos cidadãos de Tróia. Dentro dessa piñata gigante, em vez de bombons e caramelos iam gregos armados até aos dentes... e foi assim que a cidade de Tróia caiu.

Agora pensando bem, ando novamente a resgatar os mitos dos antigos gregos... das duas uma: ou tenho que voltar ao outro blog e continuar a saga dos imortais, ou realmente o meu inconsciente me diz que o "new grunho" pegou de estaca e continuamos a regredir, sem evolução. Cá coisas minhas...

Voltando então no tempo... vamos viajar por alturas que saiu a obrigatoriedade das faturas. Quem me lê há de lembrar que entre muitas coisas haviam os casos de pessoas que saíam do supermercado e um inspector das Finanças, acompanhados de um agente da lei e ordem, pediam a fatura ao cidadão, para comprovar que tinha recebido aquela tira de papel com a despesa. Eu, por acaso, vi isso acontecer aqui na terriola, uma coisa pitoresca e com ar de milícia do Grande Irmão do George Orwell.

Tem sido, desde então, a coisa mais idiota em termos de gasto de papel (uma das coisas que não percebo neste mundo que visa a solução ecológica e as faturas electrónicas), num andar atafulhada de com papelitos na carteira (papel esse que nem serve para uma assoadela, quanto mais um uso mais higiénico), de cestos do lixo com papel  faturado ou deixado em cima dos balcões; já para não dizer que é uma verdadeira dor de cabeça para uma data de contabilistas...

Num repente de engenho, circulou para quem queria, os números de contribuinte de alguns políticos, entre eles, o Gasparzinho e O Pedrito Coelho (acho que a Beatrix Potter há de perdoar-me esta liberdade). Foi um desatar de fazer faturas em nome dos dois, como um tipo de vingança anónima de quem mija nas roseiras da vizinha chata.

Dentro das actuais possibilidades, cada qual tem escusado-se de fazer facturas com o NIF, já que segundo consta: "o Governo não tem que saber o que faço ou deixo de fazer". Concordo que esta forma de controle da nossa vida pessoal é no mínimo chocante, senão mesmo bizarra. Mas há um pequeno detalhe que gostaria que , quem de direito pudesse esclarecer-me:

Como é possível que um Estado, que neste momento precisa emagrecer nas despesas, consiga arranjar fundos para comprar carros de um custo elevado... para sortear aos contemplados na calhordice da Fatura da Sorte"?

Pensará o leitor que, no fim das contas, o desgraçado que lhe sair o prémio (ainda há muita gente a passar fatura em nome dos dois ilustres, mas vez por outra, depois de ultrapassar os 100€, coisa fácil numa ida ao supermercado, lá vai fatura) não vai conseguir aguentar com as despesas e vai ser obrigado, só para poder vender o "topo de gama" a desembolsar umas boas massas, o tal presente de grego.

Mas pensem bem, no jogo das probabilidades, com tanta fatura passada em nome do Gaspazinho e do Pedrito Coelho, não será interessante ver estes dois senhores ganharem mais um popó giraço, e dado que não vivem de salário mínimo, poderem ficar com eles (os popós) as custas das despesas feitas por outros?

Rasgo de génio de quem se lembrou de fazer esta perversidade que é a Fatura da Sorte, num estilo de Presente de Grego como nunca tinha visto antes...


Apareçam

Rakel.

Comentários