Chiça, chiça, chiça... CARAÇAS!!! (só para não dizer pior, mas se calhar vai sair asneira na mesma)
Então, está uma pessoa entre duas colegas (na verdade uma ex-colega e outra ainda no activo) na noite do dia da mulhere. Montes de conversa para colocar em dia... e fico eu entre duas... mongas agarradas ao telelé-ligado-a-net-no-face. Estão conectadas aos 200 e não sei quantos amigos em modo rede social, mas no ao vivo e a cores estão ausentes. É ver os dedos a esticar de um lado ao outro da tela, coscuvilhando o que um postou e o que os demais comentaram. Uma consegui despegar da merda do telemóvel e começamos a conversar... até que ela se deu conta que a outra estava alheia de tudo. Passei-me, dei uma pancadona na mesa fazendo saltar copos e isqueiros, e a tipa levanta a cabeça e larga um "hã?" desnorteado e com a mente ainda sobe efeitos de anestesia tecnológica.
Namorar hoje em dia já é um conceito muito avançado para a minha cabeça, exige que ambos tenham o mesmo tipo de tecnologia e que troquem entre eles comentários, fotos e coisas que vão recebendo. Interacção tomou outro formato que não passa mais pelo olhar nos olhos, conversar, rir ou ter uma opinião própria. Nem sequer a conversa em modo Braille se faz, e já são exímios em ficar com uma mão a teclar e a outra agarrada a mão do par. Esta subtilezas adquiridas pelas exigências tecnológicas são admiráveis, mas convenhamos...
Hoje, esquecer um telelé em algum lugar equivale a uma hecatombe de antecedentes bíblicos, o mundo acabou, é estar perdido e desconectado do mundo, fugiu o controle de cada momento, cada partilha, cada comentário. Sinto-me jurássica...
Eu ainda sou do tempo, que combinava-se as saídas aos fins de semana sem telemóvel, em que quando nos sentávamos numa mesa conversava-se sobre tudo. Haviam cabines telefónicas e sempre havia uma moedita para a chama que depois desenrolava-se em estilo dominó: o que recebia a chamada, passava a outro e por assim adiante. Usava-se mapa para saber aonde ir e perguntava-se o caminho, sem me preocupar se há rede ou não. Música... belos tempos que se emprestavam e trocavam-se os LPs e as fitas cassete, tiravam-se cópias na mesma, e não havia a merdice dos autores abespinhados.
Cinema, teatro eram actividades interactivas, as idas aos bares também, sem se preocupar em tirar fotos para postar, era viver o momento.
Agora postam a comida que estão comer, a dor de barriga ou dos dentes, a cor do verniz nas unhas, os centos de selfies possíveis e imagináveis. E ficam ali... hipnotizados pelo ecrã pequenino ou completamente insanos a mudar de posição e ver se pegam a rede para comentar com um filho-da-puta de um "LOL" uma postagem qualquer. LOL com ahahahahaha junto sic "LOL ahahhahahahaha". É muito a frente pra mim...
Se a intenção dos que produzem tecnologia é estupidificar e controlar a informação... fiquem a saber que há quem tire fotografias até do que largam na sanita. Deve ser uma diversão que eu ainda não alcanço, mas se tudo tem um propósito, certamente daqui uns séculos, se ainda sobreviver uma mente que não esteja atrofiada, estudará o fenómeno da "foto da poia".
A maior parte das mulheres anda com uma malinha toda catita, lá dentro o inferno moderado e mais o telelé ou um tablet. No meu caso... ando de mochila e dentro levo o inferno mais dantesco possível, já que para ler, não me chega uma Luxe ou uma Trombas ou uma Ermelinda, tem que ser livro. Música... bem é mesmo o MP3, fotografia? Levo máquina mesmo, foi pra isso que foi comprada e tiro as fotos para a minha colecção privada de coisas insólitas ou cenas curiosas. Informação.. guardo (quando lembro disso) num bloco/agenda, quando não rabisco em bocados de papel, peço cartões de apresentação de negócios e pessoas. Levo sempre um mapa comigo, uma lanterna, garrafa de água e toda a tralha que uma mulher tem a capacidade de colocar numa mochila (que vai da bolachinha pra enganar a fome, como um saquito com ração para algum gato esfaimado) e vamos bem. Posso andar carregada, mas não fico a mercê da rede ou da capacidade da bateria. E não, não tiro foto do dedinho a sangrar com um corte de papel, mas saco de dentro da minha mochila um penso-rápido e assunto arrumado.
E quando converso, dedico a minha total atenção com quem está na minha frente a tentar mostrar-me o que é e o que vale. Sem frases coladas e partilhadas... é no aqui e agora. E só assim sei se fico a perder ou a ganhar com a conversa...
Quando vira vício, quando um objecto ultrapassa o limite da utilidade e toma o lugar de dependência ou, quando estar com amigos imaginários for mais importante que conhecer as pessoas aos vivo e a cores, algo precisa ser repensado.
Apareçam
Rakel.
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