Uns Com Tanto...



Nunca em tempo algum houve uma vez sequer que eu tenha vindo para aqui queixar-me do calor e que uma pessoa derrete-se, e que o tempo anda seco, que mesmo bem se está na praia e frases afins. Nop, cá Je não reclama do calor mesmo que sue as estopinhas, que ande com a roupa colada ao corpo, litros de água, cocacola e uma jolas fresquinhas, jante meia melancia a servir de hidratação e os inevitáveis edemas. Eu incho com o calor e minguo no Inverno, literalmente sobro nas roupas durante os longos meses de frio, chuva e vento.

Gosto dos dias de chuva, mas dentro de casa, de preferência com lareira acesa e uma chávena de chocolate quente (com um cheirinho de Porto) nas mãos ou vinho quente. Também não me importo nada de ficar a dar um passeio pela praia numa tarde de Inverno, com aquela chuva miúda e meio parva a ver o mar cor de chumbo fazendo par com a cor do céu. Não me importo mesmo nada, acho que tem qualquer coisa de transcendente uma praia no Inverno, sem a maralha do farnel, dos franceses de Alcochete e os pintas de serviço.

Semana passada, sabia lá eu bem no que me metia, fui trabalhar fora da cidade e... toma lá chuva tocada a vento, carro a abanicar de um lado para outro... o tempo a escoar e horários a cumprir e apanhei uma valente molha. Tentar proteger os papéis era assunto deveras complicado, desisti do chapéu de chuva e fui-me à capa comprada às pressas no chinês, para ver se salvava a roupa e a cabeleira.  A papelada salvou-se, quanto à mim... nem por isso.

Palavra de honra, não me importo que chova muito, que alague tudo (um meio mais barato de fazer desratização e menos poluente) que as calçadas fiquem ligeiramente escorregadias (faz pelas pernas uso de músculos que nem sabíamos que tínhamos) e que nos obrigue a andar com mais cuidado. Não me importo...
Mas dá-me ganas de afogar todo desgraçado que passa descuidadamente de carro e esquece o peão. Verdadeiras ondas furiosas quando estes anormais passam, e isso faz sair o meu lado demoníaco e perverso. Rogo pragas que vão desde a calvice, a queda de todos os dentes até à impotência, e não, não chamo nomes às mães deles, pois tenho a certeza que elas não os ensinou a serem uns anormais, até acredito que estas senhoras os levaram pela mão à catequese e primeira comunhão. Mas o espírito de comunhão e amor ao próximo deve ter durado o tempo que a hóstia durou na boca deles.


Apresentação pessoal cai pelas tabelas neste dias de chuva tocada a vento, de ver o Tejo, o Almonda e Nabão já lambendo as calçadas, entrando pelos parques e jardins; de verdadeiras piscinas no meio das ruas (e aonde estão os cavalheiros que estendem as capas para que as senhoras passem sem molhar os pés???) e motoristas anormais e cheios de pressa. E fico naquele impasse ruim  de decidir em segundos: protejo a papelada do trabalho ou protejo-me debaixo da capa e chapéu de chuva? Recai sempre no trabalho e eu.. olha, com mais um par de botas a deixar secar. Segundo consta, parece que aí vem mais uma tempestade tocada a vento e bem pior do que a da semana passada...  e já cá ando a ver, qual dos meus colegas é que faz mergulho ou surf, sempre podem emprestar-me um fato emborrachado e fico melhor protegida.

Do outro lado do Atlântico, mais a Sul, anda um país todo pedindo chuva, queixando-se de calor, que isto está a derreter o cérebro.. e nós aqui já fartinhos de chuva e cheias. E o mundo é assim: uns com tanto e outros com tão pouco.

Mas atenção... eu até gosto de chuva, mas não assim...


Apareçam

Rakel.

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