Onde Pára o Angry Bond?



Ian Fleming incendiou o mundo da espionagem com aquele tipo com olhar de carneiro mal morto e que se apresenta dizendo "Bond, James Bond". O galã de fato e gravata que nunca fica amarrotado, sempre bem mesmo da pior luta, reflexo rápido, uns briquedinhos fora do comum e uns popós todos jeitosos. Vivendo perigosamente e rodeado de mulheres que pouco tem de frágeis ou fúteis; nelas a aparência sofisticada é apenas uma isca aos incautos: elas são perigosas, mas Mr. Bond não tem medo delas e acaba papando todas. Isto tudo para resumir o estereótipo do espião, como se a profissão em si fosse esse charme todo.

Glamour... esta é a palavra associada ao termo espião.

Talvez pelo enquadramento tão certo, tão cheio de sorte que o Bond tem, se calhar por isso e pela minha aversão à perfeição padronizada, me tornei fã incondicional do Austin Powers, a antítese do herói. Enquanto os filmes do Bond são a repetição do mesmo modelo, mudando eventualmente do actor que encarna a personagem, o Austin teve a boa ideia de explorar apenas em 3 filmes divertir e mais que toda a colecção do Ian. E dirá o leitor: James Bond não é para divertir... é acção. Hummm... quando a fórmula esbarra sempre no mesmo começa a ser repetitivo e previsível.

ahhhhhh... e o Max Smart... :)



Provavelmente deve ter sido através dos filmes do Bond que a Google resolveu fazer a aplicação Google Maps, isso e essa herança genética masculina, herdada do tempo de Moisés, (o tipo andou 50 anos perdido no deserto) pois perguntar como se vai para algum lugar deve ser um rombo na virilidade e capacidade masculina. Então há que fazer um aparelhómetro qualquer, com montes de botões e funções (embora só usem 1/4 desses botões) e colocar o Google Maps e toca de meter o pé na estrada. Ou até facilitar a vida tirando o endereço logo de caras (quando a sorte pode bem ser adversa e trocar as voltas) e saber onde fica logo tal restaurante ou loja em particular. Somos da Era do Fácil, portanto, somar e seguir nessa senda.

Pois então, num dia aziago, daqueles que nos permitimos pensar em arrancar a cabeça de alguns fora, em que há um tributo estrondoso da  Lei de Murphy  e vamos para casa descontrair ou ficar uns tempos meio abestalhados e alheios do mundo em frente do computador, jogando inocentemente uns passarocos ao ar: vamos ao Angry Birds e detonamos o suco de malvadez assim, no clicar do rato.

Pois bem, se quem me lê faz uso tanto do Google Maps ou do Angry Birds fique a saber que estão a ser vigiados pela NSA, aquela empresa que controla a informação com a desculpa da segurança nacional americana. Através destes dois lugares, conseguem chegar a saber quais os outros sites que frequenta o utilizador: seja as compras online ou até os filmes que ripam.

A minha sobrinha joga Angry Birds, é vê-la a jogar com capacete de ciclista cor de rosa na cabeça (sim, pois a segurança com crianças na net é uma obrigação dos pais) e toda concentrada naquilo que teimosia de uma menina de 8 anos pode fazer. Imagino o Bond lá da NSA a monitorar depois os sites que a menina vai: a Puca, a Hello Kitty e todas as coisas bem cor de rosa que a cachopa adora... e como o PC é do meu irmão, verão depois como ele pega piadinhas secas de quem é químico e matemático (os trocadilhos são do mais infame que há) ou da minha cunhada que gosta de fazer trabalhos manuais e arte contemporânea. Tudo em nome da segurança nacional .

É aquilo que chamamos de gastar em recursos ao desbarato, se estamos numa aplicação nos telelé inteligentes, piora a situação, já que os dispositivos móveis são considerados uma grande ameaça. Quanto maior tem sido o estado vigilância e de intromissão na vida alheia, mais longe fica a América do preceito de livre escolha, liberdade de expressão e igualdade. Que o façam dentro de casa, na casa deles, eu até posso aceitar, mas se o medo desmesurado tem levado à este estado de paranóia e de necessidade de controle fora de portas... há indícios de que uma certa esquizofrenia colectiva é desculpa para violações de privacidade e controle de informação.

Não me parece que mesmo assim o povo descendente do May Flower esteja mais seguro, mais contente e mais confiante. É que ainda há muita gente por lá, recebendo em caixas de pinho o que resta dos filhos e filhas, maridos e mulheres, pais e mães que vão lutar numa guerra que não pediram fora de casa em nome da liberdade e democracia. A mesma que não oferecem à mais ninguém, nem à eles mesmos...


Apareçam

Rakel.

Comentários