Mesmo Na Beirada...



Há algo fascinante em conversar com fundamentalistas, extremistas e afins, qualquer tópico de conversa cai invariavelmente , mesmo que se fale de feijoada, num ou noutro ponto da sua dilecta paixão. Os inconformados  militantes, os viciados no descontentamento, todos eles, se puderem falar de alguma coisa, nunca falam de coisas que estão bem ou a melhorar de rumo.

Por algum motivo que me escapa, ou as minhas duas neurónias não chegam lá, estas pessoas nunca conseguem ver o lado caricato, banal, interessante ou belo da vida. Nunca, mas nunca leve um militante do contra qualquer coisa para ir consigo ver uma exposição de arte, ou tentar conversar com um ateu sobre a beleza gótica da Catedral De Notre Dame. Eu bem gasto saliva falando sobre o requinte do detalhe, da beleza majestosa... e fico a ouvir que é o símbolo da supremacia papal e da ignorância de um povo dominado pelo medo do inferno criado justamente para escravizar e dominar os mais fracos... e por aí vai...

Caraças, eu falo de uma coisa e desemboca logo no CD já batido (antes era a cassete com o discurso/lavagem cerebral, agora estamos na era CD) de que deus não existe e tudo é fruto de uma sociedade podre e direccionada para o empobrecimento cultural e dependência numa fé absurda. E eu que só estava a dizer, que um dia, queria ir até lá em cima e ver as gárgulas de perto e toda Paris aos meus pés. Ok, a culpa foi minha, eu deveria ter-me esquivado da conversa "lugares que gostaria de conhecer" ou "coisas que ainda não fiz", mas distraída como sou, nem me dei conta com quem falava... e foi um massacre auditivo.
Tudo é feio, tudo é um horror, um nojo, desde os frescos na Capela Sistina até o Muro das Lamentações, historicamente falando não liga ponta, o que conta é o significado geral.
Fé é um assunto pessoal, diverso e nem coloco em dúvida; tenho um amigo que quando joga a moeda (jogo da porrinha em terra brasilis) usa as mesmas 3 há anos, pois tem fé na sorte que elas carregam. É fé, no seu sentido mais alargado, mas não discuto.

Não sei, acho triste a forma como radicalizam, nesse fundamentalismo que nem sequer aceita que um monumento, tenha ele a conotação que tiver, não seja visto como um pedaço da nossa genialidade ou bestialidade. Há lugares que mostram o quanto somos sonhadores e expressivos, ou então os mais cruéis do universo.

O Zé Freitas, meu fotógrafo genial, tirou fotos fantásticas de um campo de concentração (e admito, agora não me lembro de qual deles) e que impressionaram-me; dirão vocês, "ô coisa mais mórbida!" . Acho que de certa forma, e da maneira como o mundo ainda se convulsiona em meio de guerras e guerrilhas, faz bem lembrar vez por outra até onde somos capazes de chegar. Não basta ler o Diário de Anne Frank, a imaginação muitas vezes fica aquém da realidade, é preciso ver, fora dos cenários e grandes telas uma realidade. Tal como um bom muçulmano deve pelo menos uma vez na vida peregrinar à Meca, todo bom cidadão do mundo devia de , pelo menos uma vez na vida, entrar e visitar um campo de concentração. Guantanamo existe. Ainda. Nos dias de hoje.


É claro que a conversa ficou então no discurso ensaiado e mais que sabido, no despejar de todos os malefícios da fé, no engano da alma (ela não existe, pois não há prova palpável dela)  e que energia , só a eléctrica. Não falei dos templos na Índia, não falei da Irlanda ou da Escócia, nem nada de nada dos lugares que adoraria conhecer. Não porque acabasse com os meus sonhos, eles já resistem há tanto tempo, mal seria se fossem abaixo com isso. Mas é triste uma vida assim tão preto e branco, só vendo o piorzinho do que somos capazes e nunca enxergando uma possibilidade.




Pois é isso mesmo, é nessa beirada onde muitos se fixam, a do extremismo, um lugar que não cabe grande coisa e que o foco apenas se centra em encontrar maneira de detonar tudo que não caiba dentro da doutrina. Não sobra grande coisa senão despejar uma data de protestos contra tudo e mais alguma coisa. Por isso mesmo fiquei caladita e deixei que fosse discursando ao modo Fidel e fiquei divagando. Pensei em como seria giro fazer campismo selvagem no Grand Canyon, ver o sol nascer e cair naquela imensidão austera. Provavelmente, se lhe dissesse isso, começaria o discurso do país imperialista, desse horror que é a cocacola e da moral burguesa dessa sociedade podre. Afffff... que canseira...


... e de tanto que discursa, de secar garganta... fica meio mundo por ver...

Apareçam

Rakel.


Comentários