O que define o excêntrico do dito centrado é a linha riscada pelo modelo social... certo? Define-se que em determinadas etapas da nossa vida, temos que ter uma determinada conduta, uma forma de ser que faça um conjunto com a embalagem. Uma senhora age assim, uma senhora fala assado, "nessa idade já não fica bem tal e coisa" e por aí vai.
E não me encaixa nem um bocadinho....
Quando alguém me diz corre!!! Anda depressa!!! Eu remato logo com um "uma dama nunca corre, apenas apressa o passo". Poderia ser contraditório, e até é, mas apenas digo isso por que tenho um tornozelo todo lixado e uma rótula também moída (isto do desporto dar saúde ainda é um ponto a discutir), sequelas dos bons velhos tempos do volei. Se precisasse correr para salvar a minha vida, estaria certamente a ver passar naquele tal minuto o filme da minha vida, pois não consigo mesmo... Mas ando bem, nada de mancar, nem nada, apenas não posso mesmo forçar aquilo que está definitivamente lixado.
Excêntrico então é aquela pessoa que se permite ser fora do comum, uma quase marca registada dos que fazem parte das artes, sejam elas cénicas, musicais ou plásticas. Mortal comum é louco, não excêntrico.Pois de facto é isto: ou uma pessoa tem talento e uma certa base de maneira de ser ou apela totalmente para uma base de "eu sou assim meio louco/a para que a minha parte criativa pulse com mais força e atinja patamares que mais ninguém atingiu." Por outras palavras: se eu não tenho o talento de uma Meryl Streep, tenho que tentar as mesmas vias de uma Madonna ou de uma Gaga. Dizer que as duas últimas não tem talento, seria um disparate pegado desta que vos escreve; não fazem o meu género, mas lá terão uma visão comercial acertada, souberam usar dos instrumentos necessários para fazerem-se notar. O resto que anda por aí vai no arrasto.
Há um senhor, daqueles que andam engravatados, com uma profissão respeitável, pai de filhos, mas metaleiro, adorador das bandas míticas e tal... que reclama que mesmo fora do trabalho não pode usar a T-Shirt dos Manowar que fica logo tudo a olhar. E eu pergunto... e ai? Eu pouca importância dou ao que pensam que seria melhor para mim, não pagam as contas, não me arrumam a casa...não tem voto na matéria.
Outra amiga minha, depois de estudar afincadamente num curso, dos pais terem suado as estopinhas para pagarem o curso dela, viu-se diante de uma caixa de supermercado. Problema nenhum, dirão muitos, pelo menos tem algum trabalho, dirão outros. Mas a desgraçada teve que tirar a metaleira da cara para poder trabalhar, pois a imagem conta muito. Todos os fins de semana aquela alminha volta recolocar piercings vários, demorando mais que a maquilhagem ou a escolha de roupa. Isso para alguns é ser excêntrico.
Já me aconteceu, numa aperto de última hora ter que sair a pressa para um trabalho urgente e vesti a primeira coisa que bati os olhos: com flores e tons pastel... e a minha colega não me conheceu, nem batendo no vidro me abriu a porta do carro e ouvi o caminho todo de que "essa não és tu" . Sou excêntrica, não uso a moda, nem nas cores nem nos cortes, discreta nos tons escuros, monocromáticos e me sinto bem assim. No dia que levei um lenço vermelho... :) nossa!!! que novidade, a Rakel de lenço vermelho!!! E os vivas e gloria mundi morreram no momento que abri o lenço e mostrei-o cheio de caveirolas ao estilo Dia dos Mortos do México.
Digo o que penso, muitas vezes sem filtro, tenho cá um problemita na glândula pienal (digo eu, mas acho que já é defeito de fabrico) e sai directo tudo aquilo que no momento gravita no meu T-Zero soalheiro e conturbado. Policio-me muito, nas palavras e acções que muitas vezes julgam propositadas. E não são, é tudo estilo livre.
Outro dia, a Dona Chefe saiu-se com esta : Não basta ser a mulher de César, é preciso agir como a mulher de César. Mais ou menos traduzido por: a tua dignidade passa pelo que os outros julgam que pareces ser e não pelo que realmente és. Dignidade então passa por uma série de pressupostos meticulosos e enfadonhos. Não tem base na honestidade, nem no empenho ou profissionalismo: passa pela aparência e na paciência de parecer bem.
Deve ser por isso que agora vamos no local que trabalho afivelar um tipo de uniforme. Não me queixo, vai ser preto, a minha cor de marca. Mas o facto é que será em corte clássico, o que me levou hoje a visitar uma determinada loja a procura de um blazer preto, o que me foi oferecido pela empresa não me serve (mangas curtas, costas apertadas) então entro eu com um de meu mote. Conversa vai, conversa vem, e explico que preciso de um blazer preto, porque a calça social preta tenho, explico que agora vou andar de farda no trabalho... e a vendedora sorri e me diz: "vais andar igual a nós aqui na loja."
Pois é, pois é... agora, quando sair à rua para ir trabalhar, vou parecer uma das meninas da Modalfa.
Fica a pergunta no ar... se onde eu trabalho é a "casa" onde tantas personagens das artes circulam com as suas excentricidades (algumas vezes vão para foyer vestidas com pulseiras e cuecas e nada mais), qual o motivo que leva a não poder usar uma coisa mais ao meu jeito (como esse aí de baixo) em vez de ter que afivelar uma fatiota de uma balconista de loja de roupa?
... ahhhhhhh.. pois, a tal cena de ser ou não ser mulher de César...
E a excêntrica sou eu...
Apareçam
Rakel.
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