Quem olha de fora, é como abandonar uma casa onde habitou-se durante 365 dias, onde se depositaram planos, sonhos e esperanças. Já não é a mesma casa, deixou de ter aquele cheiro a novo, as portadas das janelas já não estão pintadas de cor alegre, no chão já não se vê o tapete colorido e fofo e nem nas paredes se vêem os quadros e molduras com pessoas sorridentes.
Abandona-se o ano que se viveu com a mesma facilidade com que se deita fora algo sem uso ou valor. Na virada de 2012 para 2013 havia toda aquela enxurrada de desejos de um ano melhor de 2013 e para esquecer as agruras de 2012. Não entendo lá muito bem essa leveza de esquecer um ano assim com tanta facilidade. Mimados, embirrentos, muitos querem esquecer a sua parte nas concretizações do ano, deixando tudo, como sempre, no colo da sorte ou na aselhice dos outros.
Não consigo abandonar facilmente um ano, dizendo como todos dizem, um "ano horribilis" apenas por... que toda gente acha que foi assim. Sou uma pessoa de insistência, endurance, não espero conseguir já e agora tudo quanto quero e acho que mereço. Chego desta vez ao 2014 com a consciência que é o local que planejei estar em 2010, mais ou menos na mesma altura que comecei aqui o Teorias. Tinha planos, concretos, realistas e objectivos. Demorei muito? Acho que demorei o tempo devido, embora aceito o facto da minha incapacidade de síntese e de analisar menos e ser mais activa.
No geral, posso dizer que tem sido um processo lento, mas firme, limpo, trabalhoso mas gratificante. A sensação de traçar objectivos e concretizá-los é algo de fantástico. Olho de 2010 para cá e vejo tudo aquilo que fui conseguindo domar, lutar e ganhar. E ganhei imensamente mais do que perdi, não em dinheiro, pois nunca foi meu objectivo ser rica, mas ganhei coisas que tem um valor para além do imaginável. Recuso-me a deitar fora os últimos quatro anos da minha vida só por causa das escolhas dos partidos, das condições e necessidades de uma economia selvagem. Aprendi com a crise que viver bem não é uma questão de com quanto, mas sim de que ponto de vista. Houve tempos difíceis, houve tempos ruins, mas... sempre vi tudo como uma fase, uma maneira de aprender. E tive muitas... muitas coisas boas.
Eu lutei pelo meu ano melhor, e de cada vez que eu começava a ficar cansada e meio que com peninha de mim, tinha uma das "minhas pessoas" pronta pra me dar um chute na bunda pra acordar e deixar-me auto-comiserações.
Digamos que eu vivo numa casinha charmosa e pequena, nada de luxos, mas que dá conforto na mesma medida que me dá dores de cabeça. Quando consigo consertar a goteira do tecto do quarto, a porta da sala emperra. Ou a canalização da cozinha se recusa a colaborar... mas o jardim arrebenta em flores, cores e cheiros. A lareira me dá um calorzinho bom no final do dia e na companhia de um livro me abstrai do raio do autoclismo que anda avariado. Eu não vou mudar de casa apenas porque ela não me deu a felicidade e todas as realizações que eu tinha sonhado. Isso é tão... infantil...
Sem medos! é pegar na caixa de ferramentas, no escadote, xingar até a quinta casa o infeliz que não soube fazer bem um raio dum fiamento eléctrico ou admirar a capacidade de ter conseguido trocar uma vidro da janela. A casa não é perfeita, tal como eu... mas eu adoro viver nela. A minha casa, é a minha vida e no dia que eu deixar de ter problemas, marteladas e furos no telhado, aí sim vou começar a ter medo, pois então não tenho nada para fazer mais por ela.
As maiores felicidades para vocês... sempre.
Apareçam
Rakel.
Olá Rakel,
ResponderEliminardepois de longa ausência, boa continuação pelos dias que somam os anos.
E que para os "arranjos necessários" para cada dia acontecer, tenhas sempre alguma magia que nos transforma em bons lares para vivermos e nos vivermos. dentro de nós.
:) Miocárdio... olá!
ResponderEliminarAcho que a única "magia" que carrego na mala de ferramentas cá dos arranjos, é mesmo o humor. Acho que sem senso de humor... qualquer arranjo se torna difícil de concretizar.
Bom ano para ti e com poucos sobressalto cardíacos...