Foco



Cada um tem a sua perspectiva de vida, e na minha modesta opinião, isso é válido e respeitável, embora muitas vezes não concorde muito com algumas escolhas.
Ter objectivos estruturados, religiosamente seguidos, podem ser tão bons quanto a sua respeitabilidade, como cretinos quanto ao uso da teimosia. Há quem teime num ponto e vê nisso um foco de vida.

Na maior parte das vezes, as pessoas investem num ponto como prancha de salto para outras coisas, inquestionável sim, precisamos de alguma preparação antes de nos atirarmos para outros patamares. É nisso que muita gente pensa quando só focaliza o seu lado profissional em detrimento do lado pessoal: trabalha até mais não em prol do conforto da família, dando possibilidades de terem coisas. E muitas vezes o que a família pede é tempo para que desfrute com eles dessas coisas conquistadas. Faltam aos aniversários, saltam fora dos nascimentos, estão demasiado ocupados para uma saída ao Domingo e cansados demais para prestar atenção em como os filhos crescem, as coisas que os seus companheiros de vida fazem e gostam. Estão tão focados neles mesmos (embora sejam assim só para proporcionar coisas boas aos seus) que os outros desaparecem na equação.

Foco e teimosia são parecidos mas distantes no resultado. O foco ganha significado positivo quando uma pessoa conhece-se o bastante, conhece o que o rodeia e sabe o que deve ou não saber fazer. E mais importante que tudo: o limite. Teimosia não respeita limite e ganha pelo cansaço da insistência, sem que com isso seja uma vitória merecida, eu sei isso de cátedra, admito que sou teimosa... e vou trabalhando nisso com...foco, coisa que já tem mostrado resultados.

O que começa por ser uma dieta para o bem estar, pode descambar num distúrbio alimentar num piscar de olhos. E tudo baseado num foco de boas intenções. O que começa por ser uma relação, acaba em obsessão; o que começa como fé acaba em fanatismo; o que começa com melhor acaba em pior; o que começa por coragem acaba na arrogância... e por aí vai.

Há certos focos que não percebo lá muito bem. Como por exemplo um filho da puta que de uns dias para cá telefona pelo menos umas 30 vezes, hoje como é domingo, ultrapassa largamente as 30 chamadas. Não diz nada, e não percebo nem o foco nem a estupidez ao cubo de deixar o número visível e detectável. Foco em gente cretina, e no caso deste, acaba em queixa as autoridades competentes.

Depois tem aquele foco de quem deseja que o foco do outro seja igual ao seu. E lá em baixo, num post que fala dos planos e toda essa coisa de racionalizar paixões (e que dá com os burros n'água), afectos e amores, há esta infantilidade de pensar que, só pelo facto de numa conversa acharem pontos coincidentes ou comportamentos que encaixam nas visões pessoais de "correcto" ou "certo" é o jackpot da relação.
E isso basta para pensar que os focos são iguais. Quando na verdade, muitas vezes querem atingir um fim direccionado pelo foco que encontra,ou como sabemos bem, atingir um fim usando as armas que tem. Daí que não seja nada de estranhar que, passado um tempinho curto, dê-se conta que afinal... era tudo faz de conta. Amuam, ficam tristes, jogam nas mãos de deus a fé que tudo há de melhorar... quando deveriam começar a mudar um bocadinho a visão de como e o que quer na vida.

Mudam-se muitas vezes as alguns detalhes do foco para conseguir um único objectivo de felicidade; não sei até que ponto não abrem mão de coisas muito mas muito pessoais para atingir esse fim, e de que um a maneira ou de outra, acabem por fazer batota a si mesmos. O tal "engolir sapos" famoso na nossa sociedade correcta e estrita.

Se há algo que realmente tem me mostrado que falha, é que planear tudo, racionalizar tudo, escapa do controle e fica a mercê das ironias da vida, do que realmente precisamos e aquilo que deixamos de ter por sair fora do foco. E aí percebemos que o que se perdeu foi tempo, deu-se desgaste emocional, desilusão e o que realmente se quis colocar em zona de controle do foco... era justamente aquilo que fazia a felicidade plena. Família, amigos, lazer, bem estar e amores controlados e direccionados geralmente acabam perdidos no meio de tantos planos infalíveis... que acabam por ruir.

... tantos planos e vive-se tão pouco...

Apareçam

Rakel.

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