Esse Tal Do Cover



Há quem faça perguntas complexas, do tipo, se o filme A Vida De Bryan fosse feita pelo Quim Roscas e Zeca Estacionanço e não pelos Monty Python, ou se Kashmir fosse editado pelas Spice Girls e não os Led Zeppelin, como seria esse mundo, perguntam muitos, num livre exercício filosófico.

Eu só pergunto, qual o grande problema dos covers. Ok, a maior parte dos músicos sentem-se no direito (sim senhor, é vosso) de proclamarem que as suas criações servem de catapulta para o sucesso de outros.  Por essa linha de pensamento, só quem criou e fez sucesso pode tocar essas músicas ou até o poder de negar remakes dos seus filmes. Novas versões, covers, remakes, novas edições. Não sei, não li a recriação dos Maias que andam por aí a dar que falar. Mas acho criativo. Assim como pegaram em Romeu e Julieta umas tantas vezes e deram várias voltas em filmes em cada década ou geração.

Reciclagem, renovação.

Se fosse por essa ordem de coisas, nunca mais teríamos o prazer de ouvir uma ópera, já que Puccini faz tijolo há que tempos. Portanto, La Boheme está fora de cogitação, na voz de quem quer que seja. Isso quer dizer também que Maria Callas fez sucesso em cima de uma data de compositores mortos e não por talento próprio. Nááááá´... não me parece.

Um dos temas que andou por aí a fazer sucesso, que começou na voz de Tim Maia, passou pela Sandra de Sá e acabou no Caetano Veloso, Sozinho, foi composto por Peninha. Vocês sabem quem ele é? Mas acham que ele se sentiu pouco honrado, pouco elogiado por ter... vá, dois grandes nomes da MPB como o Tim e o Caetano a cantar a sua música, mesmo que com roupagens diferentes? Não conheço melhor elogio, desconheço a melhor forma de perpetuar algo de uma pessoa.  Mas há quem não pense assim. Num país como o nosso, onde qualquer tipo de manifestação cultural é um processo doloroso, em que a pessoa embarca no tratamento odontológico sem anestesia, é factual que os compositores só apostam em pessoas que de antemão sabem que eventualmente vai dar sucesso ao seu trabalho. Quem vai jogar nas mãos de uma banda ou de um cantor em começo de carreira uma letra acabadinha de fazer?

Entendo que o panorama actual da cultura nacional seja precária, perto da falência técnica, onde encher uma sala custa muito, dá dores de cabeça e com lucros baixos. Divulgação acaba por ser na T.V, e mal de nós sem os programas da tarde, com as queridas de óculos pendurados na cana do nariz, que fazem entrevista do mundo cão e anunciam ao mesmo tempo a roda milionária. É aí, no meio de uma Conceição ou de palminhas pagas que divulgam o seu trabalho. Rádios não favorecem um JP Simões, uma Márcia ou uma Gabriela Barros. Favorecem aquilo que as etiquetas apostam, no consumo e descarte rápido. Não tem outro remédio...

Daí que cover é um cartão de visita, uma forma de poder mostrar talento, criatividade e de certa forma, homenagear alguém.
Palavra de honra, prefiro ouvir um I Was Made For Lovin'you dos Kiss na voz de uma Maria Mena, ou um Simpathy For The Devil na voz dos Tiamat do que o original dos Rolling Stones (tenho um problema de afinidade com o Mick), prefiro o Enjoy The Silence na versão dos Lacuna Coil, sem desmerecer os Depeche Mode. Gosto de ouvir a versão dos RAMP do Planet Earth dos Duram Duran, de um Diogo Piçarra que canta Se Eu Fosse Um Dia O Teu Olhar, mil vezes melhor que o dono dessa música, que cá entre nós, abespinhado sentiu-se ofendido e disse que o rapaz estragou a música, num gesto de pura birra de Divo. Mas o Diogo pelo menos canta... não fica a gemer..

Isso dos covers, que me perdoem os fundamentalistas, serve até para ir buscar de volta os que começaram a história. Quando algo é bom, quando algo marca no tempo e no espaço é normal que procurem recorda-la nem que seja do jeito que entendem. Não se cantará mais Estranha Forma de Vida, já que Amália foi pro Panteão? É dela e só dela a Gaivota?

Que eu saiba, ninguém reeditou "Deixei Tudo Por Ela", por óbvias razões, duvido que haja um cover de A Minha Xuxa e essas cenas altamente criativas. Mais construtivo seria se os músicos, letristas, compositores e criadores forçassem as rádios a começarem a divulgar mais os trabalhos de qualidade.

Deixo duas coisas, um do JP Simões e Márcia e outro o Projecto SEDA, o primeiro com um original e o segundo um mal acarinhado cover. No fim das contas, acho que tenho razão...







Apareçam

Rakel.

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