In Flexão




Não vim aqui agora abrir um post em jeito de "final de ano e balanço dos posts e afins", mas de certa maneira, tenho que olhar com uma certa franqueza aqui pro meu acanhado espaço, onde esbaldo-me nas minhas conjecturas e teorias. Não, agora venho para lançar uma certa crítica.

Auto-crítica não será necessariamente uma coisa má. Na maior parte das vezes é aquela tal arrumação interna, necessária e sem ambivalências; no geral, se uma pessoa for correcta consigo mesma, consegue dar uns tapinhas nas costas num "muito bem" interno, como pode se chutar por ter feito deliberadamente uma cagada. Aí vai da consciência e formação de cada um.

Vendo bem assim de longe, num olhar crítico de quem lê este espaço pela primeira vez, acho que em 90% das vezes tive a capacidade de acertar em muitas coisas, do que vejo, do que entendo e do que consigo passar cá pra fora. Os 10% que sobram, admito que foram meios particulares de processar alguns acontecimentos pessoais, coisas que acabo por ser a única que assim o entende. No lado positivo, fica a clara certeza de que esses 10% continuam onde tem que ficar: lá bem atrás, no comecinho do blog. Como tudo na vida, cada coisa tem seu tempo, seu lugar e significado, e talvez seja essa a maior utilidade, neste caso para mim, a dar-me conta de quanto venho a amadurecer.

Gosto de observar, gosto de ver como as pessoas constroem a sua própria sorte, entre os erros e acertos, as negligências, o colocar para depois o que acha que há tempo pra isso mais tarde. Os adiamentos são uma constante, toda gente adia o inevitável, tenta ganhar tempo, coragem e balanço, mas sem dúvida, acaba mais cedo do que pensa a ter que enfrentar os factos.

É verdade, muitas coisas do blog partem da minha óptica, nem sempre agrada as massas, não tem grande fundo científico, uma parte de cinismo outro tanto de sarcasmo, no fundo uma mistura do que eu vejo e interpreto. Nada longe daquilo que toda gente pensa. Só que eu escrevo.

Bom, andei lá pelo começo do blog, dando uma relida em assuntos que ainda hoje fazem sentido... outros tiveram o sentido que tinham que ter naquela altura. Isso deu-me que pensar.
Eu mudei? Mudou a minha forma de pensar? O mundo mudou? Ou será que só agora eu reparei nos detalhes que antes me passavam ao lado?

...

Aceito o facto de que eu tenho fortes convicções, elas são a minha base como pessoa. Eu não as agreguei à mim assim de graça, são coisas que me cabem bem, não por comodismo, mas por que fazem mais sentido.
É facto que estou longe, muito longe da mulher Perua, aquela que vive da moda e para a moda, aquela que consegue ter o cabelo sempre impecável, em cima daquele saltão com plataforma, mesmo que incomode, pois a moda assim o exige. Perco-me pelos livros, nos enredos dos filmes, perco a noção do tempo quando estou num lugar que gosto e me perco em divagações nem sempre sérias.
Longe também fico da aceitação pura e simples do que se supõe como aceite e certo, sem contestar, questionar e esmoer até ao limite.
Noutras partes há coisas que encaixam em mim por simples fé nelas, aquele encaixe perfeito e sem explicação, mas que faz dlim-dlim cá dentro do T-Zero. Por outro lado, as minhas "fichas" caem lentamente, talvez será pelo facto que penso muito...

Há coisas impossíveis de mudar cá dentro, desarranjar ou reformar por completo: não aceito heróis das revistas, as mães coragem colunáveis, quando na verdade, a maior parte dos verdadeiros heróis são anónimos. Da mesma forma que não acredito, não compro o preceito de parecer e ter seja melhor do que ser. Eu acredito que as pessoas valem pelo que são, pelo que fazem. Não posso aceitar que um par de golos possam fazer de um C.R o salvador do país a caminho dos 24% de IVA.
Maradona foi um ídolo um herói de uma nação... e deu no que deu.

Durante grande parte da minha vida acreditei que esta vida é apenas mais uma de outras tantas que já vivi. Tanto se me dá como se me deu se o Budismo assim o prega, Kardec ou outra religião qualquer, ou que quem me lê acredite ou não. Eu funciono pela lógica (embora a minha seja muito peculiar) e não consigo aceitar que a vida seja só isto, que isto que anda cá dentro, a alma, a que se eleva ou se entristece, morra com o corpo. Da mesma forma não acredito num Céu com anjinhos e S. Pedro de porteiro, como não acredito num Inferno com o Capeta a jogar xadrez com o Hitler. Nem toda gente é 100% bom, nem ninguém é 100% mau.

Daí que este post, assim longo, meio intimista, sirva como marca livro de duas coisas importantes que li e que me fazem pensar... que até agora o meu T-Zero anda a funcionar bem, apesar das bocas reacionárias, e que apesar da minha leve pancada tem seu quê de certo.

O primeiro assunto é este, que fala de como as pessoas, por uma certa insatisfação ou com uma auto estima ao nível de umbigo de cobra, investem no parecer do que no ser. Verdade seja dita, o culto do corpo está de pedra e cal, a mulherada motivada a ficar com corpo digno de um Schwarzenegger, marombado e masculinizado. Por outro lado, há um boom de homens que, como Caetano fez na década de 70, descobriram o seu "lado mulher". Quando... mas quando é que jogador de futebol tinha estilo de cabelo? Ou era ícone de moda?
Muitas vezes eu achava que tinha investido na parte errada, que no que gastei em livros, filmes ou uma ou outra antiguidade, passeios e tals, devia ter investido em recauchutagem. Náááááá... cheguei à conclusão que realmente eu fui pelo caminho certo, que valeu a pena o investimento na minha massa cinzenta, porque afinal, não é rapazes? o que importa numa mulher é o que ela é, não o que ela parece... certo? O resto é conversa...

O segundo assunto é este aqui, onde um cientista, e não é um qualquer, é um físico quântico, defende a teoria de vida após a morte do corpo. Ora bolas, andou tanta gente a arder nas fogueiras, exorcizadas e excomungadas por conta de acreditar na vida após a morte e na reencarnação, para chegarmos à isto, um cientista que pega num conceito tão antigo como a humanidade para dar-lhe crédito.
Talvez agora, esta quantidade de cépticos cimentados na vertente científica consiga agora engolir, a custa de muita becel, esta tese.
Já tinha comentado, que certamente, no dia que a ciência provasse a questão da alma, da reencarnação, nós que acreditamos nisso sem outra base do que a nossa fé, ganharíamos a respeitabilidade que nos cabe e que sempre merecemos. O que é deveras triste... há praí tanta gente com tanta coisas aberta... menos a mente...

Será por isso tudo aí em cima, pelo facto de acreditar, não por falta de opção ou por imposição, deste meu feito lixado de questionar, pensar e repensar, de observar, trabalhar e agir conforme a minha ética (certa, errada, whatever), cheguei onde cheguei com umas tantas certezas:

Erros meus, escolhas mal feitas, são minha responsabilidade. Acertos, vitórias, idem aspas, mas sem esquecer uns tantos que caminharam comigo, mesmo sem muitas vezes entenderem bem o meu T-Zero, mas que me ajudaram a conquistar uma data de coisas... nem que seja pelo simples facto de terem oferecido a oportunidade.

... e talvez, talvez por tudo isso, por tudo que já vi, vivi e escrevi, eu continuo a ver que, um copo a meio, não é um copo meio cheio o meio vazio. É meio de qualquer coisa. Será da idade, será exigência minha, mas não me apetecem meios copos seja do que for.

É tudo ou nada.

... meio é só a preguiça de encher ou esvaziar...

Apareçam

Rakel.

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