O Karma, A Saúde E Mais O PDI ou Eu Me Amo



Karmaticamente falando, nasci com a pontaria de morar no topo de subidas, pior, desta vez ainda por cima num prédio sem elevador, o que fez das mudanças um divertimento sem fim de nódoas negras e a auto censura do porque raios comprei móveis tão pesados...

Por isso mesmo, o facto de todos os dias ter que subir uma ladeira, leve ou carregada de tralha, nunca me fez diferença. Talvez até tenha sido essa a razão pela qual nunca me fiz de rogada nas caminhadas, as minhas pernas aguentam. Digamos que sou uma rapariga de "endurance", daquelas que aguentam no seu próprio ritmo as lombas da vida, literais ou metafóricas.

Aí, sorte minha, a empresa aonde trabalho instituiu (e bem) que deveríamos tirar uma hora da nossa carga horária em benefício da saúde. Tudo muito certo, tudo muito bonito, mas as escolhas que nos apresentaram foram poucas : Circuito, Natação e Cross Training. Aqui é que a coisa apertou feio: natação- eu não sei nadar... sequer boiar. Meu real problema nem é ter medo, é mesmo pânico de piscina. Aí pensei... bom, tem o circuito, mas tem que correr, intercalado com umas flexões e tal e couves. Náááááááá... vou mas é pro Cross Training, meia hora de vários tipos de modalidades e a coisa fica feita.

Eu tenho mesmo um dedo podre para escolher coisas para mim...

Então ontem, nós (sim, porque houve quatro vítimas) eu e mais três colegas nos equipamos e lá fomos cheias de boas intensões e mais um par de botas de basófias pelo corredor até ao Ginásio 1. Na nossa inocência, íamos comentando das nossas perspectivas de melhorar a nossa saúde, ou como parecíamos aquelas actrizes nos filmes e novelas indo para o treino e depois comentando sobre modas e tal. Eu até já ouvia na minha cabeça o tema do Rocky, aquele enquanto ele treina pra ser um campeão...

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... e a ficção se tronou numa dura realidade...

Respirar direito? Nem deu tempo pra pensar...quanto mais respirar. Fazer um lote de 5 exercícios em 5 mil RPM, eu quando começava a pegar jeito numa mudava logo pra outra... Flexões, meus deuses, flexões com mamas não dá jeitinho nenhum... e aí a máquina afinou: começou aos sacões no peito e desritmando em cada pulo... e fui afrouxando.

Três restos de massacre se arrastaram até aos balneários, para o duche regenerador, eu nem pra tirar a T-Shirt tinha forças, os braços não me obedeciam de jeito nenhum. Na minha cabeça a banda sonora mudou para Pesadelo em Elm Street e já me via encomendando a alma ao criador. Não, não tive aquela sensação boa pós- esforço das endorfinas no corpo, nem me senti motivada a continuar. Foi no seu mais puro sentido, aquilo que nos Comandos chamam de GAM - Ginástica Até a Morte.

No sarcasmo bem humorado das colegas, veio a baila a segunda dose na semana que vem, mais massacre, mais dores e uma perspectiva nada animadora de trocar o Light Blue da D&G pelo cheiro do reumogel, mais a incapacidade de apertar o sutiã, coisa que só conto fazer no auge da velhice, lá pelos 120 anos.
No final do dia... voltar para casa e olhar pra puta da ladeira a minha espera, foi duro. Mas ainda por cima saber que ia subir com saltos altos, é caso pra dizer: "tu não te amas Rakel!" ou "dedo podre outra vez para escolher roupa em dia de massacre.

Se me perguntarem hoje como me me sinto? Pernas não me doem, anos e anos de ladeiras e caminhadas adomaram as minhas pernocas. Barriga não me dói nem uma nica, pode não ser a mais lisinha, mas é forte. Mas os braços, costas e dorsais... estão num fanico. Levantar uma pasta, virar o tronco, puxar uma gaveta... meu, até pentear o cabelo é um problema! De manhã, depois de ter pensado seriamente em colocar um sistema de roldanas e cordas para erguer este corpinho airoso do pouso (já que o tronco fez greve e resolveu não colaborar) olhei-me no espelho e pensei: "Olha o fator PDI (Puta Da Idade) Rakel, vê se colocas a cabeça no lugar..."
Mas, justiças das justiças, as minhas colegas (menos uma ranhosa de 20 anos que faz abdominais em casa e acha bom) mais novas que eu também não estão a 100%, queixando-se de virilhas, costas e braços. Não foi PDI, foi da sacanice do treinador (e por acaso nosso colega de trabalho) que resolveu dar uma dura (no mau sentido) nas colegas.

A bem da verdade, a chefe anda em cima da malta e abana com a hora de saúde contra uma falta por dia por incumprimento, mas até agora ainda não a vi fazer nada de nada.. a não ser morfar broinhas de café e mandar vir. Algo para começar a gerenciar...

Depois desta cena marada de "mente sã em corpo são", de saber que o nosso colega afinfou-nos um treino digno dos Comandos e que afinal das contas, eu me amo... mudei e vou pra Ioga. Faço força na mesma, é exigente na mesma, mas catano, é ao estilo do Alentejo... lento e deitado.  :)

Apareçam

Rakel.

 * os quatro sacos são das corajosas sobreviventes do dia fatal. True.

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