Seria eu uma grande hipócrita e uma deslavada mentirosa se agora viesse para aqui a lançar uns bitaites armados em moralista, de que o amor deve ser vivido só entre homem e mulher e ponto final.
Que fique bem assente: eu não tenho nada contra o amor entre as pessoas, seja quem for, desde que seja consensual, amadurecido e sincero. Não aceito a pedofilia nos mais variados e camuflados meios de o permitir, como no caso da cultura islâmica. Uma criança é uma criança, um adulto é adulto e ponto final.
Só que agora... há um certo movimento cultural e social que me deixa preocupada. Do dia para noite surge esse boom de "eu me assumo gay". Vira capa de revista, vira convidado de programa de T.V, faz livro, tira foto e tal e coisa. Mas esse assumir acontece apenas no meio artísitico, pois conheço muitos gays ou bissexuais, que o são há anos e não colocam o assunto em página de jornal... porque são anónimos cidadãos e só diz-lhes respeito. Estes tenho um profundo respeito pela forma como vivem e são na vida.
Mas agora é moda ser gay, como ser loira, ter bundão de silicone ou gajo com abdômen six pack, o SUV o cão grande de raça, as unhongas de gel com desenhos e escrever livros de dietas.
Desde Freud até ao revolucionário Kinsey, fala-se que o ser humano nasce bissexual e que depois dirige a sua orientação sexual de acordo com a sua vivência e o meio social onde vive. Portanto é uma escolha, não um fenómeno ou acessório social. E porque resolvi fazer este post? Porque achei imensa piada a declaração do Morrisey, antigo vocalista dos Smiths, sobre uma determinada passagem da sua auto biografia e onde afirma ter tido uma relação com um tipo."Infelizmente, não sou homossexual", declara o ex-Smiths, mas um humanossexual.
A única coisa que não entendo é este encarrilhamento do "eu também" que vem sendo notório principalmente no meio artístico. Detesto o rótulo de que todo artista é panasca, ou quando mulher, uma grande vaca. Há praí umas tantas quantas anónimas a pastar placidamente nas verdejantes planícies da nossa sociedade menor, a dos anónimos, sobejamente conhecidas pela volatilidade das suas relações e nem por isso notícia de revista cor de rosa.
Mas também me pergunto, porque raios é tão importante assumir publicamente a sexualidade que tem ou que prefere, já que isso não interfere, não melhora ou piora a prestação artística deles e delas? Ou também vamos passar pelo boom das posições do Kama Sutra? Ou talvez os fetiches? Isso é mesmo importante?
Não sei realmente se as nossas escolhas tenham que passar por uma aprovação e pelo assumir de uma certa elite para serem aceites como tal são, apenas escolhas pessoais. Será que pelo andar da carruagem, nos dias vindouros, serão os hetero alvo de perseguições, ameaças ou separatismo? É que o ser humano tem essa tendencia natural aos paradoxos comportamentais e depois exige posturas sociais para organização e categorização dos cidadãos. Como que se a respeitabilidade fosse um único detalhe na vida das pessoas, a forma como sente o prazer ou como se sente realizado emocionalmente.
Acho bem que cada uma viva a vida tal qual a sente, acho bem que as pessoas deixem de lado o que os outros querem para fazer o que quer na vida. Mas no meu ponto de vista seria algo de tão natural como tudo o resto, sem alardes, sem exposição.
Embora uma certa insatisfação reine na nossa mesa lá do trabalho na hora do almoço, em que vamos desfiando a lista dos mais recentes giraços que decidiram sair do armário, vamos levando com optimismo a vida, pensando na sorte que ainda há de existirem homens que amem as mulheres... e é verdade, os giraços estão em vias de extinção do lado hetero. Mas por outro lado sobra tanto grunho macho que desmoraliza...
Algo me diz que a grande revolução social do século XXI é a sexual, feita de armários abertos e muita gaja de chicote na mão vivendo nas muitas sombras cinzentas de uma sexualidade morna...
Apareçam
Rakel.
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