Felicidade



Poderemos dizer que a felicidade é o centro do nosso universo pessoal, tão centrado e tão nosso como o umbigo na barriga. Somos extremamente egoístas no que toca aquilo que ambicionamos e gostamos. É tão nosso, mas tanto, que tem corpo e personalidade própria. Mas a Dona Felicidade parece uma daquelas damas que se faz cara, que custa a aparecer, mesmo que a gente prometa que vai cuidar bem dela, provendo todas as mordomias que ela deseje. Ela é como aquela parte do Carmina Burana, embora fale da sorte, a felicidade é volúvel e ao nível da Lua... inalcançável.

Lembro de lá pelos meus... 18 anos, quando uma professora pediu que nós, o futuro do país, escrevêssemos sobre aquilo que desejávamos para o nosso futuro. Meus colegas, mais inteligentes do que eu, colocaram desde a paz do mundo ao fim da proibição da erva. Eu, inocentona e sincera demais, só coloquei duas palavras à questão: "O que desejas para o teu futuro?" e eu respondi um muito escorreito : "Ser feliz."
Fui chamada de parte, uma longa exaustiva conversa em que eu tentava provar que não era uma suicida potencial, mas uma jovem com consciência que felicidade é mais ou menos como uma cenoura à frente do burro. Nesse tempo em que eu via as coisas muito na base do preto ou branco, as coisas comigo eram assim mesmo, ou somos ou não somos. De certa forma, continuo a ser e não compro muito essa cena do mais ou menos. Mas aprendi a prova dos nove e soube ver outras coisas depois desse tempo.

Aprendi que felicidade ou ser feliz depende muito mais de nós do que aquilo  que esperamos da vida. É verdade, exijo a minha fatia de boas coisas, isso sem ter que lutar por cada detalhe ou pular todos os obstáculos para alcançar. Mas uma coisa é certa, eu faço, construo a minha felicidade. É bem verdade que eu perdi praí uns bons 20 anos até chegar à essa conclusão. Mas não vou dá-los como perdidos, digamos então que fazem parte da aprendizagem (mas meus deuses, como eu sou lenta e analítica demais...).

Percebi uma coisa interessante... a minha felicidade pessoal e tão importante para mim como a felicidade dos meus, e quando falo meus, são as pessoas que estão na minha vida de forma constante. Não acho que haja muita alegria ou que alguém se sinta realizado com a desgraça alheia. Mas é uma pena ver gente com imenso potencial dar com os burros n'água, estrondosamente.

Mas o que raios será felicidade?

É acordar bem? Ou o sabor do café, o pão quentinho derretendo a manteiga e aquela amnésia selectiva da dieta em cada mordida ou mandando a etiqueta dar uma curva e molhando o pão no café? Será o sorriso do filho? Ou o dia de céu azul? O telefonema do irmão ou a satisfação de chegar ao local onde realmente gosta de trabalhar? Será o livro que finalmente encontrou ou a operação que correu bem à mãe? A música que há tanto não ouvia passou agora na rádio? Achou a prenda perfeita ? Ou foi só o facto de tudo estar no maior caos e mesmo assim fazer tanto sentido?

Se calhar é isso tudo. Mesmo quando as coisas correm bem e certo nas nossas vidas, ficamos cegos. Estas coisas que chamamos de quotidiano são mecânicas, e como fazem parte de um grande todo, temos esta inclinação para toma-las como coisas normais e passamos por cima. Não valorizamos. Colocamos alguns objectivos difíceis no nosso caminho para justamente termos algo pelo que lutar. Acho bem, acho óptimo colocar desafios, puxar pelos nossos limites e nos questionarmos naquilo que somos ou não capazes. Mas não custa nada ver a felicidade nas coisas simples e nas coisas boas que acontecem nas vidas das nossas pessoas.

Duas das minhas pessoas estão felizes, no fim de uma longa batalha entre processos inteligentes e uma certa teimosia militante, estão bem, felizes. E eu participo nessa felicidade por gostar muito dos dois, por saber que nem toda gente tem a os requisitos todos para alcançar esse tipo de felicidade. Ela e ele certamente saberão que a felicidade que sentem estende-se à mim e aos demais chegados.

Não há fórmulas perfeitas de felicidade, nem mecanismo que faça por obra e graça dos altíssimos iluminados, que fabricam do nada e por, se calhar, nos escolherem como os únicos a receber essa benesse.

Não vou dedicar este post só à vocês dois... nop. Vou dedicar à toda gente que sabe que a felicidade pessoal passa por muitos processos, escolhas assumidas e principalmente, com a consciência de que não enganam ninguém... nem a si mesmo.É começar por construí-la e enxerga-la.

E o resto... o que os outros pensam ou deixam de pensar... é problema dos outros.

Apareçam

Rakel.


Comentários

  1. Linda, inteligente e com sentido de humor... e agora deu-me pra só querer copos cheios... :)

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  2. Nem mais! É o que mereces e tens direito e está tudo dito!

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