E As Noites Já Pedem...

aquele cantinho confortável onde a minha cabeça se esquece do mundo, nos livros, os velhos conhecidos e os que acabo de conhecer; da manta velha e o casaco desbeiçado mas tão quentinho, com bolsos largos para guardar os papéis dos caramelos favoritos, o puf que segura confortavelmente as minhas pernas com o gato em pleno abandono em cima delas.

Já me apetece a sopa quentinha, a chávena de chá e os biscoitos de canela, os horizontes já diluindo o tom rubro e queimado anunciado outro dia de suadouro, mas dando lugar aos rosas e lilás até diluir no azul escuro da noite. Já não me apetece o cheiro a queimado dos incêndios, de ver cinzas pousando nas minhas varandas, mas já me apetece é ver queimar na lareira as pinhas e uns troncos servindo de chão para o bailado hipnotizante do fogo.

Já se adivinham folhas a mudar de cor, os cheiros vão mudando assim como vou resgatando os velhos conhecidos sons: Nina Simone e Edith Piaf, meninas que só soube apreciar a companhia faz muito pouco tempo (tendo em conta o quanto de pedra e metal me corre nas veias) e Ray Charles meneia a cabeça enquanto acarinho os preferidos: Apocalyptica, Sonata Árctica, Northern Kings, Led Zeppelin e todos os outros que acompanham os dias curtos, as noites longas de céus cinzentos e chuvosos.

Hoje tem sido uma noite de Nina e Apocalyptica, sinais reais de que a minha alma já pede que os dias desacelerem...

Não existem mundos perfeitos e pessoas perfeitas... e assim me explico pelo facto de desejar que o Verão chegue logo, como quero despedir-me dele logo que possa. O que para muitos a perfeição possa ser continuidade, para mim será monotonia. O inesperado, as ironias da vida, as reacções das nossas acções, o burlesco e o socialmente correcto, a minha visão e a sua visão da vida. Isso é movimento, isso é vida.

As noites já pedem o tamborilar da chuva, das noites de filmes e pipocas todos ao molho no sofá. As jogatinas de damas ou bisca lambida, mau-mau e até me arrisco no xadrez, sem saber um único lance daqueles que tem nome de gente que nem sei quem são.

O tempo lá fora, pode teimar em dizer que o Verão não acabou... mas a minha alma já entrou em modo de Outono e pede tempo para a renovação primaveril.

:)

Apareçam

Rakel.