Nem Tudo, Nem Nada



Quando publiquei o post abaixo, a Carla, uma amiga minha que agora vive noutro país, comentou em conversa que a humanidade tinha perdido os seus valores, noutras ocasiões, outras pessoas comentavam o mesmo: a humanidade caminha para a sua própria morte. Admito que não concordo, não pelo facto de ser do contra por princípio, mas sim pelo facto de que Eu faço parte da humanidade e que conheço muita gente que vale a pena. Portanto, sem falsa modéstia, eu acho que valho a pena, que até sou uma boa pessoa e que não mereço um rótulo colectivo só por causa dum punhado de ranhosos. Eles não representam toda a humanidade...

Pondo na balança, temos que ser mais pragmáticos: a humanidade somos nós, o mundo é feito por nós, pois... nós, os que acertam umas tantas vezes e que depois metem a pata na poça até ao joelho noutras ocasiões. Acho interessante esse processo de erros e acertos, de aprendizagens constantes. Não acho que seja verdade aquela máxima que muita gente repete, que não se arrependem de nada do que fizeram, mas só do que deixaram de fazer. Eu me arrependo de ter feito uma série de coisas, mas também percebi que ao fazê-las e batendo com a cara no chão... aprendi imensamente.

O tudo ou nada que hoje se cultua, essa necessidade de rejeitar tudo o que não entenda, que não dá satisfação imediata e ilimitada, que não sabe o que fazer com aquilo que nem sempre é fácil e ao mesmo tempo que aceita-se e deseja-se somente aquilo que nos agrada, terá ou não feito de nós uns grandes mimados e preconceituosos? Será que um Nobel da paz faz de uma pessoa um real pacifista? Isso é tudo de uma pessoa?Definirá ao mesmo tempo que, os que sem alarde vão construindo boas coisas, mas na sombra, faz deles junto com o resto da "humanidade perdida" um sub-produto social?

De verdade... não acho piada quando dizem que todos  os homens são iguais, que não prestam. Da mesma forma não gosto que digam que todas as mulheres são loucas e histéricas. Que todo pobre é ignorante ou que todo rico o é ilicitamente. Que esta geração toda está perdida, que todo artista é genial ou que mulher independente é fria. Posso até brincar um pouco com os esteriótipos sociais, mas na verdade, falando bem a sério, não acho que ensacar tudo junto na humanidade faz sentido. E juro, não acredito que uma pessoa seja a vida toda sempre igual, a cem por cento. Se assim acontece, aprendeu o que na vida?

O mundo e a humanidade são, tão diversos, com tantas opções, que esse tudo ou nada exigido por uma certa dose egoísta, limitadora, é quase uma blasfêmia. Pelo jeito, e nessa corda de força com extremos tão absolutos, não há chances, não há recomeços e nem oportunidades. Ou então, já sabendo que é disso que o mundo se faz e espera, jogam a toalha no chão logo no primeiro tropeço, na primeira falha ou na falta do prémio justo que esperam em troca. E eu conheço imensa gente que não vive a espera a medalha no peito, o diploma de reconhecimento ou a reportagem na Tv. Vivem tranquilamente com a própria consciência, que até funciona bem, com a satisfação do trabalho bem feito, da paz de espírito conseguida.

Dessas pessoas, que se riem das próprias argoladas, que sabem levantar-se depois da queda, que não jogam nas costas largas do azar as culpas e que fazem por melhorar, tenho um profundo respeito. Nem tudo é tudo errado, nem tudo é completamente certo, e nessa mistura dinâmica de situações, de saber ultrapassar o pior, tiram-se grandes lições, boas ferramentas de vida.

Há coisa de mais ou menos 2 anos, ando a riscar da minha lista mental e pessoal uma série de objectivos, coisas simples para alguns, mas preciosos para mim, e de cada vez que risco mais um, de cada vez que alcanço um patamar, aceito o facto de que errei desgraciosamente em algumas coisas e acertei estrondosamente noutras tantas. Mas aquilo que tomo como maior aprimoramento pessoal, aquilo que eu acho que valeu como aprendizagem, deu-me uma grande tranquilidade, um entendimento tamanho, que as coisas ganharam (ou em alguns casos perderam) o valor que muita gente dá ou faz das coisas da vida.

Não estou mais rica, nem mais linda e maravilhosa do que já sou, apenas me sinto mais satisfeita comigo, cada vez menos preocupada com o que os outros pensam de mim e cada vez mais admirada com aquilo que, aos poucos vou descobrindo de mim mesma. E aí está o grande lance, a maravilha das maravilhas, saber-se que por muito tempo que passe, ainda há coisas que desconhecemos de nós mesmos. E descobrirmos, sem apoios de livros segredados, nem de gurus e prolíferos escribas, que somos ainda terra por desbravar, será ou é das coisas mais excitantes que existem.

O tudo e o nada servem de absolutos extremos, servem de motivo de separar, desagregar, desmontar... e são tão subjectivos.

Se o mundo é aquilo que pintamos dele, o meu, da minha parte, pode não ser perfeito, mas tá mesmo muito bom como está.

Apareçam

Rakel.


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