Se ainda não repararam, reparem então: enquanto que o tamanho dos pratos aumentou para mais do dobro de há um século para cá, mas os apartamentos vem encolhendo na mesma proporção. Portanto, ao mesmo ritmo que comemos mais encolhemos o espaço onde vivemos. Cozinhas Liliputianas (quem não conhece o termo, que comecem a ler as Viagens de Gulliver) quartos claustrofóbicos, enfim, o espaço feito em curvas, cantos obtusos e de uma arquitetura que, se não é de vanguarda é esquizofrênica. Ou que seja, agora chama-se designe um delírio pós Dadaísmo. Vejam bem... um quarto feito em círculo quando camas e colchões são rectangulares, fazendo de nós esquimós em iglu de tijolo. Colocar um quadro ou uma cortina num quarto assim... é obra. Uma vez, sugeri decorar o quarto ao estilo "Masmorra", sempre dando um ar de Torre de Londres antes de alguma guilhotinada. :)
O espaço vem sendo usado de forma diferente, os tectos baixaram, as cozinhas encolheram e os armários fazem as vezes da despensa. Quarto é só mesmo pra dormir, portanto acabou a história da poltrona para ler, o cadeeiro de pé alto ou a nossa escrivaninha pessoal. Se couber a cama e duas mesinhas de cabeceira é uma vitória. Quarto que caiba uma cómoda... é algo de anormal. Ok, ok, não estou a falar dos escolhidos que podem ter um closet além da suite, mas sim do normal. Donos de casas antigas tem vindo a transformar os casarões em apartamentos, assim mais fáceis de alugar e que dão mais lucro. Conheci um assim, uma sala que era quarto, uma cozinha e uma casa de banho... mais 3 iguais e cada qual com o preço de cerca de 200€ por mês e... nunca houve apartamento vago.
Espaços acanhados pedem engenho de soluções, e cabecinhas inventivas, há por aí aos pontapés. O chato das coisas é o lado prático, aquilo que se passa no dia a dia, de verdade, fora das capas das revistas e aquilo que a gente chama de inesperado.
Mandaram-me esta foto, uma boa ideia de aproveitamento para um pequeno quarto, e logo coloquei em cima, imaginando não um quarto de criança, mas sim de um adulto em começo de vida, um sommier. É que já que o assunto é aproveitar espaço, vamos optimizar a coisa à quarta casa decimal. Um sommier lotadinho de coisas, as toalhas de banho, a roupa de cama, os rolos de papel higiénico a mais e que não cabem naquele cantinho da casa de banho.
Fico imaginando, casal de namoridos que, em começo de estado de graça e pouco dinheiro, vejam-se diante da incontornável situação de começar em pequeno, e façam do seu "ninho mágico" (a expressão não é minha) o expoente máximo do aproveitamento de espaço. Vem, por outro lado, a vida prática atrapalhar a a situação. Senão... imagine:
É matemático, a gente bem organiza as coisas de véspera, imaginando que o querido, no dia seguinte, vai correr logo pela manhã com os amigos. Tira calções, camiseta sem mangas e deixa tudo arrumadinho ao pé dos ténis e garrafa de água. Só que o dia teimou de amanhecer com chuvisco... ela na cama, enrodilhada no edredom, deliciando-se pelas horitas de sono que o fim de semana permite... até que ele pede que ela se levante para tirar de dentro do sommier ou do chão o casaco com capuz. É que correr tudo bem, mas apanhar molha é que não. Levantar colchão, desensacar roupa, aqui não está, está além debaixo do soalho falso... e lá se foi a manhã de paz e começa-se a perguntar porque raios não podem apanhar um tiquinho de água na moleirinha.
Mulher, seja franca, quantas vezes deixamos roupa preparada de véspera, mas mal vestimos e damos uma olhada no espelho decidimos colocar outra coisa??? E como vai ser? Tem tempo??? Bahhhhhh... E o tal do papel higiénico que acaba, sem um pingo de vergonha na cara, lá pelas 3 da manhã, sem apelo ou agravo com o desgraçado/a que alegremente ronca durante o sono dos justos??? Acordem lá o espécime em hibernação e vai ver se guardanapo de papel não faz tão bem as honras...
Hipóteses a parte, a gente faz o que pode em matéria do que tem e do que pode, mas uma coisa é certa: tal como um pneu lembra de furar quando o porta malas está atulhado de malas e cacarecos pras férias, o lado Lego de uma casa de aproveitamento de espaços será a prova final de uma convivência sã entre um casal. E já agora... esta cama é ou não é uma ideia interessante???
Apareçam
Rakel.
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