Fora de órbita, fora do ar.. a Leste do Paraíso, se por acaso viver no meio de delirantes seja viver no Éden. Mas tenho andado mesmo assim, meio que fora das lides virtuais, um tanto quanto fora das notícias e demais instantâneos da vida real.
Passou-me ao lado toda a saga da novela política "Afinal Haviam As Outras" nesse casamento mal amanhado entre Portas e Coelho. Agora, tanto quanto sei, depois do ameaço do Portas ao estilo "vou voltar para casa da minha mãe", a sogra Cavaco mete a colherada e diz que os dois tem que fazer por se dar bem. A bem dizer, só soube disso tudo há coisa de uma semana.
A sério... andei mesmo off dos telejornais, dos jornais via Internet; mergulhei de cabeça durante mais ou menos um par de meses em lidar com gente, gente a sério, não daquelas que fazem pose com beicinho pra foto de perfil, nem para as patologias de corta e cola de muitos murais e blogs. Dois meses rindo, passando de todo da marmita, filosofando e pondo em causa as leis mais básicas do actual sistema de vida: viver atrás de uma tela de computador. Só no final do dia dava-me conta das mensagens acumuladas no telemóvel, e já sem genica pra andar responder, dormia o sono dos justos, sem calmantes ou conservantes.
Curiosamente, coisa de ontem, dei uma olhada nas "coisas" do costume destas lides sociais... e dois meses depois continua tudo na mesma. Exactamente na mesma. As mesmas denuncias, os mesmos pedidos que insistem em fazer se partilharmos as fotos (que pensam eles, ajudam monetariamente os necessitados), os trevos da sorte e os Budas sorridentes que dão fortuna. As frases contra os males de inveja e a despudorada cara de pau em queixar-se do vazio da vida. Um vazio acomodado dentro de quatro paredes e num PC a iluminar a cara.
Be off... estar fora de tudo... é estar dentro de outras coisas que não necessitem de atender ao primeiro toque do telelé, do clicar no gosto contínuo da bajulação. Conhecer gente a sério, cara a cara, os maneirismos, as muletas linguísticas, os gestos e os sons de risos diferentes é estar off. Nada de frases inspiradoras repassadas e cheirando a ranço, nem os lavradores virtuais que teimam em nos convidar para fazermos parte dessa divertida vida de plantar batatas e coleccionar pregos. E queixam-se que não encontram a cara metade, a alma gémea neste mundo injusto.
Mal de inveja, os "que nos querem derrubar"... se existem, sinceramente, não tive tempo para reparar em vocês, desculpem lá, nem sequer dei atenção à minha cartomante virtual, que pela 290ª vez me dá outra chance de "deixa-la ajudar-me". Desculpe o mau jeito...
De verdade, as pessoas precisam de atenção, e realmente o mundo virtual presta-se a isso, já que pode postar cada vez que muda a cor das unhas, o que está a comer (com fotinha acompanhada de um "estão servidos?"). Mas com os dias maravilhosos que aí estão, das tardes solarengas e fixes para sentar algures e jogar conversa fora, com noites perfeitas para convívios.. a malta fica ON na rede. E se queixa, da vida, do emprego, do peso, do calor, do frio, da fome, da preguiça, do trabalho, da falta dele. E se queixam de tudo isso... porque tem tempo. Tempo de sobra significa tempo de sobra para queixas mil.
Acho piada quando a malta quer emagrecer com comprimidos que funcionam quando dormimos, ou as tais cintas que emagrecem de uma famosa marca de cosméticos. Agarrem nas biclas, num boné na cabeça, uma garrafa de água fresca. Andem, patinem, corram, nadem e suem, suem as estopinhas para depois da banhoca e um jantar frugal dormirem o sono dos justos. A balança, o corpo e a auto estima agradecem. Sejam off, fora de casa, com gente, com rua e espaços amplos.
Se estar off significa não ficar escravizado ao primeiro trinado do telefone, sem um portátil no colo nas areias da praia (já agora... uma pessoa vai pra praia pra pegar ondas do mar ou ondas cibernéticas?) actualizando ao minuto com fotos e postagens de caris absolutamente pessoal ( ai que fome, estou suando em bica, que dor de cabeça) então eu sou mesmo off. Pra lá de off...
Dentro da satisfação pessoal, posso dizer que ando de barriga cheia: leio, convivo com gente ao vivo e a cores, conhecendo lugares, isso tudo, bem... não tem preço.
E fica a dica... experimentem largar a dependência cibernética e a tirania do sms... e descobrirão que há vida para lá disso tudo.
Apareçam
Rakel.
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