Só por ter passado pela esplanada de um café aqui na cidade e de ter ouvido uma conversa, só porque achei interessante desmembrar (salve seja) essa dialética tão misteriosa feita de letras palavras e os sentidos...
Um abecedário que tem a validade do meu ponto de vista e também resultado de uma data de perguntas hoje feitas durante um almoço... e acima de tudo, porque toda gente pensa e gosta. E perdoai-me se em alguma parte for sarcástica, ácida e cínica, de oscilar entre a lírica e a sátira, mas não sou uma coisa só.
A de Afecto e de Afago, do tempo que escoa entre o sentir com os dedos a pele e os contornos, não é perder tempo, mas sim ganhar conhecimento onde ela arrepia, onde fica tensa ou relaxa. Com afecto o afago torna-se lento, gentil conhecimento da geografia alheia. Faz-se do abraço a amarra, o chegar e o partir, que afaga e afoga as palavras, o lugar de repouso que se prende e solta com o corpo e a alma...
B de Boca, beijo leve que tateia, que devora e intempestivamente toma de assalto, o esperado, o desesperado, o lânguido e lento, na mão e no pulso, na palma estendida e a curva do pescoço, o princípio de tudo e fim do que começou, um olá e adeus para quase sempre. Da boca saem as palavras, os sons e as risadas partilhadas e das frases insanas...
C de Corpo, esse extensão de pele onde se segura a alma o coração que bate e pula, onde as borboletas revoam ou onde se prende o gelo do vazio. Conhecer-se e saber-se senhor de si, na procura da satisfação e do controle, do suster a respiração quando beijo e o afago lhe tocam, ou a sensação de voar quando agarrado num abraço apertado. Um conjunto de tudo e nada mais do que um instrumento para outros... O cheiro, da pele, uma fragrância que não se arrolha em frascos e que é único de cada um, aquilo que faz saltar em cabriolas as hormonas e que vulgarmente chamam feromonas.
D de Dar, oferecer de si o que tem, o que consegue quer e pode de dormir. Dentadinhas nas pontas dos dedos, na curva macia e leve do pescoço. Despir-se de tudo diante de outro/a, dar a conhecer de que é feito, do que sente, do que quer será talvez o cato maior. Dormir com outra pessoa será a maior prova de confiança. Quando digo dormir é aquela fase que fechamos os olhos, roncamos, babamos na almofada e temos a fase REM em andamento. estamos despojados de defesas, a nossa consciência está tirando umas pequenas férias e deixa que o inconsciente tome as rédeas do filme da noite. Estamos ali a merce de quem está connosco, despojados de manias e conceitos. Somos nós
E de Excitação e Enamoramento e Elogio, sentir aquela escandaleira arrebentando por dentro, a balbúrdia arrebatadora e estapafúrdia. As mãos suam, o coração acelera, as pupilas dilatam e a respiração muda. E aqui fica explicito e sem poder enganar quando a excitação é verdadeira e não mecânica e feita de rotinas... olhe nos olhos da outra pessoa e vejam as pupilas... dilatadas é o sinal. :) Elogio sincero arranca sorrisos, encavaca o mais cinzento humor e abre sorrisos fartos e ruborizados, não os poupe e use apenas se for mesmo verdade.
F de Falar e Felicidade. Diz, conta coisas, extrapola os limites da chama decência e sussurra no ouvido aquilo que sempre ficou ali engasgado por dizer. Fala sem fingimentos e sem falsidades. Fingir o que não sente e o que não é será então a pior das traições. Não te feches em desculpas, de dias e de biologias inversas e sê honesto e dá por findo o que já acabou ou o que nunca existiu. Felicidade é assunto pessoal, pode-se ter tudo, mas nunca sentir-se feliz, ou sempre buscando algo que nem sabe bem o que é. Felicidade é uma quimera? Uma ilusão? Ou apenas uma forma de saber estar na vida?
G de Gosto, do sabor e daquilo que se faz por gosto. Na boca perduram os gostos, do beijo, da pele o sabor único. O gosto do momento que fica na memória, que mesmo na mais rasca refeição feita a três pancadas, foi esse o sabor que ficou na memória, o da pele, da boca e do gostar de estar assim. O G será também o ponto maravilha das mulheres e que, sim foi isso, que deu o mote ao post. Ao passar por uma esplanada aqui da cidade, vi o dono do café sair com mais dois amigos e sentar-se numa das mesas. Dizia então o senhor que o ponto G realmente existia, mas que "pra chegar lá é preciso um bocado de jeito, que aquilo não está ali a porta". "Oh pah... já ouvi dizer de um gajo que isso tudo é treta" dizia um dos desconfiados e desinformados" "Tou a te dizer que não é nada treta, até te explico como achar" dizia o dono do café. Agradeço enormemente o vento contra que me permitiu ficar ali especada a ouvir este trecho de conversa enquanto acendia o desgraçado do cigarro. E sim, o homem sabia do que falava.
H de Homem e Hormónios e Humor, invariavelmente os dois primeiros se estreitam numa relação dependente na área das desculpas. O homem, qual Indiana Jones, procura o templo perdido, a preciosa arca da aliança ou tesouro há muito procurado. Ao fim e ao cabo perdidos deles mesmo, muitas vezes ficam no meio das inseguranças e da necessidade de nunca mostrar fraquezas, de ao comparar-se perante outros estarem acima, mesmo que não sejam felizes. Uns amores quando querem, umas chagas chatas quando esquecem que já são crescidinhos. Inteligentes e com um humor delicioso, muito particular... ou então sempre repetindo, por falta de imaginação, um repertório de larachas encanecidas. Os hormónios serão portanto o chicote do Indiana Jones que procura desvendar o tal ponto lá de cima. Não há pachorra numa vida sem humor, do modo inteligente e divertido de encara as coisas. Um dos bons temperos da vida.
I de Imaginação, de Inteligencia e de Inventivo, Inspiração. Lutar contra a monotonia da vida, dos actos, procurar dinâmicas diferentes, usar a cabeça de forma inteligente. A imaginação voa, solta-se das âncoras da realidade e procura concretização. Inspiração, o acto de escutar a voz interior e deixar levar-se eplas asas inventivas e inspiradas. Dar cor e forma em palavras de uma possibilidade tão próxima do alcance da mão, re-inventar-se inteligentemente, autorizar-se a errar e a melhorar na vida que lhe calhou...
J de Jogar, não aquele joguinho viciado em palavras batidas, não, nada disso; jogar pro alto, mandar às urtigas os maneirismos tacanhos, soltar-se, jogar-se do alto daquela montanha de "um dia eu vou fazer" e fazer mesmo. Jogar com as probabilidades, mas jogar sem batotas, na garra, na fé e sempre sem passar por cima de ninguém. Jogar-se na vida, não como se fosse morrer amanhã, mas sim vivê-la mesmo, dando-se o prazer de sentir até os pelinhos da carpete com os pés descalços. Jogar fora tudo aquilo que não adianta, que não evolui, que não faz bem.
L de Luxúria, Lasciva, Lugar e Luz. Os dois primeiros, tomam conta sem pedir licença, puro instinto e sentidos, sem rédeas e lei, desembestados na correria ou deixam-se ficar deliberadamente lentos. De facto, a antecipação é tão boa ou melhor que o prazer em si. É a parte mais primordial, crua e assustadora, pela sua magnitude, da nossa caminhada de auto-conhecimento. Encontrar o seu lugar, o seu espaço, não é uma questão palpável, mas uma questão de consciência de ser e estar na vida. Muito acham que o espaço físico onde dormem, comem e passam o tempo é o seu lugar. Nem sempre, pois sentem-se perdidos na sua própria companhia. A luz em oposição a escuridão é o equilíbrio, já que tudo na vida precisa do seu oposto para poder encontrar o peso certo da balança. Abrir os olhos, enxergar, ver mesmo será a luz, fechar os olhos, negar o que viu ou o que não que ver é a escuridão. E entre as trevas e escuridão faz-se o jogo de conhecer-se.
M de Mar, de Mulher, de Música e Movimento. Mar e Mulher, ambos feitos de marés e inconstâncias, mas sempre precisando de um horizonte aberto para que a sua real beleza prevaleça. a mulher criadora, bem disposta, com os azeites, chorona, briguenta, indiferente, majestosa ou displicentemente infantil, a cabra e a sonsa, a amiga pra vida e pra morte e a Eva pecadora, a Pandora do mundo não será, mas a Lua lá no alto é seu espelho. A música, a linguagem universal, os sons que propagam sentimentos de alegria ou tristeza, sonatas ou baladas ou rocadas de abalar os alicerces do mundo. Junte à isso tudo o movimento da natureza, de nós, do mundo e Universo e terão a certeza que parados... nada nos acontece. Mexa-se!
N de Nuca e Nunca. Lá em cima falei de dormir, como uma das maiores intimidades que podemos ter com outra pessoa. O beijo na boca é banal de ver, o selinho, o beijo no auge dos vapores etílicos ao desconhecido sentado ao lado, o sem querer que calhou ou até na transa de ocasião. Mas beijo na nuca é um assunto íntimo também. Se não o fosse não provocaria aquela arremetida de arrepios pela espinhela abaixo. É deliberado, é feito com esse propósito, da mesma forma que a mão na nuca é a sensação de posse de posse. E abstenham-se de dizer Nunca. É que a vida tem esse lado estúpido, esse lado que te dá de presente justamente aquilo que "nunca, jamais em tempo algum" faria ou teria. O clássico "quem cospe pro alto, cai-lhe na cara".
O de Olhar, Outros e orgasmo. Os olhos, sejam de que cor forem falam das nossas coisas interiores, dos nossos estados de alma e das nossas necessidades. Passar no olhar o que foge das palavras, o desencanto que não vem em livro nenhum, o desejo, a alegria contida, a descoberta fatal, a surpresa e a sabedoria acumulada. Espelhos não sei se são, mas são boas pistas do que precisamos saber. Os outros, os que culpamos pelas nossas faltas, pelas nossas calhordices e falhanços. Os outros são um bom cabide para pendurar as culpas, abstendo-se assim de assumir as responsabilidades. O Orgasmo.. é apenas o final do caminho... e dura menos do que tudo que levou para lá chegar.
P de Prazer, de Pulsão e Prisão, Proibido. O Prazer é algo de bastante discutível dentro do conceito certo e errado. E não fica limitado no acanhado espaço do prelúdio do orgasmo. Há prazer em coisas simples e banais, o sapato que descalçamos depois de um dia inteiro dentro deles, o som da chuva batendo na vidraça, o sabor da fruta fresca e doce, o balançar na rede pendurada na sacada ou o vento na cara que entra pela janela aberta do carro. A sensação de liberdade, que em oposição da prisão nos faz bem. A prisão não é só o lugar onde confinam os condenados. Nós temos as nossas próprias prisões, feitas de vícios, medos e covardias, exitações e medos. Quando o nosso medo, a nossa insegurança fala mais alto não só nos prende como faz querer prender os que estão connosco.... e isso é mesmo bera. o que é Proibido é sempre mais apetecível e vai de tudo um pouco, desde dos prazeres, à infracções cotidianas morais.
Q de Querer, Queca e Questionar. Querer toda gente quer alguma coisa, e nisso cada um sabe o que quer. A vida feita de desejos e quereres, de buscas constantes de questões podem ser um bom caminho de evolução pessoal. Questionar, aquela coisa que começa lá pelos quatro anos de idade pode ser a nossa maior arma pessoal, pois a aceitação cega, monótona e feita de tabus e dogmas estagnam o pensamento e até mesmo o querer. A queca, será provavelmente uma forma de definir sexo sem sentimentos. Dá-se uma queca como quem precisa de comer ou beber. E fica a dica: não só os homens que fazem sexo descompromissado de juras e sentimentos amorosos... as mulheres também são usurárias desse modo de aliviar as tensões.
R de Razão e Racional e Romantismo. Ter razão...ninguém tem em tudo, depende do ponto de vista. Eu não tenho a veleidade de acreditar que tenho sempre razão (embora tenha um malvado mau perder e custa-me aceitar quando perco a razão), mas apesar de tudo... no meu vocabulários a palavra Desculpe usa-se. Mal de muitos que em forma de defesa escudam-se no O de Outros para descarregar as culpas e faz disso razão. O raio do Racional, desse pensamento analítico e pragmático que me torra o cérebro. Que manda e segura o emocional de uma forma quase punitiva. Nem tanto ao mar, nem tanto a terra... já diz o ditado. Romantismo não será porventura dizer em vozinha falsete um nome fofinho ao amor da sua vida. Romantismo exige rasgos de génio, de inspiração e vontade. Sai da música dor de corno em jeito Carreira, do lado mais perdido dos amores, e da facilidade que se pula de um romance para outro.É feito de coisas pequenas, mas de gestos e palavras grandes... ou simplesmente de um momento único.
S de Sexo, de Silencio. Sexo dos anjos, sexo do caracol, o grande lance do mundo é o sexo. Banalizado, deturpado em DVDs, colocado no Tubetube por um/a ex qualquer coisa ressabiados, em revistas e série de livros com direito a mascarilha e chicote, sexo é o motor do mundo. Quando adicionado com uma data de sentimentos, de delícias e borboletas revoando por todo lado, muda-se para o modo "fazer amor". No actual tecido social, as mulheres começaram a definir a linhas gerais do que é fazer amor e dar uma queca (já vinha sendo hora) e desvalorizam já os sentimentos de culpa que poderiam vir a ter esse facto. Num mundo de igualdades, a mulher pegou o combóio da satisfação pessoal e de estar-se nas tintas para o que os OUTROS pensam. Aprende-se muito com o silencio, o saber ouvir, pensar e esperar na hora certa. falar por falar... não chega. São nos silêncios que conseguimos compreender melhor as pessoas que nos rodeiam e ouvir melhor os sons do mundo.
T de Tesão, de Tempo. Tesão é um termo que chega perto do frisson pelas coisas, um frenesim associado ao apelo sexual, mas que se alarga, graças ao vocabulário brasilis, ao sentir apelo por coisas concretas. Há a tesão emocional assim como a física, assim quando a emocional murcha (sejam os motivos quais forem) uma pessoa pode funcionar perfeitamente só com a física, e daí o termo queca servir ao caso em jeito de explicação. Embora grande parte dos viventes apenas invistam na parte física da tesão, não perderiam nada em investir um bocadinho na emocional, para isso precisando exercitar a Inteligencia, Humor e a capacidade de abrir a visão para o mundo.. e conhecer-se bem. Tempo, algo que escorrega pelos dedos todos os dias. perder tempo com falatórios, intrigas palacianas e gente que não acrescenta nada na vida é horrível. Tempo há para tudo, desde as aulas de ginástica ao tempo com os filhos. Até o tempo que se gasta (e bem) em estudar a geografia alheia. :)
U de Universo. Somos uma caganita de ácaro na vastidão do universo? Ou somos uma peça chave como a Teoria do Caos? Acho que embora sejamos pequeninos em tamanho físico diante da magnitude do Universo, somos uma peça chave no movimento e energias universais. As nossas acções refletem em reacções que acabam por influenciar a vida de outros, portanto, não ficamos isentos do nosso papel de integrantes do Universo. Pena é que, embora mentes brilhantes e almas iluminadas façam por melhorar as energias universais, muita gente ainda vive virada para o próprio umbigo, as suas coisinhas irritantes feitas de dinheiro, ganhos, glamour e ostentação. Um gesto é reflexo da nossa índole, e nos dias de hoje, há gestos que fazem a diferença. Adopte um cão ou gato abandonados, seja padrinho de alguns animais de canise gatis, faça voluntariado na limpeza das matas, ajude a plantar o que ardeu... há uma infinidade de coisas que tire dessa modorra e dessa bunda grande e pesada do sofá e de diante do PC. Ajude-se ajudando.
V de Visão e de Valor. Visão vai para além do que a nossa retina apanha em cores, forma e luz. É a capacidade de ver com o pensamento, com as ideias e com os conceitos, do que se lê e se sente. É uma abertura total e aos sentidos todos. É colocar em prática aquilo tudo que diz ser importante, as nossas qualidades interiores, o nosso brilho pessoal. Ver com o coração, com a alma e com o pensamento. E foi assim que muitos sonhadores tiraram do atraso e do medo e mudaram civilizações. Algumas visões de mundo perfeito... bem realmente recaíram em pessoas pouco recomendáveis, ao estilo do Adolfinho do Bigodinho Ridículo Hitler. Valor, o que damos às coisas... faz delas o nosso alvo, a nossa fé ou o nosso vício e perdição. Costumo dizer que o valor das coisas é aquele que damos. Se achamos que o mal é forte, certamente ele assim o será para nós, por outro lado, quando o desvalorizamos, perde o valor que os demais dizem ter. No mais, os venais e complexados costumam tentar tirar o nosso valor para que nos sintamos tão miseráveis quanto eles. Valorizar-se é um exercício diário e necessário.
X da questão: para quê isto tudo? Este abecedário meio lelé, um tudo ou nada louco? Não sei.. tenho falado com tanta gente estes dias... e me parece que muita gente perdeu um bocado o rumo. O, a vida está complicada, gente morando nas ruas, insatisfação geral e uma realidade dura e crua. Mas já passamos por isso, e quando digo que passamos, foram gerações anteriores, e souberam mesmo assim rir, viver e amar. Fizeram música, escreveram, musicaram e fizeram nascer mais gente e esperanças. E no meio disto tudo estão mais ou menos como se isto nunca mais fosse acabar... mas acaba. Claro que acaba, mas não acabem com vocês mesmos antes de ver isso tudo acontecer.
Z de Zero... em jeito de fim.
Apareçam
Rakel.
Comentários
Enviar um comentário
Estamos ouvindo