Não sei como foi com as caras e caros leitores, comigo a minha fase de formação teve um sem número de regras, o que é o certo (e sempre relativo) e que é de bom tom, ou o que uma "jovem" deve saber. O saber estar a mesa à forma certa de sentar (o raio das costas direitas), inclusive o facto de saber entrar e sair de um carro. Meu pai tinha alguns carros, um deles um desportivo, uma bomba V8 que não bebia... tragava gasolina. Portanto saber entrar no carro sem dar espectáculo a mostrar a roupa interior... foi uma lição de uma tarde toda, e eu sem saber porque tanto alarido, já que além de treinar em calções andava quase sempre de calças de ganga ou afins.
A santa da minha mãe pegou de letra o meu modo de sentar sempre definido como "deselegante para uma mocinha" tinha sempre o mesmo refrão: pernas fechadas ou cruzadas. E foi no reflexo de Pavlov (porque a santa me deitava uns olhos cada vez que me esquecia da posição elegante) que cresci, sempre cruzando as pernas, umas vezes de maneira simples (quando com calças) ou num intricado torcer de canelas, pernas e ancas com saias... motivo pelo qual as saias caíram em desuso no meu cotidiano.
O saber pousar a mala de mão quando sentamos (e daí talvez a minha mania de andar com casacos com bolsos) e na falta de lugar, equilibra-la no colo e sempre com as costas rectas, à forma correcta de recusar algo e o discurso correcto numa situação embaraçosa (e meus deuses... eu criava as situações) fui criada com litradas de chá. Mas caneco, tanta imposição, tanto NÃOPODE, fizeram seus estragos. Dessa resma toda de etiqueta, a única coisa que perdurou foi mesmo o cruzar de pernas. O resto, passa pela educação de base, do Bom Dia, Se faz Favor, Por Gentileza e Obrigada, do saber estar numa mesa sem enterrar os cotovelos.Nunca estiquei o dedo mindinho ao tomar chá, mal de mim que não debicava a comida como se fosse um sacrifício comer e nem sento na pontinha da cadeira ou sofá. Mas mal me sento, lá cruzo as pernas e pensei eu... tá de bom tom.
Foi preciso ir à cabeleireira (ou como se chama agora, hair stylist) para saber que o cruzar de pernas... faz mal à coluna cervical. Ora bolas, andei eu a apanhar ralhete atrás de ralhete, aqueles olhares que pareciam que iam me comer viva... pra chegar à conclusão que, cruzar pernas pode ser buéda bom pra uma Sharon Stone... mas que danifica a nossa espinhela. Escusado será dizer que a senhora passou mais de metade do tempo a aclarar a garganta, num pigarro que intensificava em peganhice de cada vez que, esta que vos escreve, cruzava as pernas.
... e uma pessoa chega à esta idade e ainda leva lição de outras "mães", olhares condescendentes e abanar de cabeça acompanhados de suspiros. Mas gaita, já agora, se me dão licença, sento como me apetece...
Apareçam
Rakel.
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