Uma Questão de Tomates



Debruçamo-nos (eu e a Carla) sobre o tema de duplo sentido, ou quem sabe de triplo, desse produto hortícola e sinónimo de valentia. Do vegetal madurinho que faz as delícias nas saladas, ao verde panado e frito, indispensável num Blood Mary ou até mesmo num muito honesto espaguete, tomate é dos vegetais mais populares do mundo.

Se tudo correr bem, até porque choveu bastante pra isso, daqui uns tempinhos há de ser lugar comum ver transitar camiões carregados de tomates pelas estradas aqui do Ribatejo. Sem dúvida o belo tomate de Almeirim não sentirá disputa com os daqui destes lados, mais um bocadinho ao Norte. Em sopas quentes ou frias, em doce de espalhar numa fatia de pão caseiro, no concentrado feito em casa, não podemos viver sem tomates... salve seja. Ou é mesmo isso?

Mas por muita chuva que caia, por mais que a terra generosamente nos presenteie com uma bela colheita, há uma falta quase que crónica de tomates... dos outros, se é que me percebem. Tomate pessoal é algo que faz falta, seja homem ou mulher. Ter tomates para dizer o que realmente pensa, nos dias que correm, é um luxo. Há quem os tenha apenas com efeito decorativo ou para coça-los, não servindo para mais nada do que isso mesmo, composição do personagem.

Por outro lado, numa das grandes ironias da vida, há quem tenha nascido sem o dito penduricalho, e mesmo assim, age com uma capacidade de tê-los e usa-los como se os tivesse. E sabem exactamente como agarrar, nos tomates alheios e deixa-los apertadinhos e dolorosamente espremidos, em modo figurado, num fôlego sustido e com olhinhos esbugalhados. O velho termo: "Tê-lo agarrado pelos tomates"  :)


E há uma relação directa e repetitiva de tomates atrofiados com engolir sapos. Sapos e tomates, quem diria que uma relação entre batráquio e vegetal fosse tão comum, tão banal. É proporcional a relação sapos engolidos com tomate tamanho minorca... berlindes por assim dizer.

Não arranjam-se assim de uma hora pra outra, dos atributos do belo tomate, no dar a cara e enfrentar as consequências sem esconder-se atrás das desculpas e apontar de dedos para justificar o que seja.

Também descobri, embora que embasbacada, que empedernidos militantes de uma causa há muito defendida podem, tal como toda gente com largueza de espírito e um tantinho de sensatez, ter tomates para afirmar coisas que, num passado não muito distante seria incapaz de o fazer. E só nisso ganha o meu respeito. Falo de um ex-FP 25, um dos capitães de Abril e que num encontro para comemorar o efeito largou uma boca fantástica e pouco ou nada comentada... porque será? Talvez alguns tomates caiam ao chão depois de lerem a notícia, também um termo corriqueiro no vernáculo lusitano...

Por outro lado, a falta de tomates e o impulso de uma preguiça imensa faz com que ex- amantes de um certo tipo de todo-poderoso venha queixar-se de arrependimentos, de ter que fazer limpezas para sobreviver e que tem saudade da boa vida de teúda e manteúda. Há praí tantas mulheres que com garbo, sentido de honra e que tem como profissão os serviços gerais. E não são menos que ninguém; sem manias, tem a capacidade de sustentar-se a si e aos filhos. Grandes mulheres, grandes mães que vergam a mola no seu traje nada glamouroso mas que honestam ganham o seu salário.

Embora o post tenho o seu quê de insano, acho que apesar de que, todos os dias, o poder de compra nos vá cortando da mesa bens essenciais, acho que muito pouca gente tem-se dado ao trabalho de cultivar o seu tomate pessoal. Aquele que faz mais do reclamar da vida, de berrar nas mesas dos cafés apontando os culpados desta crise... mas que se esquecem que eles estão lá... por escolha popular. Votaram neles, aguentem-nos.

Apareçam

Rakel.


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