O Erro de Descartes ou O Desencanto da Monotonia Cerebral



Pensar é dos actos mais interessantes da mente humana, o factor preponderante da nossa raça de dedos oponíveis e palradores que pululam este planeta vivo.Uns mais que outros debruçam-se diante do facto que pensar, será o exercício primeiro para entender o que somos e aonde estamos. Filosoficamente falando, e aqui abro um amplo leque, cada filósofo procurou não só questionar a existência do Eu como também a nossa percepção do universo que nos rodeia, assim como a existência ou não de deus e de tudo o resto. Perguntar, contestar e tentar provar por meio do raciocínio sempre foi a melhor jogada.

Por isso mesmo, muitas vezes prefere-se um povo embrutecido e ignorante que não pense, que não questione ou raciocine. Isso não colocaria em causa o poder de quem não quer perder o trono, as suas regalias e a possibilidade de marcar a história de qualquer forma. Mesmo que seja ignobilmente. Hitler pensou que a sua visão do mudo era a certa, Átila também, assim como a Inquisição e o Passos Coelho. O que torna o acto de pensar para algumas pessoa um tanto questionável. Pensar então é a nossa mais valia e a nossa arma contra as arbitrariedades mundanas e do poderio. Daí que me faz alguma  espécie e me pergunto, se alguns seres humanos conseguem realmente fazer uso da cabeça para além de separar as orelhas e usar cabelo.

Ontem, enquanto andava aqui a tentar dar conta da caixa do correio electrónico, a T.V ligada na esperança de um filme qualquer, e uma amiga a conversar (com auricular arrolhado nas orelhas) sobre filmes e o cotidiano, tive a vontade de pegar numa lixa bem grossa e passar na vista. Não era caso de comichão das alergias, nada disso. Mal de mim que levantei a vista daqui do PC e dei de caras com aquele ser amorfo e inqualificável de seu nome Castelo Branco, num fato de banho que não tem descrição possível. Eu, que já vi de tudo um pouco, fiquei ali com o cérebro a derrapar em perguntas.  É disso que o povo gosta como entretenimento? O que essa... esse, pois, o coiso, pensa de si mesmo e nas figuras que faz? O que raio me deu para ter a T.V ligada? Perguntas e questões que fazem uma pessoa questionar tudo e mais alguma coisa.

Acaba-me de dizer o César que antes o movimento do que pensar na morte da bezerra... assunto discutível em honra das ruminantes e da nossa capacidade de entender não só o inevitável como as ditas pluritetas. Pensará o Castelo Branco nas figuras tristes que faz? Pensará o João Jardim as alarvidades que lhe saem da boca? Pensarão os meus vizinhos de cima que cada vez que discutem a relação as 3 da manhã, meio prédio os escutam? Pensarão os que ficam abestalhados diante da casa dos degredos na inutilidade de vida que tem?

Realmente, se Descartes vivesse nos dias de hoje, veria que a sua celebre frase de "penso logo existo" deveria ter uma adenda: "pois cada qual vive no seu mundinho autista, onde é rei e senhor absoluto". O ridículo só existe quando o próprio se sente nessa posição. O absurdo só é achado quando a pessoa em questão se sente dentro desse mundo. O questionável e duvidoso só o será para aquele que não acredita ou aceita. Todos eles pensam, todo mundo pensa, uns mais aprofundadamente, outros menos, mas no geral pensam. Primeiro naquilo que lhes é confortável e certo, pessoal, depois...naquilo que talvez possa passar para os demais.

Depois dou de caras com isto, coisa que dentro do mundo tal qual conheço é no mínimo um paradoxo sem precedentes... e ainda querem que eu tenha uma visão menos crítica do mundo! Dar um nome do homem mais desacelerado mental que conheço à um lugar deste é fadá-lo ao fracasso... mas tudo bem.



Hoje foi o dia de rescaldo do Benfica, é certo que embora eu seja benfiquista o meu dianão aquece nem arrefece se ganham ou perdem. As contas estão ali olhando para mim, o monte de roupa pra passar na mesma, fazendo-me olhinhos enquanto vou lhe dando negas e fazendo-me de desentendida. O Benfica não há de resolver nada disso. Nem o desemprego, nem as famílias sem ter que comer, nem as taxas moderadoras ou as falências diárias de empresas, nada disso conta... em nome do segundo, na minha opinião, honroso lugar.

E digam o que disserem, nos todos temos o nosso mundinho autista e acolhedor, onde nos refugiamos na certeza que isso sim... é que é o certo. Temos esta tendência de saber melhor do que ninguém o que é melhor para toda gente, mesmo que, na maior parte dos casos, nunca sabemos bem seguir os nossos próprios ditames. Pensar e existir será então possível na medida que, existir assim, existe uma pedra, sabendo-se lá se ela pensa ou não. Pensar, questionar e viver as questões são outros quinhentos. E tanto me faz pensar em coisas absolutamente idiotas e parvas como o mais profundo motivo de estar na vida.

Descartes, só pra saberes... há muita gente que passa pela vida pensando apenas na sua existência. Mas esquecem que existir apenas só por isso não chega para viver a vida na sua totalidade: no bom e no mau, no doce e o amargo, na alegria e na tristeza e sabendo, mesmo assim, questionar cada vez mais tudo.
Meu caro, a sociedade esquece facilmente diante da telinha (agora plana de plasma) nos programas de ver os gordos a dançar e a perder peso, das marafonas enroladas debaixo de cobertas a dar uma queca na luz verde da escuridão ou num Castelo Branco dando uma de Esther Willians, que o mundo é mais do que isso...

Apareçam

Rakel.

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