O Diploma Pesado



Tive uma vez um vizinho que fazia parte da fanfarra do Colégio, fanfarra essa detentora de prémios e muito afamada na cidade. Meu sonho era ser uma das majoretes, aquelas meninas que vão à frente da fanfarra, com uniforme e nas mãos enluvadas um bastão. O sonho não se tornou realidade por uma série de razões (a maior foi ter mudado de Colégio) mas o meu vizinho, o Zé Ney, (há pais com uma originalidade a toda prova) que tocava trompete. Ele que queria dar o seu melhor na fanfarra tocava aquela joça logo as 7 da manhã, fizesse chuva ou sol, lá estava o Zé Ney, num quintal interior, a praticar (dizia ele) e a desafinar desgraçadamente o tal trompete e tirando-me qualquer desculpar de deixar-me dormir de manhã.

E porque raios me lembrei do Zé Ney? Sei lá, faço algumas associações de ideias um pouco insanas e já nem valorizo muito o modo como as minhas neurónias gerem a informação. Se calhar associei o facto do Zé Ney ter feito parte dos "metais", nome dado aos que tocam alguns instrumentos de sopro e o facto de na Inglaterra agora ensinarem Heavy Metal na Universidade. Fará sentido?

Se faz sentido eu lembrar do meu vizinho por causa disso tudo, não sei, à mim faz, por outro lado... dá que pensar.
Segundo consta, na Universidade pretendem ensinar composição e o impacto social que o género musical tem na sociedade de consumo e não só. Portanto, o que parece é que estão a tentar dar ao Heavy Metal uma credibilidade e um estatuto maior ou melhor.  E assim começam as hostilidades: por um lado, o que são contra este novo curso superior, dizendo que não dá saída profissional, que é uma perda de tempo e coisa e tal.

Sinceramente, não me aquece ou arrefece o facto de um qualquer cidadão tirar ou não um curso superior em Metaladas, quando nos dias que correm, mais vale apelar para um técnico-profissional. Licenciados há praí aos pontapés. Se for pela óptica do mercado de trabalho, outros cursos sofrerão dos mesmos males que o Heavy Metal em questão de saída profissional.

Mas e os cursos?? Quem serão os docentes?? Um queimadão Ozzy Osbourne? Um David Coverdale? Será que os virtuosos e míticos do Heavy Metal vestirão a pele de professores e ensinarão composição e instrumentação? Será que ensinarão a como ser e estar no palco, as roupas e cabeleiras espampanantes e todo o glamour e fantasia de um Rock Star?

Está-se mesmo a ver um puto desfazendo-se em suor e dando cabo dos ouvidos dos pais e vizinhança enquanto desaba na bateria em modo de estudar para os exames. Ou rifes voando pela madrugada numa directa antes de uma prova final ou queimando as pestanas para encontrar a rima certa para a balada de tese de doutoramento... meio ao estilo do meu vizinho, o Zé Ney. As opções que avizinham-se são imensas mas... se por acaso me é permitida uma sugestão...

... é que embora compreenda que haja uma necessidade de dar ao género uma certa respeitabilidade e tirar da sarjeta o cunho de sex, drugs and rock'n'roll, há uma lacuna a ser melhorada. É que na maior parte dos casos os videos de grande  parte (ou totalidade) das bandas são atrozes, pecam por falta de originalidade e alguns chegam mesmo a ser horríveis. Será que não está na hora de fazer um curso superior em vídeo clip? É que as músicas nem são más,  mas senhores, há enredos em vídeos que me metem pena. Estraga tudo, a poesia e tudo mais.

De resto, num mudo que em mais de 80% está virado para o poder total do Tube e da Wiki , maneira de dizer que a net é quem manda na cultura, que se faça a par do som a imagem decente. Eu da minha parte, agradeço. De resto, há que lembrar dos tempos em que se dizia que poesia não era pra ser ensinada, nascia-se poeta e da mesma forma diziam que não se vivia de poemas...

Boas Metaladas

Apareçam

Rakel.

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