Continua a saga das frases feitas que tem um sentido claramente oposto ao que entendemos, embora na maior parte das vezes sejam a muleta do dia a dia... mas nem sempre resultam. Hoje serão poucas, mais pelo motivo de merecerem mais explicação do que quantidade de frases. Algumas irritam-me até ao tutano, destas, qual delas a melhor...
Esta terra não tem nada!
Quem já não atirou esta pedra em conversa circunstancial e justificativa do marasmo pessoal, da ida ao mesmo café, sentar na mesma esplanada, diante da habitual bica e copo de água ou da cerveja fresca e tremoços? Verdade seja dita que muitas cidades resolveram deitar a toalha no chão no que respeita a oferta cultural, meio por causa dos custos outro meio por causa do desinteresse chapado da população. Culturalmente falando, as pessoas passam por várias fases e hoje em conversa amena no alfarrabista da cidade (sim, Torres Novas tem alfarrabista) chegamos ao veredito maioritário mas não generalista. Os consumidores de cultura ficam nas faixas etárias opostas: os mais novos e os mais velhos. O miolo, por assim dizer, é aquela faixa dos 35 aos 50 anos,que em meio do seu pessoal 25 de Abril, descobre após o divórcio e dos filhos crescidos uma nova adolescência. Voltam à época de sair em grupo, aos bares de musica ao vivo, umas bebidas, conversa do que foi e do que vai ter e nada mais do que isso para exercitar as meningens. É um descansar da aporrinhação das contas, das chatices, dessa coisa de mais impostos. Redescobrem as novas (velhas) técnicas do engate e ainda por cima, que os papéis trocaram, é meus senhores, as mulheres já não são como dantes...e nem vocês. :)
Mas devo de confessar: eu andei a evitar entrar no alfarrabista, na loja Doutros Tempos, porque eu já sabia de antemão que,no momento que eu batesse os olhos nos livros, nos títulos, que perguntasse por alguns autores e obras... que a minha cabeça ia ficar magicando e calculando formas e maneiras de conseguir completar a minha modestíssima colecção. E foi pior ainda do que imaginava, pois além de livros há vinil... estou literalmente tramada. Encontrei grande parte dos títulos que ando "há que tempos" a procura, encontrei outros que já estão a entrar na lista e me vejo irremediavelmente a fazer contas e ameaçando a integridade física do mealheiro cá da casa.
Por outro lado, hoje no Teatro Virgínia vai em entrar em cena Édipo, da Companhia do Chapitô, um descentralização dos bons espectáculos e uma oportunidade perfeita para ver por um novo prisma uma das mais emblemáticas tragédias gregas. Mas, como não há bela sem senão, justamente hoje é a final Benfica X Porto, o que quer dizer que muitas esplanadas estarão a abarrotar com pessoas a beber para passar os nervos, de olhos pregados nos ecrãs dos plasmas devidamente pendurados, vociferando das suas verdades de técnicos de bancada. Cultura há sim, opções de diversão, desporto e laser também, o que não há são hábitos de cultura e de tudo mais. Com muita pena minha, a única galeria que tinha uma amostra permanente de obras, pintura e escultura, aqui na cidade fechou. Sinceramente, desconheço em quais outras cidades desta zona tem espaços destes, e lá fico eu (e mais uns tantos amantes da arte) confinados a ter que esperar uma oportunidade de ida à capital para ver algo do género.
Há coisas há, o que não há e gente interessada... que venham bailaricos regados a tinto, cerveja e sardinha assada, muita pimbalhada, porque o povo gosta é disso. E há que desmistificar o sentido de cultura com limites estanques, de que ela é chata, de que não é divertida e vê-la nas varias fusões e vertentes. Só pimba, acompanhado do pai da criança, na garagem da vizinha que chama o António... não chega como diversão. Abaixo, um momento que arrepia... made in Portugal.
Tem calma, vais ver que tudo há de dar certo!
Primeiro, Lei de Murphy não é mito, é realidade, quando uma coisa começa mal o resto faz o favor de ser solidário e de acompanhar a onda. E não adianta nada tentar dar jeitinhos e amparar com esquemas, está fadado para acabar mal. O melhor será encaixar a situação e aguentar até ao fim. Seja a maionese que desandou, o relatório que ficou preso na impressora, o cabelo que resolveu ter um ataque de personalidade furiosa...não adianta, não há como resolver. Não há calma que chegue e muito menos ainda aquela boa vontade em nos acalmar diante do tacho que esturrou no dia de jantar com a família, nem pela nódoa de café na saia branca. Calma... não arranja-se, ou tem logo de começo ou então entra em modo sociopata com taquicardias.
E digam lá se não e verdade: estamos mesmo calmos, na verdade estamos serenos, mas dizemos alguma coisa que, porventura, não deveria ser verbalizado já que muitos preferem não ver ou aceitar como a realidade. Não é bonito, não é querido, mas é o que é. E dizemos, comentamos... e lá vem a frase, "Tem calma." E a gente explica que está tudo bem, que estamos calmos e insistem em dizer que a gente tem que ter calma, que as coisas não são bem assim e que tudo há de dar certo. E novamente explicamos que estamos caaaaaaalmos, que apenas vemos as coisas dessa forma. Mas novamente insistem que estamos nervosos, com a nossa visão toldada com os nervos e que precisamos ter calma. E nesse momento, quando já dissemos umas mil vezes que estamos calmos e mesmo assim não percebem, perdemos a compostura e berramos um "Eu tou calma, porra!" E aí nos dizem, "Tás a ver? Eu bem dizia que estavas nervosa!" e perdemos a razão. Matemático. Merda, lá se foi a calma.
Eu não quero criar polemica
Quem diz isso está doidinho pra ver tudo num virote, o dono da frase geralmente assistiu a situação e aproveita o ensejo para colocar mais umas pitadinhas em cima. Eu fico logo de pé atrás quando escuto isso. Normalmente, o dono da frase tem um interesse retorcido e duvidoso em ver o circo pegando fogo, porque polémica é o combustível das pessoas. Essa pessoa de tão boas intenções apenas e tão somente só quer ajudar ambas as partes, sem com isso criar qualquer prejuízo.
Basta colocar em letras grandes numa capa de revista a palavra em questão para meio mundo pegar nela para ver de que mumunha se trata. Há essa necessidade quase patológica de querer saber quem se deu mal, quem está metido em apuros, pois dá alívio saber que não somos apenas nós metidos em sarilhos.
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Valhametodososdeuses, a pior das hecatombes...
Carregue o telemóvel com, pelo menos, uns 20 euros, ponha-se em lugar confortável, vá a casa de banho antes de completar a ligação. Faça-o num dia em que esteja realmente calmo e tenha a lucidez de ter lápis e papel a mão. É que de certeza vai ouvir uma gravação que vai lhe dizer que tecla carregar para os diferentes serviços, vai falar a mesma coisa para pelo menos uns 5 colaboradores (e ai entra o papel e lápis, anote os nomes de todos com quem falou) e prepare-se para ameaçar com a DECO ou ANACON enquanto lhe colocam a ouvir música. Raras são as instituições que resolvem logo as coisas sem o jogo de Pilatos à Herodes.
Veja isso tudo como uma penitência e meio caminho para a redenção espiritual se conseguir chegar ao fim sem estar perto de uma apoplexia e não ter xingado a mãe de ninguém.
E mais frases virão... já agora, estou calma, mesmo, de verdade :)
Apareçam
Rakel
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