Belisquem-me, Se Faz favor ou Entrei na 5ª Dimensão



Tenho por hábito tirar um dia para todas aquelas coisas que necessitam da minha total clarividência, paz de espírito e uma paciência digna de protagonista bíblico. Começa pelo facto de ter que encarar uma fila de espera, local apinhado e ar condicionado desajustado, fora os Feodor Feodorentos* que fazem questão de sentarem-se perto de onde estou.

É sempre uma diversão olhar para a senhora do guiché que dá porrada no rato do computador, como se fosse ele o culpado do programa rolar lentamente ou emperrar mesmo. Indiscutivelmente, na formação que é dada aos funcionários públicos, a primeira lição deveria ser: bater com o rato no tapete não desemperra o programa, o mal é dos PCs, na sua grande maioria com processadores Lentiun 4. Já vi também gente batendo no ecrã pensando que a coisa melhora na velha tradição que na porrada tudo funciona.

Mas lá saí eu de casa, com pequeno almoço reforçado no estômago, todos os papéis necessários, garrafa de água, um livro e mais o bendito MP3. Saí esperançosa de que a minha espera fosse pelo menos confortável. Entro na Segurança Social e... bolas pareceu-me ouvir o tema da série velhinha Twilight Zone... só estava eu e as funcionárias...mais ninguém... eu e o tira senhas... e o som do silêncio. Brutal, nunca me aconteceu. Fui atendida (e lá o desgraçado do rato levou porrada), despachei-me logo com tudo o que precisava... e rumei para a segunda fase: Centro de Emprego. As portas abrem-se e dou de caras com apenas uma senhora a espera, o segurança/homem das senhas em amena cavaqueira com a funcionária do balcão de expedição... e mais ninguém.

o.0

Mas isto é a serio? Será que eu acordei mesmo ou estou ainda a sonhar, enroscada nas cobertas, sonhando o mundo perfeito das instituições governamentais? Onde está o cheiro de naftalina? Do suor misturado com perfume barato? Onde está a senhora que fala alto e conta pra quem quer e não quer ouvir a estória da vida dela, todas as desgraças dignas de um folhetim mexicano? Onde está a lentidão de serviço, ao jeito de um romance do Kundera??? Pois se será verdade que estou acordada, se calhar, quando desci a rua entrei num vórtice que me levou para um mundo paralelo e... mais para o lado do perfeito. Nunca tal me aconteceu em toda a minha vida...

O dia ainda não acabou e espero sinceramente que estas surpresas continuem a polvilhar o caminho do resto do dia, do mês e ano. É que já chega, não acham? Já chega de tanta aporrinhação.

Se isto é um sinal dos tempos... melhor. Se for o começo da realização dos meus singelos desejos, então não se esqueçam os aí de cima, os regentes do universo... atenção que, embora singela, a lista de desejos não é negociável. É pra vir tudo o que tá lá escrito, ok?  :)

Apareçam

Rakel.

PS: Feodor Feodorentos são aquelas pessoas com uma alergia crónica à água, sabonete e hábitos de higiene...

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