Memoria a Curto Prazo ou a Tia Tem Alzheimer




Era um ritual de todo fim de semana, um de nós, do grande grupo de amigos, reservava os bilhetes de cinema. Não eramos assim tão poucos, chegávamos a ser 20, dependendo das idas e vindas de faculdade e serviço militar, mas o mais certo era juntarmos todos ao fim de semana, cinema e depois comer qualquer coisa. O dinheiro, embora não fosse muito, sempre dava para essa diversão tida como barata.

Aí, num belo dia, chegou o advento do VHS, os leitores de vídeo caseiros, que permitiam no conforto do lar assistir aos lançamentos das últimas novidades do cinema. E aí as grandes casas de projecção foram-se aos arames, começaram a dar pela quebra de público e da crescente oferta de vídeo clubes. Culparam, acusaram e tentaram travar a avalanche de casas de vídeo  onde até o mais longínquo café de aldeia tinha umas cassetes de VHS para alugar. Na verdade, eu gostava do ritual de ir ao cinema, de estar com os amigos, mas o ritual depois passou para outro: quem alugava o quê e depois em casa de quem se via. E os donos dos cinemas cada vez mais furibundos.

Da cassete de vídeo que podia mofar passou-se para o DVD num piscar de olhos, as vantagens de ter o filme em casa por um par de dias ajudava na preguiça de fim de semana, do dia nacional do pijama, de poder parar o filme para atender alguma necessidade urgente ou pelas pipocas feitas em casa. Mais uma vez os donos das salas de cinema queixaram-se, bateram o pé, insurgiram-se contra a praga de vídeo  clubes. Aí chegou algo que ninguém pensou que fosse ter o impacto que teve: os computadores e a Internet. A livre circulação de informação, gratuita e sempre actualizada...  e foi um virar de página.

Porque, que eu saiba, desde o advento do VHS as cópias e partilha de filmes foi sempre geral. Alias, vem até de bem antes, do tempo da cassete áudio  onde cheguei a comprar na Feira da Ladra, nos idos dos anos 80, uma cassete pirata dos Led Zeppelin. Portanto, o repassar e tornar barato e vendável não vem de hoje. Vem de longe esse hábito, ou talvez essa simbiose de falta de dinheiro versus oferta mais barata e paralela. Há ainda quem vá aos mercados semanais e dê uma olhadela pelos DVDs e CDs piratas, mas hoje, na Internet ou consegue-se gratuitamente ou compra-se mais barato em sites de venda. E agora, quem anda aos arames com isso tudo não são os das salas de cinema, são os grandes dos vídeo clubes.  Na maior cara de pau defendem o direito de autor como se fossem eles o paradigma supremo e indicado para fazer esse reparo.

Aqui em Portugal e pela mão de pântano da ACAPOR, os sites de partilha de filmes e música são perseguidos tal como os clubes de vídeo foram em tempos.  Coisa que a ACAPOR esquece e chega ao cúmulo de se passar por defensora  dos direitos de autor, fazendo disso fundamento para acções em tribunal. Sabe o que isto me faz lembrar? Aquelas tias velhas, ressabiadas, ressequidas e esquecidas, que em nome da moral e bons costumes aponta dedos à toda gente. Daquelas cheias de inveja e mau perder, que nunca apostou numa mudança ou até adaptação aos novos tempos e exigências  Não, o fácil e o melhor é armar-se em salvador da pátria e foder a vidar de toda gente. Prai uns 90%  dos sites de partilha não ganha um tostão, ao contrário de ti, velha ávara.

Não vejo, não leio e desconheço que as grandes casas de projecção façam o mesmo papel que a tia velha ACAPOR anda a fazer. Mas deixe que lhe diga, tia velha, por cada proibição, por cada barraca que arme em nome da moral e bons costumes, há de surgir por cada site fechado... outros 30.

E faça um esforçozito tia velha, vá lá, saia da naftalina (não sei se sabes mas isso dá moca e faz mal ao fígado) e aprenda. Porque, imagine lá velhota, que os cinemas comecem a ter mais público que vocês (e até tem) vão atacar também em nome de concorrência desleal??

Tudo gira às voltas do dinheiro... do lucro, do mesmo vampirismo habitual de quem só vê lucros e aposta pouco em inovação. Meu bem haja à todos os sites que bravamente continuam a lutar contra essa opressão contra a liberdade. Os actores não se queixam, os músicos liberam cada vez mais músicas gratuitas na Net, mas tu velha ressabiada, tomas as dores por inveja.

Vai tomar um chá que isso passa, ou um bom purgante...

Apareçam

Rakel.

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