Natura



É com desprezo que mal dizemos as inconstâncias do tempo, a maneira descabida como passa de um céu azul alegre ao carregado de chumbo e revolto em ventanias. Temos a mania de só pensar em como passar bem pelas águas da chuva e refrescar-nos do calor sufocante, mal tendo tempo e cuidado de reparar nos seus atavios.

Quem pensa que a natureza se vê sem vaidades é porque, com toda a certeza, nunca lhe prestou a atenção devida. Ela, basta esse pronome que tudo explica, enfeita-se conforme as suas vontades e inspirações. Ora doce e quente, benévola e calma, pode de uma hora para outra  ver-se entre fúrias e razões, que desabam em ventanias e tormentas...e depois deixa-se arrastar por melancolias e nas lágrimas frias de uma chuva fria.

Quem se deixa seduzir pelos seus encantos, quem procura as suas diferentes cores e humores, com a persistência calada de quem a namora ao longe, que lhe procura um olhar ou o riso solto na erva dançante ao vento, guarda para si esses momentos únicos. São nos detalhes e cores que o atento enamorado guarda as mais belas poses dadas pela displicente e vistosa natureza.

É o belo colar de contas cristalinas feitas do orvalho ou chuva fina, entre fios de seda feitos pela tecelã natural do mundo, que enfeita o seu colo generoso e farto.



São nas cores do teu céu, tal como olhos, que o atento espectador vê como a pouco e pouco passas de uma calma aparente para a fúria incontida. Quando se vê  e nesses teus olhos que tudo deixam ver, como  saturas-te, amuas e revoltas-te.


E deitas tantas lágrimas frias e furiosas, temperamental nos teus domínios de vida, que quando te dás conta de que tanto desacordo e desdita são meros caprichos, passa-te com a mesma rapidez com que começas, pões um sorriso nos olhos, ainda turvados de águas de chuva e prometes que já te passaram as raivas.


Pões-te nua...mas teu corpo garrido cativa a nossa atenção...não tens reparos com as tuas estações e nunca te deixas ficar sem um enfeite que seja.


Tão opulenta na graciosa simplicidade na altura de ser fecundada e prolífera, deixa-se amanhar e semeada e cuidada, deixa pequenos avisos soltos, como bilhetes garridos da sua vontade.


...és tão linda, que quem te presta atenção apaixona-se de imediato. Silenciosamente e para sempre.

...este post, mais do que tudo é para o Zé Freitas, o meu amigo de longa data que, com uma paciência infinita, com uma certa obsessão, persegue os encantos da natureza. Ele sempre deixa-me ficar com as fotos que tira. Aprecio muitas delas, porque vejo em cada uma...algo, um detalhe ou sensação, que somente quem a vê, quem escolhe esse momento consegue entender. Ele escolhe o momento... eu escolho o que ela me diz. Esta é pra ti Zé... e teria imensos posts para escrever com o teu acervo fotográfico. Mas Zé, ainda me deves a tal foto...   ;)


Fotos: José Freitas

Texto: Rakel

Apareçam.

Comentários

  1. ...somos-lhe intrínsecos porque a ela fazemos parte e...livres de a sentir e pertencer (como um contrassenso natural)
    sim..."silenciosamente e para sempre".

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  2. Gabriela, inspirado foi o teu comentário, acrescento apenas que, muitas vezes, nem prestamos a devida atenção que ela realmente merece.

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  3. ...atenção e cuidado.
    Gosto de sentir os elementos naturais e confundir-me com eles, sabes?
    E caminhar, gostas de caminhar em trilhos naturais?
    Maravilhoso!

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  4. Olha, realmente é das coisas que mais gosto, mas gosto principalmente de não ter horário para isso. Das coisas que mais me esmorece o gosto pelo contacto com a natureza é o aglomerado, a hora certa para chegar e voltar, o grupo ruidoso, o caminho que toda gente faz... gosto de me sentar e ficar só sentindo o lugar, não ter que falar, não ter que fazer mais nada senão sentir.

    Caminhar, sentar, sentir, deixar-me dormir um bocado e assistir, silenciosamente como tudo a minha volta é, sem se importar com mais nada senão ser aquilo que sempre foi: simples e fabuloso. :)

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  5. Ah pois, e hoje até corria à chuva!
    Para refrescar as ideias! Às vezes ajuda.

    Bom dia Rakel
    Bom dia leitores

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  6. Anita... se apanhar chuva refresca as ideias eu agora devo ser a mulher mais cool deste planeta. Não tenho feito mais nada do que apanhar molhas!!!

    Boa Noite Anita! :)

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