Meu Momento Nerd Cinéfilo ou Pânico Geral



Há coisas que são sagradas pra mim, há assuntos que custam-me imensamente ver trucidados pela máquina consumista e aparvalhada do showbiz. Cada filme que desencantam para fazer um remake, em cada personagem de banda desenhada mítico que pula pra grande tela... e cada cover de um sucesso antigo, eu tremo nas bases. É que o descaramento é algo sem limites. Admiro um Tarantino que tem a audácia de, em jeito de homenagem, pegar personagens clichés e torna-los únicos nos filmes. Por algum motivo, os filmes dele são de culto.

Agora ir ao cinema e ver filmes até mete medo: até a mamalhuda Katy Perry deu os seus primeiros passos como "actriz". É que a coisa funciona assim: quem canta obrigatoriamente tem que fazer um videoclipe da música que há de "bombar" e cansar as orelhas. Aquilo corre bem, as pessoas gostam de ver no Tubetube e assim, de caras acham-se logo umas Betty Davis e toca de fazer filmes. É assustador... esquecem que nos videos não falam, não representam grande coisa e ficam lá a cantar a letra da música e pouco mais. Mas já se acham actores e actrizes.

O fenómeno actual cinéfilo, na minha opinião, é o filme de produção independente, de baixo custo ou as produções que sejam de qualquer lado, menos dos grandes produtores americanos. Bons filmes latino americanos, bons filmes de produção europeia, bons filmes asiáticos, bons filmes de produção independente. Vale a pena perder algum tempo e debruçar-se sobre esse manancial pouco acarinhado.

Não... a gente já não tem uma Meryl Streep a ter o seu cabelo lavado pelas mãos de um Robert Redford num África Minha, nem um Steve McQueen dirigindo o seu Mustangue pelas ruas de São Francisco feito um louco atrás de um bandido. Desenganem-se de um Indiana Jones, de um Aragon dos anéis. O mundo se reflete nas mãos dos copinhos de leite da moda, rapadinhos, com ainda a indefinição entre menino e homem ou menina e mulher. Tudo cheirando a leite. Meu santo Matrix... o que será de nós??


Estou a ser pessimista? Viajando pelos confins do absurdo mundo dos nerds cinéfilos? Talvez, mas a ganancia mete-me medo, as coisas que são capazes de fazer por uns milhões de bilheteira, uma passadeira vermelha e mais uma estatueta de um eunuco dourado chega a ser assustador.

Tenho uma paixão assolapada pelos filmes antigos, os da primeira metade do século XX, uma Gilda cantando num Night Clube, um torturado James Dean, um apardalado Jerry Lewis, um clássico David Niven  ou o inimitável Charles Chaplin. Encontro encantos nos filmes de baixa produção que metem múmias, meninas que desmaiam e o mocinho aos tiros num filme do "Duke" que nunca perdem o chapéu numa luta e os revolveres nunca ficam sem balas. E de uma hora pra outra o mundo da Sétima Arte foi entregue às ninfetas e ephebos. É desmoralizante. Que nos valha o Bruce Willis no último filme que vi dele: Looper, já bastante maduro mas ainda fazendo jus ao seu título de duro.



E estou nesta paranoia toda de filmes e atemorizada até ao tutano depois de ler isto: o meu filme fetiche vai ter um remake. Mas será que esta gente não vê e respeita as coisas mais sagradas do mundo? Será que não entendem que toda a magia que ronda esse filme , o primeiro da série de The Crow, foi justamente tudo o que aconteceu? Não... claro que não. Era preciso ter lido a banda desenhada da Marvel, era preciso saber de todas as tragédias e esplendores da família Lee.. e era preciso saber que o filme, mais do que um cenário obscuro, num mudo pesado e sem esperança... era uma ode ao amor. E qual será o copinho de leite que vai fazer a personagem torturada, o Eric? Tremo só de pensar...

Olha, vou ali afogar as minhas mágoas em pelo menos 3 latas de cocacola... porque ninguém merece presenciar isto...

Apareçam

Rakel.


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