Sombras Ao Sol ou Light My Fire



Mais de um mês sem ver televisão e garanto, não morri, não me senti ostracizada e nem marginalizada pelo facto de não saber ponta de corno da Gabriela ou da Casa dos Degredos. Felizmente o TDT pifou, mal de mim ter tantos filmes e não aproveitar a onda de "sem TV" e mergulhar de cabeça com filmes antigos ou os mais recentes.

Também deu para colocar a leitura em dia, uns educativos e outros de pura diversão e fantasia, coisa que vai-se perdendo no meio de bocas ácidas de um tipo com nome de esquentador e saindo das altas esferas europeias. O facto de escapar dos jornais televisivos e da cara desses energúmenos  que nos governam... já tomo como umas mini-férias cerebrais. E o meu T-Zero bem precisa desse tantinho de silencio e paz.

Como é óbvio, não sei nada e nem me interessam desejos de consumo alheios (que toda gente os tem, estrambóticos apenas para quem não os deseja) e nem quero saber. Perguntaram-me e nem soube responder, assim como do capítulo da Gabriela ou até quem é o favorito a sair da casa...

Dei uma passada ao de leve pelas notícias dos jornais digitais (embora fique aqui a pensar que o jornal de papel também é digital já que usamos os dedos, pois digito é o nome dado à ponta dos dedos que a gente molha e vira a folha) pois aí eu escolho o que quero ler.. e tem ainda por cima os comentários de cada cidadão com o seu quê de interessante.

Pois então esta notícia da Sol diz que o povo anda murcho, mas murcho mesmo, sem grandes alegrias e tal e coisa em matéria de sexo. Uma das poucas coisas ainda não taxadas pelo governo está aí entregue às urtigas e em ponto morto. Apontam logo o dígito, upsss, o dedo ao trabalho. Se não tem trabalho há o stress e murcha... o vigor. Se tem trabalho, o esforço de garantir a continuidade ou o medo de perde-lo faz murchar na mesma o... viço. Mas atenção... o giro disto tudo são os comentários no livrodatromba. Lá todos os que leem (e nem os conheço) lançam a sua teoria. A grande maioria, direi mesmo uns 90%, são homens... que colocam as culpas nas mulheres. Ok... vamos por partes...

...outro dia, numa sala de espera, folheei uma revista com uma crónica do Rodrigo Guedes de Carvalho sobre o tão falado 50 Sombras de Grey. A sério... ainda não li, mas daquilo que me deu a entender enquanto folheava o livro num hiper... deu-me a impressão que ler o livro do Vishous, personagem da Irmandade da Adaga Negra, dá mais pica do que a relação de uma miúda cheirando a leite e um tipo a armar-se em sabedor que gosta de comer pitas. Comer pitas e parecer "mestre" é fácil... e na escrita da senhora escritora, nem sei se recuei até ao Fanny Hill (diário de uma prostituta no século XIX) ou se os americanos são assim tão miolo mole que achem aquilo estupendo. Eu sei, só folheei, mas não me "pegou". O Jornalista então dizia que, se as mulheres andavam encantadas com um livro como esse... é sinal que na cama as coisas são assim pro lado do pobrezinho. Rotineiro. Sem sal. Sem gozo.

Desde o tão falado livro "que iluminou e deu outro fôlego" às quecas caseiras, vendem-se cordas vegetais como quem vende pão quente, ou algemas e chibatas, mais as lingeries provocantes. Mascarilhas, fantasias feitas a preceito no estilo "nossa senhor bombeiro... use a sua mangueira para apagar o meu fogo" tem povoado a cabeça de muitas mulheres. Daí que deve ter uma data de mulheres prontas para o forrobodó, vestidas a preceito e um bando de senhores mais apegados ao velho estilo "aqui vai disto" e 20 minutos depois está já no cigarrinho. A velha história de mão na anca ser o sinal de "vamos brincar" já não surte efeito nenhum. Subiram a fasquia das exigências...

Li sobre uma senhora em Inglaterra que pediu o divórcio porque o marido não acompanhava o ritmo desejado (também ela uma leitora das 50 Sombras) e não alinhava nas fantasias dela. O tipo deu logo o divórcio e sentiu-se, nas palavras dele, aliviado. Por outro lado, na TV tem aquela propaganda de um tipo sentado no alto de uma árvore com uma desconsolada mulher ao lado. É uma propaganda sobre disfunção eréctil... um mal bem espalhado e pouco enfrentado. Embora muitos homens aleguem que "não há homens impotentes, mas sim, mulheres incompetentes" à mim me parece que, se me permitem, o buraco é mais embaixo.

O buraco a bem ver, será  certamente a pressão exercida; o sair da rotina e do estilo "time que ganha não se mexe" está a cair em desuso. Peso de consciência também ajuda, o tal grilo falante que lá na surdina lhe segreda as cagadas todas e lhe lembra que só está como está por culpa própria. Tirando o facto de que sim, a mente influencia o corpo, tem ainda a pressão do trabalho, a pressão social do sucesso, a pressão da imagem, e depois ser o grande senhor da cambalhota. E trabalhar em e sob pressão nunca beneficiou ninguém. Verdade seja dita, embora os homens adorem uma mulher que goste de sexo... a tomada das rédeas da função começaram a mudar de mãos...e dá-lhes alguma incerteza. E senhores.. quando elas alegam que lhe dói a cabeça é desculpa sim, uma desculpa velha e batida para dizer "estou farta de mais do mesmo". Mas mais vale dizer que lhes dói a cabeça do que dizer que quer algo diferente e levar com um "deixa-te dessas cenas estranhas". Diferente é estranho e mete medo. Parece que já desaprenderam a arte da sedução... ou vêem nisso um voltar atrás no tempo e naquela trabalheira toda. Coisa que valia mesmo a pena investir cada vez mais.

Portanto, depois de ler a notícia, comparando com as vendas das 50 Sombras, da crónica do Rodrigo Guedes de Carvalho e da mudança do corpo social... à mim me parece que, ou os homens começam a fazer up grade... ou o caldo entorna-se. E digo isso aos que tem uma relação de longa duração. Daquelas que caem na rotina. No sem sal. Sem graça. Mais do mesmo.

... e anda praí uma data de mulheres leitoras das 50 Sombras a cantar o velho tema dos Doors...Light My Fire..

Apareçam

Rakel.


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