Só Pra Quem Entende...



Eu, nas minhas pesquisas e passeatas pela net, vi esta ideia aí de cima para fazer uma cama de gato e achei gira e útil. Pensei cá com os meus botões e zíperes que seria uma forma interessante de aproveitar aquela camisola de gola alta que o meu gato estragou com mimos...a mais pura das verdades.

Todas as manhãs passo pelo mesmo ritual: acordar, casa de banho e... vestir me.  Essa parte levaria menos tempo se o gato não se lembrasse de deitar-se justamente em cima da roupa escolhida para o dia rebolasse sobre ela e com aqueles olhões arregalados e doces a pedir mimo. Pedir não, expliquei-me mal... exige mimo. Mal me visto e tento despachar-me, num salto já está em cima dos meus ombros a ronronar e a esfregar-se todo na minha cara, se ficasse quieto seria uma bela estola de pele viva, mas o tipo crava as unhas  nos meus ombros, fura e puxa fios da camisola e esbanja carinho... e uma pessoa ainda sem sapatos e descabelada... ai as horas, saindo no atraso...

Se ainda tem alguém em casa... deixo o gato entregue e escapo-me pra dar de caras na porta do prédio com a Morgana... a gata que vive há uns 8 anos ali a porta. O mesmo ritual de barriga para cima, olhos arregalados e doces, miados mimentos e não consigo passar sem deixar um bocado de festinhas e umas palavritas. Mal desço a rua já está a espera uma gata malhada com os seus dois filhotes, mais mimo, ração e já nem olho para o relógio. Eu podia passar reto e nem ligar nenhuma, mas não consigo. Não é porque os gatos são fofos, nem aqueles olhos enormes me cativam... é o raio da personalidade deles que me atrai.

Se eu fizesse essa caminha apara o meu gatuxo lá de casa, fatalmente ele iria dormir num local mais inesperado, porque gato que se prese não faz o esperado, mas sim aquilo que lhe dá na real gana e tem uma veia do contra que muito me atrai.



Só quem tem gato em casa entende: podem comprar os brinquedos todos que virem, ratos de peluche, bichinhos fofos, bolas com guizos...ele brinca um bocado e enjoa, ou nem brinca. Mas dê-lhe uma caixa de papelão, uma caixa de sapatos ou até de cereais... e temos um gato satisfeito a entrar e sair da caixa ou então no divertido proposito de tentar enfiar o corpanzil dentro de uma acanhada e fina caixa de cereais. Esfanicam tudo com as unhas e depois brincam com os bocados como se fosse a coisa mais divertida do mundo. A sala fica uma... Bósnia, para ser delicada  :)



Hora de dormir?? Podem comprar aquelas caminhas todas fofas, as que imitam casinhas, mantinhas (como eu comprei) para aconchegar o bichinho... mas qual quê. Se houver o sítio mais improvável será esse que o gato há de escolher. Fazem verdadeiras posições de ioga e lá se deixam ficar a dormir como se fosse o lugar mais confortável do mundo...




A gata aí de cima é da minha irmã, a Frederica, perita em esfanicar plantas, sacos plásticos e de dormir em locais impossíveis. O vaso ao lado da caixa... já não existe porque sofreu um pequeno acidente entre tantos que todas as plantas e vasos na casa da minha irmã sofrem. E a minha irmã, com a síndroma de fadinha do lar, continua a colocar vasos com flores, paninhos bordados e toda essa infinidade de apetrechos decorativos que aos olhos da Frederica e do Miguel (o outro gato) são vistos como um parquinho de diversões.




A curiosidade destes bichinhos é fantástica assim como a capacidade de dormir praí umas 20 horas por dia. Dirão que talvez será pouco o tempo que estão acordados, mas garanto, eles sabem fazer render essas 4 pequenas horas do dia. Tem uma personalidade vincada, são afetuosos e chegam a ser ciumentos. O meu pelo menos é, daqueles que quando vê que ninguém lhe dá atenção começa a subir pelas cortinas ou então, num pulo se coloca em cima da porta e esgravata a madeira lá em cima. Só para chamar a atenção. Ou quando estamos a tentar escrever alguma coisa, sobe para o colo e coloca o cabeção bem na frente da nossa cara, ou passeia-se em cima da secretária, puramente nas tintas com os impressos, as contas ou com os documentos. Escrever a caneta qualquer coisa?? É levar patadas na ponta da caneta que dança no papel ou então o ar curioso dele a ver fugir o papel para dentro da impressora e depois o ar espantado dele ao dar-se conta que sai pelo outro lado.

É a companhia de sempre que acompanha o movimento do braço a descer e subir o pano pelos azulejos, da esfregona a lavar o chão e depois... inspecionar tudo deixando pegadas no chão acabado de lavar e ainda por secar. É quem se coloca no colo da gente e se aconchega num suspiro longo e se deixa dormir, fazendo companhia com o quentinho da lareira, um livro ou jogando conversa fora ao telefone. Digo isto tudo porque...

De uns tempos para cá, por força da tal da crise, muitos animais de estimação são abandonados, um facto que venho todos os dias a testemunhar.  Custa-me a crer e entender que uma pessoa consiga abandonar um animal que fez parte da sua vida. Será de mim talvez, que não consiga ficar indiferente perante uns olhos doces e a meiguice de ver a pedir carinho e um bocadinho de comida. Retorce-me cá dentro o coração, que tanta gente com espaço e possibilidades não tenha coragem para pegar um desses bichos e dar um lar. Não tenho tempo, dirão alguns, há sempre tempo, arranja-se tempo. Toda gente se enternece quando lê sobre animais que ficam a espera dos donos que já morreram, que acham giro essa forma de afecto, e porque não dizer, de amor que os animais nos oferecem.

Desculpem-me se vou ser um bocado franca demais: mas uma pessoa que não consiga dar afecto, atenção e cuidados à um animal, tão pouco será capaz de fazer o mesmo por uma pessoa. Geralmente, uma pessoa que não consegue fazer laços com animais, também não o faz com pessoas. É preciso dar de si algo, querer criar vínculos. Quanta gente por aí não vê nos filhos, nos pais ou avós já velhotes um obstáculo e até mesmo um incomodo? Não tenho vida para ter animais... o mais certo é não ter nada dentro pra dar seja para um animal ou pessoa.

Os canis e gatis estão abarrotados de animais lindos, meigos e prontos para serem adoptados. Esses mesmo animais poderiam oferecer aquilo que nem toda gente é capaz de oferecer, um carinho incondicional e uma constância assombrosa. Esqueçam essa estória do pedigree, das raças nobres e cãezitos de levar dentro da mala. Todos os dias passa aqui em frente do meu estaminé um tipo de bicicleta com o cão correndo com ele. Um vira-lata adorável de olhos meigos e cheio de genica. Amigo pra tudo...
Os cães e gatos colocados em abrigos, canis e gatis, passados uns tempos, se não são adoptados.. são abatidos. E quem sabe, lá no meio de tantos, pode estar um grande amigo de todas as horas e que só precisa de um bocado de atenção, carinho e comida. Não exigem muito mais do que isso. É só precisam que sejam capazes de lhes dar isso...

Apareçam

Rakel.

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