Outro dia, andava cá eu a pensar na questão simples e bem conhecida que toca na maior parte dos seres humanos, a questão da conquista da glória e fama. Tá certo que todos desejamos o devido reconhecimento das nossas capacidades e das nossas acções. Gostamos daquela palmadinha nas costas da verdadeira certeza que fizemos bem e que fomos capazes.
Por isso mesmo, e como tenho a cabeça mesmo meio torta, fico imaginando uma data de cenários interessantes dentro do mundo da publicidade e de todas as pessoas que, na tentativa de alcançar mais do que uns poucos segundos de visibilidade, quer a fama e a glória. É aquela canseira de fila de casting, de testes e mais testes para conseguir uma perninha num anúncio qualquer. Até me pergunto de tantas mocitas que batalham nesse meio, as que sonham em ser um dia a modelo de uma prestigiada marca de perfumes de uma maison de grande projecção... e que começam de baixo, no verdeiro sentido da palavra...
Sei lá, já vi propaganda de comprimido para prisão de ventre para depois parar a soltura, salta para a herpes labial e vamos numa de pomada pra clamídea... e os gazes também com aquele peixe balão giro demais. tem aquela com os pés cascusdos e a menina que coloca o tampão no umbigo... só pode, porque da maneira que ela o faz tão rápido e tão fácil de pé...É verdade, tudo isso faz parte da nossa vida, dessa maravilha que é o nosso corpo e as suas habituais birras. Porque todo mundo tem os mesmo orifícios e sofrem dos mesmos males. Acreditem, a Rainha da Inglaterra também dá o seu peidinho, real será ele, mas certamente não terá o odor das rosas inglesas. O Papa também pode sofrer muito com as hemorroidas, como qualquer mortal que vagueie por este mundo.
Mas imagino muitas vezes, conversas de cabeleireiro onde se ouvem os cochichos de algumas línguas viperinas: "Olha aquela... a que faz o anúncio da azia" ou "é aquela do anúncio do penso que absorve o odor". E tanto trabalho tiveram os pais da rapariga para escolher o nome da pimpolha ao nascer (uma provável Katia Vanessa), e vai-se a ver e pespega-lhe a fama da menina da clamídea... Embora até aqui vou descrevendo isto tudo de forma jocosa, há o outro lado da fama. Aquela que se ganha com a forma como o indivíduo se movimenta no mundo.
À mim, o que mete mesmo impressão é a forma como as pessoas tem uma memoria tão tacanhamente curta... hoje ouvi a maior cavalice que poderia ter ouvido, ao saber que alguém no seu juízo perfeito, ainda acha melhor voltar a ter um José Sócrates do que um Pedro Coelho. Olha, sinceramente, eu podia ter passado sem ouvir isso. Perdeu, se calhar foram os ares de Paris que lhe levaram embora, a fama que tão bem soube cimentar nas duas vezes que "trabalhou" pelo país. Engraçada a forma como a fama muda de face e se torna limpa desde que o indivíduo tenha a clareza de espírito de sair de cena por uns tempos.
Por outro lado, há aquela fama medonha feita de uma vivência marialva- suburbana, do engatatão, daquele que "pega todas" e que invariavelmente a força de pegar tantas fica sem nenhuma. Ou a da língua de trapos que não consegue manter um segredo ou uma fofoca na boca por mais de 5 minutos. Do agarradinho ao dinheiro que nem bom dia dá... só empresta. Da sonsa carinha de anjo, mas pior que o capeta na sua verdadeira personalidade. A maluca que tem mais fama que proveito, o moralista que de dedo esticado aponta as falhas da sociedade, mas é um pervertido no armário. Do narcisista, que esquece que o tempo passa e a lei da gravidade é uma merda. Ou o alienado que embora noutra dimensão vive feliz no mundinho dele... são tantos que na fama aparenta menos do que verdadeiramente são.
Cá pra mim a glória é um assunto mais pessoal... há dias que ando em "estado de glória" por coisas absolutamente minhas, e mesmo assim, mesmo sem a fama atrelada, me sinto nos píncaros.
Perguntaram-me hoje se não gostava de ser famosa, tapete vermelho e essas coisas todas. Definitivamente não. Não me vejo nesse sentido, nem nunca almejei esse tipo de atenção. Mas a glória de uma vitória, a sensação de fogo de artifício rebentando por dentro... ahhh isso assino em baixo e carimbo por cima.
Fama é uma senhora perversa que tem por hábito de só mostrar um lado da historia, gruda tanto e permanece por tanto tempo que fatalmente deixa sempre a indelével lembrança do que na verdade não é.
E tudo aquilo que se faz por fama e glória sem pensar bem, essa visibilidade e essa necessidade de exposição, pode levar à que muitos passem depois pelo mesmo que o ciclista destronado Lance Armstrong que perdeu a glória e ficou com a fama de impostor...
... e era escusado né?
Apareçam
Rakel.
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