"Oh, pilot of the storm who leaves no trace, like thoughts inside a dream
Heed the path that led me to that place, yellow desert stream
My Shangri-La beneath the summer moon, I will return again
Sure as the dust that floats high in June, when movin' through Kashmir.
Oh, father of the four winds, fill my sails, across the sea of years
With no provision but an open face, along the straits of fear
Ohh.
When I'm on, when I'm on my way, yeah
When I see, when I see the way, you stay-yeah..."
Kashmir - Led Zeppelin
Há umas décadas atrás, teria eu praí uns 15 anos, conheci um rapaz que aos poucos e por uma série de coincidências se tornou meu amigo. Mas amigo daqueles que realmente estão presentes nas horas menos boas e que depois aparecem nas horas menos esperadas. Porque conhecidos tinha aos pontapés, de todos os dias e que se escapavam logo no momento de enrascada. Fosse o caso de ser mais velho do que eu, uns 6 anos, ou pelo facto de andar na faculdade, lia tanto quanto eu e tinha o mesmo amor pela música, embora me criticasse sempre o meu péssimo gosto na área. Fervoroso fã dos Led Zeppelin , o Ketum defendia até a última migalha a banda de hard rock enquanto eu andava mais inclinada para o rock sinfónico, e falava do comercialismo dentro da música. O tempo passou depressa e em coisa de ano e meio deixei o Brasil com duas cassetes que muito me significam: uma, a compilação de grandes bandas fora do circuito comercial e dada por um grupo de amigos e amigas e outra do Ketum, com as melhores do Led Zeppelin. Ele na altura me dizia que Kashmir era uma música especial... e na minha parvalhice de miúda, não alcancei o significado.
Foi uma época mesmo detonada em termos musicais, já que o Bonahm (baterista dos Led Zeppelin) tinha morrido, John Lennon tinha levado um tiro e muitas bandas estavam retiradas já que o fenómeno Disco tinha invadindo tudo. Houve ali nos anos seguintes uma clara mudança no panorama musical, já que o Punk tomava força e o o movimento New Romantic levantava voo com os Duran Duran. Ao mesmo tempo U2, Simple Mind e afins faziam músicas balançado entre o comercial e de opinião. Assisti com alguma surpresas as mudanças do meio musical, nas suas posturas e diferentes linguagens. Aqui dei de caras com os Xutos, UHF, GNR e o fim do Tantra, Tarântulas e depois a enxurrada onde entrou o Heróis do Mar. A queda dos Sex Pistols deu lugar às bandas pós-punk que ainda hoje vão fazendo pela música.
Velhos amigos, grandes amigos associados às músicas e aos gostos variados de cada um, e sem dar bem por isso,olhamos para trás e damos conta de como o tempo passou depressa... o tempo e a distancia fez que uns estivessem possibilitados de estarem presentes outros permanecem presentes apenas com a música. Como é óbvio já não tenho 15 anos, a música tomou outros caminhos e as suas mensagens começaram a fazer mais significado.
Caiu-me nas mãos o Celebration Day dos Led Zeppelin, o DVD da banda que se reuniu para fazer um gostinho ao palco e aos fãs.... que tal como os Xutos hoje no Campo Pequeno juntam os antigos fãs e os novos. Boa música atravessa gerações e se perpetua nas vivências de quem as toca. Os que tiveram que, quase uma aura divina, continuam a encantar e a fazer parte das bases daqueles que dizem gostar de boa música. Olhei para as fotos e vi como o tempo passou e marcou cada um deles, um Jimmy Page de cabelo todo branco, Um Robert Plant com a cara bem marcada e a placides de um John Paul Jones tomada pelo tempo... Mas ouvir novamente Kashmir, ao vivo, num concerto que eu daria o braço esquerdo mais uns tantos dedos do pé direito para estar lá... ouvi-os de olhos fechados... e voei atrás no tempo.
Voei atrás no tempo quando o meu amigo abria mão do seu sábado para ir me dar uma força depois de mais uma reviravolta na vida, que vinha lá do Cambuci até ao meu bairro e ficava ali ouvindo as minhas agruras e dizendo apenas as palavras de conforto que eu precisava. Das discussões que começavam a porta da minha casa e que esticavam-se até ele chegar em casa dele e me telefonar a dizer que eu não tinha razão, mas sim ele. :) De como embirrava com ele por roer as unhas e como ele ficou abobado olhando para mim enquanto eu fazia as malas para sair do país. Olhava para as malas, para os meus pais e abanava a cabeça. Tal como eu, ele sabia como as decisões que muitas vezes os pais tomam sem pedir opinião aos filhos podem ser brutais e injustas. Durante uns tempos aqui em Portugal ainda consegui conversar algumas vezes com ele com o velho truque da cabine pública com o compartimento cheio de moedas... uma coisa só possível, no tempo em que ninguém tinha telemóvel. Mas perdi o contato do Ketum.
Aos poucos e pontualmente, os grandes do imaginário musical vão reaparecendo e voltando às lides, já que o cansaço da música actual leva a que se procure das fontes mais importantes um novo recomeço.
Confesso que me tornei fã dos Led não pela insistência do meu amigo, mas pelo passar da idade e de compreender melhor a música e as letras. Os Xutos, bem diferentes do começo, todos eles já bem cotas, continuam a encher pavilhões e todo espaço possível onde se apresente. Bandas surgem todos os dias e fazem o seu sucesso de um tema e depois pufff... desaparecem tal e qual apareceram. Novos, poucos mas bons amigos surgiram e me apresentaram à novas músicas, novos sons e à cada som refaço da mesma forma o meu espaço/tempo. O que é bom fica... e dura.
Dedico este post ao Ketum, melhor dizendo, ao Ricardo de Lucca, hoje provavelmente será um advogado na casa dos 50 anos. Fã dos Led Zeppelin, que adorava dormir numa rede e que o seu grande sonho era ir viver na Bahia, mesmo sendo de uma tradicional família italiana paulistana. Pra ti meu amigo, que nem sei por onde andas, se finalmente casaste com a Sônia, se estás em São Paulo ou não, fica este post em gesto de amizade para ti, daquela miúda lá do Tatuapé que um dia veio para Portugal.
Apareçam
Rakel.
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