Brave Heart a Portuguesa ou Uma Cena Insólita do Dirty Harry



Se o traje não faz o monge, será então a força da coragem que faz um coração de leão, e não, não vou falar da bola e nem dos enguiços sportinguistas. É mesmo da façanha quase irrealista de ser o que queremos, de poder sem qualquer tipo de entrave desafiar o sistema.
Poderão então pensar que o cavaleiro na reluzente armadura, montado no corcel de franjola longa, empunhando a lança contra gigantes e dragões... tudo vence. Tudo? Não é bem assim...
Tirando as feiras medievais, sair nestes preparos a rua, seria o mesmo que um convite para a TVI fazer uma reportagem e fazer durar o tema a semana toda. Por outro lado, seria também um convite para uma estada num hospital, mais concretamente na ala psiquiátrica e tomar uns drunfos para acalmar o ego.

Daí que, salta-me logo a vista quando uma pessoa resolve saltar as cercas do sistema e faz o que bem lhe apetece. Seja pela coragem raspando ao de leve a insanidade inofensiva ou pelo simples  facto de que se sentem mais aconchegados no mundinho autista e perfeito em que vivem. Lá tudo faz sentido e podem ser quem bem lhes dá na bolha. Não me compete julgar, mas aprecio a coragem.

Ontem, quando saí para almoçar, dei de caras com um  momento único, que ainda agora me chateio por não ter registado em forma de foto... Um senhor passa por mim, vestido com poncho,calças de ganga ruças,  chapéu e botas de vaqueiro e olhar distante de um foragido e mau da fita, presa na boca, uma cigarrilha fedorenta, mas com uma pose de Clint Eastwood torrejano de admirar. Pensando bem, ontem foi um dia fora do comum, daqueles dias que pra mim, a Lei de Murphy vem ao cubo e sempre a cilindrar o ambiente. Admirei a coragem do senhor que, com muito garbo deu o seu contributo para o dia insólito e que estava-se nas tintas para a opinião geral da população.



Por outro lado, adoraria vê-lo entrar numa sucursal do Santander Totta e ser corrido de lá... ou então, como a minha torta imaginação compôs, dele sacar de debaixo do poncho um revolver e virar para o gerente e dizer: "Do you feel lucky today??? Do ya???Well... Make my day... punk!!!" Ok, ando a misturar filmes, mas na minha cabeça tá um filmaço. :)  Não é só por ser absurda a situação de um senhor ser atendido fora do banco por estar mal vestido... é que agora fico a pensar se terei que alugar um vestido de noite pra levantar o meu salário no banco... ou se tenho que fazer a manicure... e gente que tem tatuagens a vista??? Também tem que ser atendidos fora do banco??? Mundinho de aparências de merda...

Temos no Governo deste país muitos calhordas muito bem vestidos, fatinho a maneira, gravata de seda e meia a condizer, cabelinho arranjado e relógio de marca, mais o popó de 140 mil euros... tudo pago do bolso do sacrificado e  piegas povo português. Esses sim terão sempre as portas abertas dos bancos, claro, amigalhaços  e com cadeirinha no parlamento, tantos que trabalham ou tem influências nos bancos do costume...



Talvez por isso mesmo, por essa corja solta e sem vergonha nenhuma, sinta que a maior coragem, não foi a maneira que este senhor vestido ao Parlamento... isso são detalhes. Mas o que me faz inclinar respeitosamente é o facto de ter dito alto e bom som "A Democracia é uma ilusão!". Claro está que mais tarde foi tirado da galeria onde estava, mas tendo tempo ainda de atirar para o chão o Cartão de Cidadão. Tanto se me dá que leve saia ou calção... o que realmente importa é que, no lugar onde se discute a vida e o futuro da nação, seja o povo o menos interventor e apenas lhe cabe o papel de subserviente. Come e cala... e agora ponham-se a pau, que a polícia com mais 10,8%  vai baixar a porrada solta....com a patrocínio do Governo  e com o a vergonhosa frase "pelo bem da democracia".

E democraticamente falando... acordai...e tirai da naftalina o fatinho dos casamentos e batizados se quereis levantar um cheque no banco... porque mal ataviados... em locais de determinada banca deste país pós 25 de Abril, não entrareis.


Apareçam

Rakel.

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